A correlação entre
densidade demográfica e déficit ambiental é direta: quanto maior a densidade,
maior é o déficit. Ou dito de outra forma: quanto maior a densidade demográfica
menor é o superávit ambiental.
A densidade
demográfica é medida dividindo-se a população pela extensão do território de um
país (ou região, etc). O mundo tinha uma densidade demográfica de 45 hab/km2
no ano 2000. Os dados utilizados aqui são da Divisão de População das Nações
Unidas, revisão 2012.
O déficit ecológico
apresentado neste artigo refere-se à diferença da pegada ecológica per capita e
a biocapacidade per capita de um país, com dados de 2008, segundo a FootPrint
Network. Em geral, os países com superávit ambiental são aqueles com baixa
densidade demográfica e os países com alto déficit ambiental possuem alta
densidade de pessoas por km2.
Tomemos como exemplo
os Estados Unidos da América (EUA) e o Canadá que são dois países da América do
Norte com aproximadamente a mesma dimensão territorial, mas com densidades
demográficas muito diferentes.
Os EUA possuíam, em
2008, uma população de 305 milhões de habitantes, 33 habitantes por km2,
uma pegada ecológica per capita de 7,19 hectares globais (gha) e uma
biocapacidade per capita de 3,86 gha. A biocapacidade total do país era de
1.177.000.000 gha (305 milhões vezes 3,86). Os EUA possuíam um déficit
ambiental de 86%, ou seja, consumiam 86% mais do que a biocapacidade do país.
No total os EUA consumiam 10% da biocapacidade da Terra. Se toda a população
mundial adotasse o mesmo padrão dos EUA seriam necessários a existência de 4
Planetas.
O Canadá possuía, em
2008, uma população de 33,3 milhões de habitantes, 3 hab/ km2, uma
pegada ecológica per capita de 6,43 hectares globais (gha) e uma biocapacidade
per capita de 14,92 gha. A biocapacidade total do país era de 496.836.000 gha
(33,3 milhões vezes 14,92). O Canadá possuía um superávit ambiental de 132%, ou
seja, consumia menos do que a biocapacidade do país. No total o Canadá consumia
quase 5% da biocapacidade da Terra. Se toda a população mundial adotasse o
mesmo padrão dos canadenses seriam necessários a existência de 3,5 Planetas.
Mas qual é a razão
básica para que estes dois países vizinhos com aproximadamente o mesmo padrão
de consumo e produção possuam resultados tão dispares quanto ao déficit ou
superávit ambiental?
A resposta está na
densidade demográfica.
Se EUA e Canadá
tivessem a mesma população de 160 milhões de habitantes (e uma densidade
demográfica em torno de 15 hab/ km2) a situação ambiental se
inverteria, pois os EUA, mesmo com alta pegada ecológica per capita, passariam
a ter superávit, enquanto o Canadá passaria a ter déficit. Vejamos os números.
Se a população dos
EUA decrescesse para 160 milhões de habitantes a biocapacidade per capita
subiria para 7,36 gha. Portanto, mesmo mantendo a pegada ecológica de 7,19 gha
haveria um pequeno superávit ambiental.
Se a população do
Canadá aumentasse para 160 milhões de habitantes a biocapacidade per capita
cairia para 3,10 gha. Portanto, mantendo a pegada ecológica de 6,43 gha haveria
um grande déficit ambiental. Isto quer dizer que a densidade demográfica
importa e não pode ser desconsiderado na análise ambiental. Tem termos globais
é importante estabilizar a densidade demográfica mundial.
Nas discussões sobre
os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos na Conferência Rio
+ 20, a rede (“Top-level United Nations knowledge network) instituída sob os
auspícios do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, propôs uma agenda de ação
para apoiar os esforços globais para alcançar o desenvolvimento sustentável
durante o período de 2015-2030. No item 2 está proposto:
“Alcançar o
desenvolvimento dentro dos limites das fronteiras planetárias: todos os países
têm o direito ao desenvolvimento que respeite as fronteiras planetárias,
garanta padrões de produção e consumo sustentáveis e ajude a estabilizar o
tamanho da população global até meados do atual século”.
A questão da
estabilização da população mundial (e consequentemente a estabilização da
densidade demográfica) já havia sido proposta na CIPD do Cairo, em 1994. Mas
agora existe uma proposta concreta, com data, para que esta estabilização
ocorra até 2050. Não é uma tarefa impossível, pois basta a taxa de fecundidade
total (TFT) da população mundial cair do atual patamar de 2,5 filhos para
mulher para 2,1 filhos por mulher. A densidade demográfica mundial era de 19
hab/ km2 em 1950 e passou para 51 hab/ km2 em 2010, podendo se
estabilizar em 70 hab/ km2 em 2050.
Estabilizar a
densidade demográfica é um primeiro passo para reduzir e reverter a depleção
dos ecossistemas e da biodiversidade. A diminuição da densidade seria um passo
adiante. Mas não basta ter menos gente por quilômetro quadrado, pois numa
perspectiva ecocêntrica, seria preciso mudar o padrão de produção e consumo da
população, diminuindo a quantidade de mercadorias de luxo e o acúmulo de lixo,
abrindo espaço para o crescimento das florestas e para a livre manifestação da
vida selvagem. (ecodebate)
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