No Parque do Mirante, os raros visitantes sentem apenas o
mau cheiro que exala do rio.
O Rio Piracicaba sofreu uma queda de 83% na vazão e a
cachoeira, principal atração turística da cidade, virou um amontoado de pedras.
Apenas fios de água escura escorrem entre as rochas, onde antes um turbilhão
formava a neblina que deu a Piracicaba o apelido de “Noiva da Colina”. Conforme
dados do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), o rio está com vazão
de 12,4 m3 por segundo, quase um quarto dos 75 mil m3/s
de sua vazão normal neste mês.
No Parque do Mirante, de onde se observa a cachoeira, os
raros visitantes sentem apenas o mau cheiro que exala do rio.
Com a queda no nível, a Poluição se concentrou. Nas margens
do rio, o mato cresce e a grama se espalha, servindo de pasto para cavalos. Uma
torre com observatório construído pelo município para a observação do salto
está às moscas. Da ponte pênsil de madeira, pode-se observar peixes mortos em
meio ao lodo escuro. Em fevereiro, uma grande mortandade dizimou 20 toneladas
de peixes.
O Rio Piracicaba nasce da junção dos Rios Atibaia e Jaguari,
dois dos formadores do Sistema Cantareira, que hoje abastece 6,5 milhões de
pessoas na Grande São Paulo e enfrenta grave crise hídrica. O rio corre a
partir de Americana em direção ao centro do Estado, desaguando no Rio Tietê,
próximo da barragem de Barra Bonita. Na passagem por Piracicaba, ele forma
fortes corredeiras. Com a maior estiagem da história, onde antes era água,
agora é possível caminhar sobre as pedras.
Prejuízo
Comerciantes da Rua do Porto e da Avenida Beira-Rio reclamam
do afastamento dos turistas e dos prejuízos. Alguns bares e restaurantes que
tinham peixes no cardápio fecharam as portas. O movimento de turistas nos fins
de semana está reduzido a menos da metade – muitos são atraídos pelo estado de
penúria do rio. Medições da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq), da Universidade de São Paulo, indicaram próximo da cidade índice de
oxigênio dissolvido na água de 2,9 miligramas por litro, quando o aceitável
seria a partir de 5 mg/l.
A situação preocupa o Ministério Público Estadual, que
atribui o problema, além da estiagem, à redução de 5 para 3 m3 por
segundo na vazão do Sistema Cantareira para as bacias do Piracicaba, Capivari e
Jundiaí (PCJ).
“A situação do rio é reflexo direto da gestão do Sistema
Cantareira, já que existe um desequilíbrio entre a água liberada para o
abastecimento da Grande São Paulo e para o PCJ”, disse o promotor Ivan Carneiro
Castanheiro, do Grupo de Atuação Especial para o Meio Ambiente (Gaema), do
Ministério Público de Piracicaba. (OESP)
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