O processo de
industrialização da economia mundial, que cresceu de forma exponencial nos
últimos 70 anos, acompanhado do crescimento populacional, permitiu um aumento
substancial no consumo de produtos, exigindo, como contrapartida, uso intensivo
de recursos da natureza, desencadeando, na ponta final, geração de lixo e
poluição.
Os números que realçam esse
crescimento são ilustrativos: em 1950, a economia mundial ostentava um PIB global
de US$ 4,5 trilhões, com 2,7 bilhões de habitantes; hoje, o PIB mundial atinge
US$ 75 trilhões, e a população mundial bate na marca dos 7,2 bilhões de
pessoas. Se houvesse uma divisão igual da riqueza global, cada habitante do
planeta teria direito a US$ 10,5 mil.
O destaque dessa ostentação
do crescimento do produto interno bruto (PIB) mundial fica por conta da China
que, com uma população de 1,4 bilhão de habitantes – 19,5% dos habitantes do
planeta, 14 milhões de nascimentos a cada ano – deverá “fechar” o ano de 2014
com US$ 17,6 trilhões de PIB, tornando-se a maior economia do mundo, mensurado
pelo critério da paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês),
levando-se em conta a estrutura relativa de preços e custos de cada país.
Esses dados permitem uma
rápida discussão em torno da problemática do consumo excessivo em relação ao
meio ambiente. Inseridos numa sociedade de consumo, tipicamente consumista (16%
dos mais ricos da população mundial consomem 78% de toda a produção global),
onde se produz e se compra de tudo, não raras vezes deixamos de atentar ao fato
de que a produção de mercadorias requer tempo, energia e recursos naturais,
além de gerar de poluição.
Não por acaso, todo esse
crescimento econômico chinês – nos últimos 30 anos a média de crescimento foi
de 9% ao ano – vem acompanhado da maior concentração de poluição que o planeta
já presenciou, o que reflete nos dados divulgados pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), apontando que das vinte cidades mais poluídas do planeta, dezesseis
delas são chinesas.
O crescimento econômico
chinês “convive” de perto com um drama: mais de 750 000 pessoas morrem por ano
em decorrência da água e do ar pútridos no país. As fábricas movidas a carvão
criaram vilarejos doentes, nos quais a taxa de tumores malignos é altíssima.
Por tudo isso, é importante
realçar aquilo que não se pode perder de vista: quanto mais se aumenta a escala
de produção econômica, mais o meio ambiente é agredido pelo uso excessivo de
recursos naturais; quanto maior a economia, menor fica o meio ambiente em
termos de capacidade de reposição de recursos.
Em outras palavras, quando a
atividade econômica se apropria da natureza, entrega como produto final a
insustentabilidade do planeta (desequilíbrio climático, poluição, aquecimento
global), afinal, todo e qualquer processo produtivo requer uso das bases e dos
serviços da natureza.
A poluição e o descarte de
produtos são, por consequência, os efeitos da ponta final do excessivo processo
produtivo. A atividade econômica necessita de recursos, matéria e energia. É a
natureza, portanto, quem “alimenta” a atividade econômica.
É dessa relação
desequilibrada e conflituosa que emerge a crise ambiental, visto que o uso dos
recursos naturais ultrapassa (estamos usando 30% a mais do limite suportável do
planeta) a capacidade que o planeta tem de provê-los.
Entre 1950 e 2005, por
exemplo, a produção de metais cresceu seis vezes, a de petróleo, oito, e o
consumo de gás natural, 14 vezes. Hoje, são extraídas 60 bilhões de toneladas
de recursos anualmente – cerca de 50% a mais do que há apenas 30 anos. Na
média, o europeu usa 43 quilos de recursos diariamente, e o estadunidense, 88
quilos. Atualmente, o mundo extrai de recursos naturais o equivalente a 112
edifícios Empire State (102 andares, 381 metros) da Terra a cada dia.
Especialmente o consumo de
automóveis tem sido, com ligeira queda, a marca principal do consumo mundial.
Somente em 2013, a China vendeu mais de 19 milhões de carros, seguido pelos
EUA, com 15,5 milhões; Japão, com 5 milhões e o Brasil, quarto maior vendedor,
com 3,5 milhões de unidades.
A relação produção de
mercadorias e uso de água, por exemplo, é alarmante: para cada automóvel
fabricado, usam-se 400 mil litros de água; um único hambúrguer de 100 gramas
exige 2.400 litros de água; uma pizza, 1.216 litros, uma simples xícara de café
requer 140 litros; um par de sapatos, 8.547 litros. Não se deve perder de vista
que água e energia se relacionam. Consumir energia implica também em consumir
água.
Para cada calça jeans que
compramos, além dos 11 mil litros de água necessários à fabricação, usa-se de
10 a 20 m2 de cultivo de algodão. Para o cultivo desse algodão,
foi preciso o uso de uma grande quantidade de fertilizantes químicos e
pesticidas, o que levou à contaminação de solo, água e ar.
O que a história nos
evidencia é que o último século de produção econômica foi marcado por uma
economia de acumulação que, como bem disse Dominique Voynet, ex-ministra do
Meio Ambiente francês no governo de Lionel Jospin, “não se baseia no capital do
planeta, mas em seu estoque”.
O resultado disso é que somos
constantemente “engolidos” pelo consumo. Victor Hugo, célebre escritor francês,
vislumbrou muito bem isso: “Por força de querer possuir, nós nos tornamos
possuídos”. (ecodebate)
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