Brasil tem condições de chegar ao desmatamento zero, diz
secretário
Preservação do meio ambiente
Carlos Nobre destaca também viabilidade de o País contribuir
para diminuição das emissões de gases de efeito estufa
Em entrevista a programa televisivo, o secretário de Políticas e Programas de
Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI), Carlos Nobre, destacou a viabilidade de o País reduzir ainda mais o
desmatamento e contribuir para a diminuição das emissões de gases de efeito
estufa. “Há condições plenas de chegarmos ao desmatamento zero”, afirmou o
climatologista.
Na conversa com o jornalista José Roberto de Toledo, no
programa A Notícia da Rede TV, nesta semana, Nobre lembrou que o País tem, cada
vez mais, se aproximado da meta estabelecida pelo governo de reduzir os
desmatamentos na Amazônia para 3.600 km2 por ano até 2020.
“O Brasil iniciou com muito sucesso uma política pública de
redução do desmatamento. Nós saímos de 27 mil km2, de 2004 para
2005, desmatados na Amazônia e numa área grande do Cerrado. Nos últimos anos,
ficamos em torno de 5 mil quilômetros quadrados e o esforço é ainda maior”,
disse o cientista ao ressaltar a redução de 80% dos desflorestamentos no
período entre 2008 e 2010.
A expectativa é de que esse comportamento se mantenha em
novas análises referentes aos últimos anos. Na sua avaliação, trata-se de um
fator relevante para o Brasil, já que o desmatamento contribui para grande
parte das emissões. Para exemplificar, o pesquisador compara o tamanho de um
campo de futebol a 10 mil m2 de floresta desflorestada, o que
representaria de 120 a 150 toneladas de gás carbônico a serem enviadas à
atmosfera.
Segundo Nobre, de cerca de 2 milhões de km2
existentes no Brasil, em forma de pastagens, estão degradados ou sendo
convertidos para formas de agricultura mais produtivas, com a produção, por
exemplo, de bioetanol (combustível renovável produzido a partir de resíduos
agroindustriais, como o bagaço de cana). Para o secretário, apostar na energia
renovável e numa agricultura mais eficiente é uma estratégia significativa
diante do desafio de evitar um processo acelerado de aquecimento global.
Produtividade agrícola
O cientista destaca, ainda, o desacoplamento das emissões
com o crescimento econômico. “A agricultura brasileira aumentou a sua
produtividade, nesses últimos oito anos, como ocorreu na Amazônia e o
desmatamento caiu”, frisou o pesquisador ao defender a necessidade de mais
ciência, precisão e alta tecnologia e tecnificação no campo, bem como redução
da área plantada e maior produção.
“Hoje a agricultura moderna brasileira já se deu conta de
que o caminho da agricultura mundial é o aumento da produtividade. No Brasil,
ainda que tenhamos excelentes exemplos de agricultura de ponta com altíssima
produtividade, o potencial está longe de ser atingido”, ressaltou o cientista,
que sustenta a importância de o país conhecer melhor a sua biodiversidade e
descobrir novas maneiras de agregar valor aos produtos agrícolas.
Ele citou o exemplo da produção de açaí no Norte do país:
“Um hectare em produção de açaí rende em média entre R$ 2 mil e 2,5 mil de
lucro para o produtor, enquanto um hectare destinado à criação de gado rende
entre R$ 150 e 200”. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
comentou o secretário, descobriu uma substância extraída do açaí que atua como
um importante corante para mostrar placas bacterianas.
“Então nós temos muito que ir para essa economia da
biodiversidade brasileira, que é um enorme potencial que o Brasil ainda não
explorou, mantendo a integridade dos ecossistemas”, disse. “Esse é um desafio
também de ciência, de desenvolver conhecimento, e de descobrir novos usos dos produtos
da biodiversidade.”
A ideia é aproveitar a vocação do país para a produção de
bioenergia, bioetanol e seus bioprodutos, como fertilizantes, cosméticos,
alimentos e plásticos. “A indústria chamada química verde está indo muito nesta
direção. O Brasil tem tudo para ser um grande líder da chamada bioeconomia do
futuro, quer dizer: numa economia muito baseada nos recursos naturais”,
afirmou.
Aquecimento Global
Na avaliação do especialista em mudanças climáticas, embora
o desmatamento tropical tenha registrado queda no Brasil e em outras regiões do
planeta, isso não reduz as preocupações quanto ao aquecimento global. Ele
lembra que a temperatura global aqueceu, em média, cerca de 1°C no continente e
pouco menos (entre 0,6 e 0,7°C) na superfície do oceano desde 1860. “É pisar no
acelerador da máquina climática planetária numa velocidade 50 vezes maior do
que os ciclos naturais, essa é a grande preocupação”, alertou.
Nobre explicou que as sociedades modernas têm injetado uma
grande quantidade de gases na atmosfera que causam o aquecimento –
especialmente a partir da queima de combustíveis fósseis e das florestas e com
as atividades agrícolas –, enquanto a atmosfera não consegue se livrar de 50%
desses gases que, em quantidade excessiva, causam o aquecimento da Terra.
Mesmo que os países reduzam o desmatamento a zero, se o
aquecimento continuar a maioria das florestas tropicais não resistirá a 4 ou 5
graus de aquecimento, disse. “As espécies não se desenvolveram em ambientes com
essas temperaturas e extremos climáticos. Se o clima mudar muito e houver um
descontrole completo do clima, se não conseguirmos reduzir as emissões vamos
ver globalmente um total rearranjo dos ecossistemas dos grandes biomas”,
reforçou.
As projeções agora, na avaliação de Nobre, dependem muito da
efetividade do acordo global dos países feitos na Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima, que tem como um dos aspectos centrais a redução
dos riscos futuros de um superaquecimento. Para evitar isso, as nações
concordaram em fazer todos os esforços para limitar as emissões. O entrevistado
analisou que o desafio agora, para essa sociedade dependente de alimentos e de
confortos, é virar a página e entrar num modelo que mantenha a segurança
alimentar, energética, hídrica e, ao mesmo tempo, reduza as emissões.
“Então esse tem sido o grande dilema: a ciência
enxerga esses riscos e comunica. A convenção climática também aceita que esses
riscos existem, tanto é que, em 2009, em Copenhague, todos os países
concordaram que nós não devemos deixar o planeta aquecer mais que 2°C, mas as
emissões não estão reduzindo, estão aumentando ano após ano”, enfatizou. (brasil)
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