sábado, 15 de novembro de 2014

O Brasil desidratado

Eu não sei os demais, mas eu penso que a crise de água em SP é em tudo reveladora do Brasil, esse país ao mesmo tempo abundante e desidratado. Não exatamente por revelar o destrato com os recursos naturais, desmatamento desenfreado e todos esses fatos ambientais, mas por mostrar que o Brasil é um país de empatia seletiva.
Por quantos anos o sertão e até mesmo o sul do Brasil (minha cidade natal, Bagé, quase fronteira com o Uruguai, penou por uma estiagem de quase uma década que obrigou ao racionamento permanente) tiveram gravíssimos problemas de abastecimento, alguém lembra? É claro que as dimensões do drama paulista são imensas dadas as dimensões de São Paulo, mas essa crise ataca mesmo é aquela velha ideia de “coração do Brasil”.
Vê-se, agora, que é um coração bem dos recauchutados e muito, mas muito mais dependente dos outros órgãos do corpo do que imaginava ser. Aos sertanejos e nordestinos de um modo geral parece que seu destino humano seria o de viver com a escassez de água e com a aridez, mas isso já tinha deixado de ser preocupante há muito tempo, naturalizando-se a ideia de que isso era inevitável (como se o desmatamento massivo para o cultivo da cana em épocas passadas não estivesse por trás disso também) ou um desígnio divino.
Mentiras convenientes, como muitas que querem impingir ao povo brasileiro. Como as mais atuais, que informam que o único desenvolvimento econômico possível para o país consistiria em abusar sistemática e irresponsavelmente de modelos extrativistas, centrados na monocultura e numa balança comercial dependente da exportação de commodities.
De posso do novo e dilacerador Código Florestal e de políticos que não relacionam lucro ambiental e conservação, logo logo vai faltar água para o corpo todo..
Para um país que se imaginava dono do maior rio do mundo, do maior aquífero do planeta e outros delírios de grandeza, um pouquinho de humildade e reconhecimento não há de fazer mal algum. Talvez até ajude a resolver e prevenir muitos outros problemas com esse líquido tão pouco valorizado, dada a nova mania nacional de enxergar solução para tudo no pré-sal.
Que eu saiba, mesmo que um dia o retirem de lá, o que por si só é duvidoso, ainda não existe no mundo tecnologia disponível que transforme o líquido preto nesse outro, que finalmente passa a adquirir o devido valor. (ecodebate)

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