A
anomalia de temperatura da superfície do mar (TSM) na última semana no Pacífico
Central Equatorial (região Niño 3.4) alcançou 0,5ºC, exatamente o limite
inferior do patamar de El Niño (australianos consideram 0,8ºC). Já era um dado
esperado e é a maior anomalia de TSM nesta área do Pacífico desde dezembro de
2012. Por meses, desde o segundo semestre do ano passado a MetSul Meteorologia vinha
antecipando aos seus clientes no agronegócios e outras áreas afetas ao clima
como a construção civil e indústria que o Pacífico deveria passar por um forte
aquecimento no outono de 2014 e que a possibilidade de um evento de El Niño se
instalar neste ano era muito factível. O fato da anomalia de TSM na região Niño
3.4 ter atingido patamar de El Niño ainda não determina que haja um evento
maduro do fenômeno. Estas anomalias terão que se manter nos próximos meses em
0,5ºC ou superior. Em 2012, o Pacífico Central chegou a atingir anomalias consistentes
com El Niño, mas não houve um evento do fenômeno eis que logo após as águas se
resfriaram e não mantiveram o padrão de aquecimento.
Prepare-se
para ouvi muito ainda neste ano sobre El Niño. A chance de se confirmar um
episódio do fenômeno nos próximos meses é muito alta, conforme a análise da
MetSul e dos principais centros meteorológicos mundiais. Todos os dados
indicam que agora seria diferente de 2012. O Pacífico continuaria a aquecer nas
próximas semanas até se configurar um episódio Niño ao menos moderado e que
poderia ser forte no segundo semestre. Um dos motivos para se especular uma
maior força de um possível El Niño maduro nos próximos meses é enorme
quantidade de água mais quente do que a média no fundo do mar que avançou de
Oeste para Leste mediante o que chama de Onda Kelvin e que agora começa a
alcançar a superfície (upwelling).
São
crescentes os temores em alguns setores na comunidade meteorológica mundial de
um episódio intenso (Super El Niño) pelas anomalias de temperatura muito altas
em águas abaixo da superfície e numa extensa área do Pacífico. Manchetes como
“El Niño monstro” já frequentam o noticiário nos Estados Unidos. No último
Super El Niño de 1997/1998, conforme a ONU, 20 mil pessoas morreram ao redor do
mundo com prejuízos de 97 bilhões de dólares. A maioria dos modelos climáticos
projeta um evento ao menos fraco a moderado e algumas simulações sinalizam um
episódio moderado a forte. São poucas a sinalizar um Super El Niño. Veja abaixo
a projeção de 6 modelos climáticos rodados nos Estados Unidos e no Canadá para
as anomalias de TSM em julho, e ainda a última saída do modelo europeu para o
trimestre de inverno, igualmente apontando El Niño.
Alguns cientistas já defendem que os alertas a esta hora teriam que ser mais duros para forçar autoridades ao redor do mundo a tomar medidas de prevenção pelo que pode vir pela frente. Caso de Axel Timmermann da Universidade do Havaí, para quem as previsões de El Niño têm sido conservadoras.
“Estou a escutar a escutar
que não é para criar pânico”, disse. Nosso entendimento na MetSul, porém, é sim
de cautela n quanto à ideia de Super El Niño. Estes episódios muito intensos se
deram em 1940/1941, 1982/1983 e 1997/1998, os três em períodos de PDO positiva.
Hoje, a fase da Oscilação Decadal do Pacífico é negativa. Nas fases negativas
houve eventos até fortes, mas não de enorme potência como de 82/83 e 97/98.
Inúmeras
análises foram publicadas nas últimas semanas nos Estados Unidos desenhando
semelhanças entre 1997 (ano do começo do Super El Niño de 1997/1998) e 2014
para dizer que este El Niño será excepcionalmente forte. Será ? Existem sim
grandes diferenças. Nesta altura do ano em 1997, o chamado Índice de Oscilação
do Sul estava em valores muito negativos de até -20 (condizentes com El Niño
forte). Hoje, a SOI média dos últimos 30 dias é de +2, comum a um quadro de
neutralidade.
Aqui no
Rio Grande do Sul, a maior ameaça histórica do El Niño é excesso de chuva com
cheias de rios, deslizamentos e enchentes, notadamente no Oeste, Centro e Norte
do Estado. Em regra, quando de um episódio de El Niño, as precipitações
aumentam muito no inverno e na primavera do ano de instalação do evento
(primeiro) e voltam a apresentar extremos no outono do ano seguinte. Por isso,
a nossa preocupação na MetSul sobre o segundo semestre deste ano que pode vir a
ser de eventos de chuva excessiva e transtornos. É o que temos alertado na
mídia desde o começo do ano e clientes desde 2013.
A
previsão de El Niño inglesa para a Copa que não é padrão FIFA
O El Niño é algo para ser levado a
sério. Muito a sério. Traz fenômenos extremos ao redor do mundo com altos
custos humanos, socais e econômicos. Inclusive para o Brasil. Ocorre que, assim
como em episódios de fenômeno no passado, sempre que o El Niño passa a frequentar
a mídia surgem afirmações esdrúxulas de seus impactos. As mais variadas e
algumas ridículas. E mal o Pacífico começa a apresentar sinais do fenômeno e já
aparecem as primeiras teses absurdas. A rede BBC e alguns jornais ingleses como
o The Independent publicam matérias com base numa universidade local dizendo
que o El Niño – acredite – pode fazer a Inglaterra perder a Copa do Mundo, eis
que os jogadores estão desacostumados com calor intenso.
A tese dos pesquisadores é de que o
El Niño impactará o Brasil já agora em junho e julho. Os jornalistas citam em
suas matérias climatologistas da Universidade de Reading, para quem o aumento
da temperatura em razão do El Niño pode levar a condições de jogo “insuportáveis”
(unberable) no Brasil. Não faria diferença em Manaus (já quente), segundo os
cientistas ingleses, mas deixaria o tempo muito mais seco e quente em São Paulo
e Belo Horizonte. Chegam a cogitar que a temperatura atinja valores perto de
40ºC na capitais mineira e paulista, tal como os ingleses enfrentaram no México
em 70.
“Pateticamente absurdo”, comentou o
meteorologista Luiz Fernando Nachtigall sobre os jogos da Inglaterra ocorrerem
com temperatura perto de 40ºC em São Paulo ou Belo Horizonte. “Nem no verão as
duas cidades registram temperatura neste patamar que está muito acima dos
recordes históricos”, diz Nachtigall. Observa que no El Niño de 2009 junho teve
até temperatura abaixo da média no Sudeste, diferentemente de 2002 que foi de
temperatura muito acima da média, mas jamais em valores próximos de 40ºC. No
quente junho de 2002, a maior máxima em junho no Mirante do Santana (Inmet), em
São Paulo, foi de 28,4ºC. Em julho de 29,5ºC. Já em Belo Horizonte, a maior
máxima foi de 28ºC em junho e de 28,8ºC em julho.
“A possibilidade do aquecimento em
curso no Pacifico contribuir para dias e períodos mais quentes que a média
durante a Copa do Mundo é real no Brasil Central, sobretudo em julho, mas as
máximas seriam na maioria dos dias agradáveis e incapazes de custar o torneio a
qualquer seleção”, enfatiza Nachtigall. Desconhecimento inglês ou vacina? (sandcarioca)
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