terça-feira, 11 de novembro de 2014

Maior educação, menor população

Estudo publicado na revista Science, em setembro de 2014 (Gerland et. al, 2014) argumenta que, ao contrário do que se previa até 2010, a população mundial deve continuar crescendo ao longo do século XXI e o mais provável é que o planeta tenha algo em torno de 11 bilhões de habitantes em 2100. O estudo mostra que, com uma probabilidade de 80%, o globo terá entre 9,6 mil e 12,3 bilhões de humanos em 2100, sendo que a projeção média fica em torno de 11 bilhões e a estabilização da população só ocorreria, caso ocorra, no século XXII.
Evidentemente, ninguém sabe dizer com certeza como será o futuro. As projeções são feitas com base em pressupostos que dependem, por sua vez, do conhecimento das experiências do passado. Por exemplo, os dados das últimas décadas mostram que o ritmo de crescimento populacional diminui quando se eleva as taxas de urbanização e aumentam os níveis de inclusão social e os direitos de cidadania. Desta forma, a população mundial no final do século XXI poderá ultrapassar 12 bilhões se o crescimento da qualidade de vida acontecer em ritmo lento ou poderá ficar abaixo de 10 bilhões se houver conquistas sociais importantes.
Reforçando a ideia de que “a cidadania é o melhor contraceptivo” (Martine, Alves, Cavenaghi, 2014), diversos estudos mostram que as taxas de fecundidade tendem a cair com o avanço da renda, da educação, das condições de moradia, do acesso à informação, etc.
Pesquisas do International Institute for Applied Systems Analysis (IIASA) confirmam, com base em vários cenários de projeção, que a educação pode ter um papel-chave na determinação do ritmo de crescimento demográfico no século XXI. Quanto maior for o ritmo de crescimento da educação, menores serão as taxas de fecundidade, com as respectivas reduções no volume da população esperada em 2100.
Em 23/10/14 foi lançado, no Wilson Center, em Washington DC, o livro “World Population and Global Human Capital in the 21st Century” (LUTZ et. al, 2014) mostrando que a população mundial, no cenário mais provável, deverá atingir um pico de 9,4 bilhões de habitantes em torno de 2070 e, em seguida, decrescer para 9 bilhões de pessoas até o final do corrente século. Mais do que apenas números populacionais, o livro também inclui projeções específicas para a população por idade, sexo e nível de escolaridade, para 195 países, entre 2010 e 2100.
Por exemplo, se a maioria dos países expandir os seus sistemas educacionais no ritmo realizado pela Coreia do Sul, então a população mundial ficará em torno de 8,87 bilhões de habitantes em 2060. Se a expansão dos sistemas educacionais expandirem no ritmo médio das últimas décadas, a população mundial será de 9,34 bilhões de habitantes em 2060. Se não houver melhorias no ritmo de expansão educacional a população mundial será algo em torno de 9,84 bilhões de habitantes em 2060.
Toda a literatura demográfica mostra que existe uma relação inversa entre educação e fecundidade. O grande desafio é avançar com os anos médios de estudo. A dificuldade é sair da “armadilha da pobreza” e da falta de orçamento e capacidade de gestão dos países do chamado Terceiro Mundo, especialmente dos chamados “Estados falidos”. Universalizar o acesso ao ensino fundamental é uma tarefa muito difícil nos países de baixa renda. Universalizar o ensino médio é mais difícil ainda. Garantir qualidade na educação é outra tarefa que exige grande esforço. Por outro lado, a queda da fecundidade ajuda no processo de expansão educacional, pois menor número de filhos por família e cortes menores tendem a aumentar o investimento per capita em educação.
Desta forma, juntamente com a educação é preciso garantir o respeito aos direitos sexuais e reprodutivos. Educação e saúde são direitos básicos, mas muitos países não conseguem garantir as condições mínimas de cidadania. Seria ótimo se fosse efetivada a meta 5b dos ODMs: “Alcançar, até 2015, o acesso universal à saúde reprodutiva”. Com altos níveis de educação e autodeterminação reprodutiva a transição demográfica estaria praticamente garantida e o pico da população global seria alcançado mais cedo.
Quando se trata de projeções populacionais, o importante é compreender que o ser humano tem livre arbítrio para traçar o seu futuro. Os cenários demográficos para o século XXI estão em aberto e a civilização atual tem o poder de escolha e os meios para definir o número de humanos que vão habitar a Terra no final do século XXI. Qualquer que seja a decisão, espera-se que a humanidade não haja de forma egocêntrica, mas sim de maneira altruísta e ecocêntrica, respeitando o meio ambiente e a maioria absoluta das demais espécies vivas do Planeta. (ecodebate)

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