A nordestina que assistia televisão começa a chorar quando
vê o sofrimento de uma mulher paulistana da periferia, com a pia cheia de
pratos, o vaso sanitário cheio de outras coisas, há dois dias sem tomar banho e
sem saber como lidar com essa penúria de água.
Essa história ouvi na cidade de Canudos nesse sábado
passado, aqui no sertão da Bahia, local simbólico da luta nordestina pela terra
e pela água. Quem me contou foi o Pe. Alberto, pároco da cidade, durante a
romaria de Canudos que acontece todos os anos.
Não queria estar na pele de Geraldo Alckmin quando essa
eleição passar. Quando os “sem água” saírem às ruas, como fizeram em Cochabamba
(Bolívia), em Rosário (Argentina) ou em tantas cidades nordestinas em outras
épocas, a classe política vai conhecer o que é a fúria popular causada pela
sede. Como se diz aqui pelo sertão “a fome e a sede tem cara de herege”.
O sofrimento humano causado pela falta d’água se generaliza
em todo o país. Primeiro como resultado de um processo histórico de degradação
e maltrato para com nossos mananciais. Segundo pela incapacidade total de
nossas autoridades que tem poder de decisão de ver o que acontece e tomar
medidas preventivas contra o pior. Terceiro porque a questão eleitoral não
permite o debate sério que a cidade de São Paulo e outras regiões do país –
como o São Francisco – terão que tomar ao menos para sobreviver, causando até
piedade de uma senhora nordestina que sabe o que é passar uma vida labutando
por um pouco de água. Hoje, no sertão de Canudos, ela está muito melhor que a
paulistana.
O sofrimento humano deveria gerar solidariedade, não
preconceitos e raivas. Prefiro a sensibilidade da nordestina de Canudos que
todos os discursos feitos nessa eleição contra o Nordeste e seu povo. A voz das
redes sociais, então, mesmo vindo de médicos, advogados, políticos,
intelectuais, etc., espelha o que há de pior no ser humano. A lágrima da
nordestina o que há de melhor no Nordeste e no povo brasileiro.
Mas, Alckmin que se proteja. Basta um palito de fósforo e
essa água pega fogo. (ecodebate)
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