“Este sistema de destruição em escala planetária, facilitada pela maior
parte das elites governantes e empresariais do planeta, está se tornando no
“crime contra a humanidade” final e, na verdade, contra a maioria dos seres
vivos. Este sistema está se tornando um ‘terricídio’.”, escreve Tom Engelhardt
cofundador do American Empire Project e autor de “The United States of
Fear” e de uma história da Guerra Fria, livro intitulado “The End of Vitory
Culture“, em artigo publicado pelo portal The Ecologist, 01-06-2014.
Quando falamos sobre arma de destruição em massa (ou simplesmente ADM),
normalmente pensamos em armas – nucleares, biológicas ou químicas – que são
detonadas em certo momento, escreve Tom Engelhardt. Mas que tal pensarmos sobre
as mudanças climáticas como uma ADM com um longo fusível, já aceso e saindo
fumaça?
A criação de cada vez mais gases de efeito estufa – ou seja, do motor da
nossa destruição futura – continua sendo uma “boa notícia” para as elites
governantes do planeta Terra.
Quem poderia esquecer?
Na época, em meados de 2002, houve uma grande
quantidade de “informação” vinda de altos funcionários do governo Bush a
respeito do programa secreto iraquiano de desenvolver armas de destruição em
massa (ADM) e, assim, pôr em perigo os Estados Unidos.
E quem – além de uns poucos otários – iria duvidar de que Saddam Hussein
não iria acabar tendo uma arma nuclear? A única dúvida, assim como o nosso
vice-presidente deu a entender no programa televisivo Meet the Press, era esta:
Quanto tempo vai demorar para ele ter? Um ano? Cinco anos?
E o nosso vice-presidente não estava sozinho aqui, uma vez que havia uma
abundância de provas do que estava acontecendo. Para começar, havia os “tubos
de alumínio especialmente projetados” que o autocrata iraquiano [Saddam Hussein]
tinha encomendado como componentes de algumas centrífugas a fim de enriquecer
urânio em seu próspero programa de armas nucleares.
Os jornalistas Judith Miller e Michael Gordon apareceram na primeira
página do The New York Times com esta história no dia 08/09/2002.
Lembram daquelas “nuvens de cogumelo”?
Havia aquelas “nuvens de cogumelo” sobre as quais Condoleezza Rice,
nossa assessora de segurança nacional, tanto se preocupava: aquelas que eram
destinadas a se levantar contra cidades americanas caso não fizéssemos algo
para parar Saddam Hussein.
Ela se queixou numa entrevista à CNN dada a Wolf Blitzer naquele mesmo
dia de 08/09/2014: “Não queremos que uma arma fumegante venha a ser uma nuvem
de cogumelo”. De fato não queríamos, e nem o Congresso quis!
E no caso de não acreditarmos muito nessa tal ameaça iminente iraquiana,
havia ainda aqueles veículos aéreos não tripulados – os drones de Saddam
Hussein! - que poderiam estar equipados com armas de destruição em massa
químicas ou biológicas e que poderiam sobrevoar as cidades da costa leste dos
EUA com resultados inimagináveis.
O presidente George W. Bush foi à televisão falar sobre estas ameaças e
os votos dos congressistas mudaram em favor da guerra graças às instruções
assustadoras secretas do governo que diziam que algumas iriam cair no
Capitólio.
No fim, descobriu-se que Saddam Hussein não tinha nenhum programa de
armas, nenhuma bomba atômica, nenhuma centrífuga para os tais tubos de
alumínio, tampouco esconderijos para armas biológicas ou químicas, nem aviões
não tripulados para entregar as suas armas inexistentes de destruição em massa,
nem qualquer navio capaz de colocar tais aviões robóticos inexistentes nas
proximidades da costa americana.
A “doutrina do 1%”
Mas e se ele tivesse? Quem gostaria de assumir essa possibilidade? Com
certeza, não o vice-presidente Dick Cheney. No governo Bush ele propôs algo que
o jornalista Ron Suskind mais tarde
apelidou de “a doutrina do 1%”.
A sua essência era esta: mesmo se houvesse 1% de chance para um ataque
contra os EUA, especialmente envolvendo armas de destruição em massa,
deveríamos lidar com o caso como se fosse de 95 a 100% de certeza.
Aqui está o aspecto curioso: se olharmos para trás, para os medos
apocalípticos de destruição dos EUA durante seus primeiros 14 anos, eles em
grande parte estiveram envolvidos com as fantasias da imaginação imperial
fértil de Washington.
Havia aquela “bomba” de Saddam Hussein, que forneceu parte do pretexto
para uma invasão bastante desejada ao Iraque. Havia aquela “bomba” dos mulás,
regime fundamentalista iraniano que nós simplesmente amamos odiar desde que
eles nos reembolsaram, em 1979, pela derrubada promovida pela CIA de um governo
eleito em 1953 e pela instalação do
Shah, ao pôr em cativeiro os funcionários da embaixada americana em
Teerã.
As ameaças nucleares eram, evidentemente, fictícias
Se acreditarmos nas notícias vindas de Washington e Tel Aviv, os
iranianos também estariam perigosamente próximos de produzir armamento nuclear
ou, pelo menos, estariam “à beira de estar à beira” de produzir. A produção
desta “bomba iraniana” vem, há anos, sendo o foco da política americana no
Oriente Médio: é o “limite” além do qual a guerra tem sido avultada.
E, no entanto, não havia e nem há uma bomba iraniana, tampouco provas de
que os iranianos estavam ou estão à beira de produzir algo assim.
Por fim, é claro, havia a bomba da al-Qaeda, a ‘bomba suja” que uma tal
organização poderia, de alguma forma, montar, transportar até os EUA e detonar
numa cidade americana, ou a tal “arma nuclear à solta”, quiçá de um arsenal paquistanês,
com o qual poder-se-ia fazer o mesmo estrago.
Esta é a terceira bomba-fantasia que atraiu a atenção americana nos
últimos anos, muito embora haja menos provas ou probabilidade para a sua
existência eminente do que aquelas do Iraque ou do Irã.
Em suma, a coisa estranha a respeito dos cenários de fim de mundo tal
como conhecemos vindos de Washington, após o 11 de setembro, é esta: com uma
única exceção, eles envolveram unicamente armas de destruição em massa inexistentes.
Uma quarta arma – uma que existiu, mas que desempenhou um papel mais
modesto nas fantasias de Washington – foi a bomba real da Coreia do Norte, a
qual atualmente os norte-coreanos não têm condições de jogar na costa
americana.
Arsenais nucleares reais suscitam muito menos alarde
Num mundo no qual armas nucleares continuam sendo uma moeda fundamental
quando se trata do poder mundial, nenhum destes exemplos poderia ser exatamente
classificado como tendo 0% de perigo.
Saddam Hussein já teve um programa nuclear (não só em 2002-2003) e armas
químicas, as quais usou contra as tropas iranianas em sua guerra na década de
1980 contra o Irã (tendo a ajuda de informações passadas pelos militares
americanos) e contra a sua própria população de curdos.
Os iranianos podem estar preparando (ou não) o seu programa nuclear para
uma possível saída armamentista, e a al-Qaeda certamente não iria rejeitar uma
arma nuclear à solta, se estivesse disponível, embora a capacidade desta
organização em usar algo do tipo seria ainda questionável.
Nesse ínterim, os arsenais gigantescos de armas de destruição em massa -
americanos, russos, chineses, israelenses, paquistaneses e indianos, que podem
realmente deixar um planeta devastado para trás – continuam fora dos radares
americanos em grande medida.
Para falar a verdade, no caso do arsenal indiano o governo Bush ajudou
indiretamente em sua expansão. Assim, foi típico do século XXI, quando o
presidente Obama disse, ao tentar pôr em perspectiva as ações recentes da
Rússia na Ucrânia:
“A Rússia é uma potência regional que está ameaçando alguns de seus
vizinhos imediatos. Eu continuo estando muito mais preocupado quando se trata
de nossa segurança na perspectiva de uma arma nuclear caindo em Manhattan”.
Mais uma vez, um presidente americano se focava numa bomba que poderia
levantar uma nuvem de cogumelo sobre Manhattan. E qual bomba exatamente seria
esta, senhor presidente?
Eis aqui uma ameaça muito real para se pensar a respeito
É óbvio que “havia” uma arma de destruição em massa que poderia, de
fato, fazer um dano impressionante ou simplesmente afogar as cidades de Nova
York, Washington, D.C., Miami, e outras cidades costeiras.
Ela tem um sistema próprio de detonação: não precisa de drones
inexistentes nem são precisos fanáticos islâmicos. E diferentemente das bombas
iraquiana, iraniana e da al-Qaeda, esta tem uma entrega “garantida” em nossa
costa marítima, a menos que ações de prevenção sejam tomadas logo.
Neste caso ninguém precisou procurar por suas instalações secretas.
Trata-se de um sistema de armas cuja planta produtiva fica à vista nos Estados
Unidos, assim como na Europa, China, Índia, Venezuela, Rússia, Arábia Saudita,
Irã e em outros países.
Aqui trago uma pergunta que eu adoraria ver algum visitante ou morador
no estado de Wyoming fazer ao vice-presidente, caso cruzasse na rua:
Como ele se sentiria agindo preventivamente se, em vez de 1% de chance
para que um país com armas de destruição em massa pudesse usá-las contra nós,
houvesse pelo menos 95% – e por que não 100% – de chance de elas serem
detonadas em nosso próprio solo?
Sejamos conservadores aqui, já que a questão está sendo posta a um
conhecido neoconservador. Pergunte-se se acaso ele estaria a favor de
prosseguir com a “doutrina dos 95%” da mesma forma como o fez na versão do 1%.
Uma cascata de catástrofes
Afinal de contas, graças a um relatório sombrio publicado em 2013,
produzido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, sabemos que
atualmente há uma probabilidade de 95% de que “a influência humana foi a causa predominante
do aquecimento observado [do planeta] desde meados do século XX”.
Sabemos também que o aquecimento do planeta - graças ao sistema de
combustíveis fósseis em que vivemos e aos gases de efeito estufa que ele
deposita na atmosfera – já está resultando um dano real a nosso mundo e, em
particular, aos EUA, como um recente relatório científico divulgado pela Casa
Branca deixou claro.
Igualmente temos ciência, com alto grau de certeza, dos tipos de danos
em que estes 95 a 100% irão se traduzir nas próximas décadas, e mesmo nos
próximos séculos, caso nada mude radicalmente:
• aumento de temperatura no final do século que poderia exceder os 12
graus célsius;
• extinção de espécies em cascata;
• secas incrivelmente graves em grandes partes do planeta (como a que
ocorre atualmente no oeste e sudoeste americano);
• chuvas muito mais severas em outras regiões, tempestades mais intensas
causando muito mais danos;
• ondas devastadoras de calor numa escala que ninguém na história humana
alguma vez experimentou;
• massas de refugiados;
• aumento nos preços dos alimentos no mundo;
• e, entre outras catástrofes na agenda humana, um aumento do nível do
mar que irá afogar as regiões costeiras do planeta.
O derretimento de camadas de gelo: um aumento de mais de 3 metros acima
do nível do mar
Por exemplo, a partir de dois estudos científicos recentemente
divulgados vem a notícia de que a camada de gelo da Antártida ocidental, uma
das grandes acumulações de gelo no planeta, começou um processo de derretimento
e colapso que poderia, a daqui a alguns séculos, aumentar os níveis mundiais do
mar em 3 a 4 metros.
Uma tal massa de gelo já está, segundo o principal autor de um dos
estudos, em “estado irreversível”, o que significa uma sentença de morte futura
para algumas das grandes cidades do mundo – independentemente de quais ações
sejam tomadas de agora em diante. E isso sem contar com o derretimento do
escudo de gelo da Groelândia, e sem falar do resto do gelo presente na
Antártida.
Tudo isso, evidentemente, irá acontecer principalmente porque nós
humanos continuamos a queimar combustíveis fósseis num índice sem precedentes
e, assim, depositamos anualmente dióxido de carbono na atmosfera em níveis
recordes. Noutras palavras, estamos falando sobre uma nova espécie de armas de
destruição em massa.
Embora alguns de seus efeitos já estejam em jogo, a destruição
planetária que as armas nucleares poderiam causar de forma quase instantânea –
ou no mínimo (dado os cenários de “inverno nuclear”) dentro de alguns meses –
irá, com as mudanças climáticas, levar décadas, se não séculos, para trazer o
seu impacto planetário pleno e devastador.
Mudanças climáticas: ADM com um longo fusível
Quando falamos de armas de destruição em massa – ADM, em geral pensamos
em armas (nucleares, biológicas ou químicas) que são usadas num momento
mensurável no curso temporal. Consideremos, então, as mudanças climáticas como
uma ADM que contém um fusível particularmente longo, já aceso e aí presente
para qualquer um de nós ver.
Diferentemente da temida bomba iraniana ou do temido arsenal
paquistanês, não precisamos da CIA ou da Agência Nacional de Segurança para
investigar. De poços de petróleo para estruturas de fraturamento hidráulico, de
sondas de perfuração a plataformas no Golfo do México, a maquinaria que produz
este tipo de ADSM e nos garante que elas estão sendo continuamente denotadas em
seus alvos planetários está à vista de todos.
Poderosos como podem ser, destrutivos do jeito que serão, os que
controlam esta maquinaria têm fé que, com um desenvolvimento tão demorado
assim, ela pode continuar em aberto sem pôr em pânico populações ou sem lhe
atribuir qualquer tipo de capacidade destrutiva.
As empresas e os países que produzem tais ADM continuam marcadamente
abertos ao que estão fazendo. De um modo geral, eles não hesitam em tornar
público os seus planos para a destruição em massa do planeta, embora eles,
naturalmente, jamais se descrevam assim. Alguns deles até se vangloriam com o
que fazem.
Mas se esta ameaça vier de algum “país vilão”
Não obstante, se um autocrata iraquiano ou se alguns mulás iranianos
falarem de forma semelhante sobre produzir armas nucleares e de como elas
poderiam ser usadas, eles seriam bombardeados.
Consideremos a ExxonMobil, uma das empresas mais rentáveis da história.
No começo de abril, esta companhia divulgou dois relatórios focados na forma
como a empresa – segundo escreveu Bill McKibben –
“planejou lidar com o fato de que [ela] e outras gigantes do petróleo têm
muitas vezes mais carbono em suas reservas coletivas do que a quantidade que os
cientistas dizem ser segura”. E continuou:
“A empresa disse que as restrições governamentais que as forçariam
manter suas reservas [de combustível fóssil] no solo eram ‘altamente
improváveis’, e que elas não apenas iriam tirá-las do solo e queimá-las como
também iriam continuar a buscar por mais gás e petróleo – busca que atualmente
consome cerca de 100 milhões de dólares do dinheiro de seus investidores por
dia. ‘Com base nesta análise, estamos confiantes de que nenhuma de nossas
reservas de hidrocarboneto no momento está no momento abandonada ou que se
tornará assim”.
Noutras palavras, a Exxon planeja explorar todas as reservas de
Combustível fóssil que possui em toda a sua extensão. Os líderes do governo
envolvidos no apoio à produção de tais armas de destruição em massa e em seu
uso normalmente se abrem a respeito do assunto, mesmo quanto discutem passos
para mitigar os seus efeitos destrutivos.
A política energética “verde” dos EUA
Consideremos a Casa Branca, por exemplo. Aqui trago uma afirmação que o
presidente Obama orgulhosamente fez em Oklahoma no mês de março de 2012 sobre a
sua política energética:
“Sob meu governo, os Estados Unidos estão produzindo mais petróleo do
que em qualquer período dos últimos oito anos. Isso é importante saber. Ao
longo dos últimos três anos, direcionei o meu governo para abrir milhões de
hectares para a exploração de gás e petróleo em 23 estados. Estamos aumentando
em mais de 75% de nossos recursos petrolíferos potenciais no alto mar. Quadruplicamos
o número de plataformas operacionais a um nível recorde. Aumentamos a
quantidade de oleoduto de petróleo e gás o suficiente para dar a volta no
planeta e mais um pouco”.
De modo semelhante, no dia 5 de maio, um pouco antes de a Casa Branca
divulgar aquele relatório sombrio sobre as mudanças climáticas nos EUA, e com
um Congresso incapaz de aprovar até mesmo a legislação climática mais
rudimentar que visasse tornar o país mais modestamente eficiente em energia,
John Podesta, assessor do presidente, apareceu na sala de imprensa da Casa
Branca para se gabar da política energética “verde” do governo.
“Hoje os Estados Unidos constituem o maior produtor de gás natural do
mundo bem como o maior produtor de gás e petróleo. Projeta-se que o país vai
continuar sendo o maior produtor de gás natural até 2030. Por seis meses
seguidos produzimos mais petróleo aqui no país do que importamos. Por isso,
esta é uma ótima notícia”.
Realmente, uma ótima notícia, e da Rússia de Vladmir Putin, que
recentemente expandiu grandemente suas vastas propriedades de produção
petrolífera e de gás, até as “bombas de carbono” chinesas, até as garantias de
produção da Arábia Saudita, “ótimas notícias” estão sendo igualmente
anunciadas. Em essência, a criação de cada vez mais gases de efeito estufa – ou
seja, do motor da nossa destruição futura – continua sendo uma “boa notícia”
para as elites governantes no do planeta Terra.
Quando uma certeza de 95% não é certeza o suficiente
Sabemos exatamente o que Dick Cheney – pronto para ir à guerra numa
possibilidade de 1% segundo a qual algum país poderia significar danos para nós
americanos – responderia caso perguntado sobre o que fazer com a doutrina dos
95%.
Quem irá duvidar de que a sua resposta seria semelhante àquela das
empresas gigantes do setor energético, que financiam em grande escala a negação
das mudanças climáticas e uma ciência falsa ao longo dos anos?
Ele iria afirmar que a ciência simplesmente não tem “certeza” o
suficiente, que antes de comprometermos vastas somas para assumirmos o
fenômeno, precisamos saber muito mais, e que, de qualquer forma, a ciência das
mudanças climáticas é impulsionada por uma agenda política.
Pois para Cheney e companhia, parecia óbvio que agir com base na
possibilidade de 1% fosse uma maneira sensata de “defender” os EUA, e não é
contradição alguma para eles que agir baseado numa possibilidade de 95% seja
desnecessário. Para o Partido Republicano como um todo, a negação das mudanças
climáticas, hoje, é nada menos do que um teste de lealdade, e é por isso mesmo
que nem uma doutrina de 101% iria ser o suficiente quando se trata de
combustíveis fósseis e este planeta.
As ADM são o fornecimento de combustível fóssil e o sistema de combustão
Não há porque, evidentemente, pôr a culpa nestes combustíveis fósseis ou
mesmo no dióxido de carbono que eles liberam quando queimados. Estes não são
mais armas de destruição em massa do que o são o urânio 235 e o plutônio 239.
Nesse caso, o armamento é o sistema de produção que se estabeleceu para
encontrar, extrair, vender a lucros exorbitantes e queimar estes combustíveis,
e assim criar um planeta estufa.
Com as mudanças climáticas, não há “bombas” equivalentes, não há armas
simples sobre a qual colocarmos o foco. Nesse sentido, a prática de
fraturamento é o sistema de armas, bem como a perfuração em alto mar, os
oleodutos e os postos de gasolina, além das usinas de energia movidas a carvão,
os milhões de carros que preenchem nossas estradas e os consultores das
empresas mais lucrativas da história.
Tudo isso – tudo o que traz combustíveis fósseis ao mercado, que torna
estes combustíveis eminentemente queimáveis e que ajuda a suprimir o
desenvolvimento de alternativas não baseadas em combustíveis fósseis - são as
armas de destruição em massa.
Armas de destruição planetária
Os presidentes das gigantes do setor energético mundiais são os mulás
perigosos, os verdadeiros fundamentalistas do planeta Terra, visto que estão
promovendo um credo nos combustíveis fósseis que, garanto, irá nos conduzir
para alguma versão do Fim dos Tempos.
Talvez precisemos de uma nova categoria de armas com uma sigla nova para
nos focarmos na natureza das nossas atuais circunstâncias de 95 a 100%. Que
chamemos esta categoria de “armas de destruição planetária – ADP” ou “armas de
prejuízo planetário – APP”.
Apenas dois sistemas de armas iriam claramente se adequar em tais
categorias. Um seria o das as armas nucleares que, mesmo numa guerra localizada
entre o Paquistão e a Índia, poderiam criar alguma versão do “inverno nuclear”,
no qual o planeta acabasse limitado de receber raios solares devido a tanta
fumaça e fuligem de forma que se esfriasse rapidamente, vivenciasse uma perda
massiva de culturas agrícolas, de estações e de vida.
O crime de “terricídio”
No caso de uma grande troca de armas do tipo, estaríamos falando sobre a
“sexta extinção” da história planetária.
Embora numa escala temporal diferente e mais difícil de se compreender,
a queima de combustíveis fósseis terminaria de uma forma semelhante: com uma
série de desastres irreversíveis que, na prática, iria nos queimar e tirar
grande parte da vida na Terra.
Este sistema de destruição em escala planetária, facilitada pela maior
parte das elites governantes e empresariais do planeta, está se tornando (para
trazer à tona outra categoria em geral não usada com relação às mudanças
climáticas) no “crime contra a humanidade” final e, na verdade, contra a
maioria dos seres vivos. Este sistema está se tornando um “terricídio”. (ecodebate)
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