No geral, com as experiências
de implantação de sistemas de gestão ambiental, normatizados ou não, as
empresas já descobriram que promover cuidados ambientais no rumo da
sustentabilidade gera ganhos econômicos e agora também, com as exigências
geradas pela conscientização pública, gera percepção de que se trata de empresa
que produz bens ou serviços dentro de uma concepção e de uma prática de
parâmetros de responsabilidade socioambiental. Visão que é cada vez mais
importante dentro do “mix” de marketing que ainda está se transformando e se
adequando para responder aos anseios do denominado “novo consumidor”. Cujo
comportamento varia muito em função de renda, escolaridade, sexo, faixa etária
e outras condicionantes.
Mas esta variável já
representa um grau de liberdade relevante na decisão de compra. Ao menos nos
variados extratos de classe média e até alta, as pessoas anseiam por
participar, transformando sua decisão de compra no que consideram um gesto de
engajamento capaz de se alinhar com o produtor e serviços que percebem como
mais representativos de posturas mais coerentes de produção, com menores
desperdícios de água ou energia, gestão ambiental implantada, certificada ou
não e responsabilidade socioambiental expressiva.
Não deve ser esquecida a
preocupação em buscar evitar ao máximo desperdício de matérias primas e de água
e energia nos processos produtivos. Estes aparentemente pequenos cuidados tem
cada vez mais importância e relevância, sendo percebidos como muito importantes
pelos mercados ou pela comunidade mais próxima, onde o empreendimento
empresarial ou organizacional está inserido.
A questão dos recursos hídricos já é
bastante crítica em muitas regiões e situações no mundo, e mesmo no Brasil,
detentor de mais de 12% da água potável do planeta a situação tem tido
contornos dramáticos com a má distribuição de água atingindo não só ao
nordeste, mas a algumas grandes concentrações populacionais da região sudeste.
No caso se adiciona a má distribuição de chuvas, a completa ausência de
planejamento e a dependência gerada por sistemas muito dependentes de poucas
bacias hidrográficas.
Outra pendência ou
controvérsia é a despoluição de águas em rios e bacias hidrográficas já
comprometidas. Não existe um filtro, nem mecânico nem químico, para instalar
num rio. A tarefa de despoluição é um trabalho permanente e trabalhoso de
tratar todos os esgotos e efluentes industriais antes de serem descartados em
cursos de água. Depois de realizada tal ação fica difícil falar ou imaginar
mecanismos eficientes de despoluição de água, em processos que envolvem águas
superficiais e subterrâneas. Quando ocorre uma enchente dos rios, águas
superficiais tendem a sofrer infiltrações e abastecer os mananciais
subterrâneos. Em períodos de seca tende a ocorrer o contrário. Águas
subterrâneas tendem a abastecer cursos de água superficiais. Isto significa que
ocorre uma grande inter-relação entre ambas as águas e se houver poluição em um
tipo de aquífero, tende a haver poluição do outro também.
São grandes e intangíveis os
benefícios da adoção sistêmica de atitudes, gestos, posturas e ações de gestão
ambiental dentro de programas de sustentabilidade. Como bem registrou Gros
Harlem Brundtland temos que utilizar os recursos naturais de maneira
responsável, para que não haja qualquer problema com as gerações futuras. Todos
dependem de um planeta em boas condições e em situação de boa homeostase para o
desenvolvimento e a manutenção da vida em equilíbrio, objetivo e desejo de
todos os seres humanos.
A conexão entre vida instantânea, felicidade
efervescente e aquisição de felicidade com a compra de bens ou serviços se
conecta através da análise sistêmica. Se o mundo está se deslocando em direção
da sustentabilidade e não mais em função do consumismo desvairado, então o
sistema determinará a lenta e inexorável criação de nova autopoiese, de novo
mecanismo regulatório que funciona automaticamente. É certo que o mundo ainda
depende muito do círculo virtuoso gerado pelo consumo ainda que não desvairado:
crescimento das empresas, geração de novos empregos, aumento de arrecadação e
investimentos públicos, de forma que esta nova autopoiese certamente vai
equilibrar o consumismo compulsivo com o consumo necessário para manter a roda
da economia em equilíbrio fazendo valer a participação de todos através da
transformação de gestos de consumo em atitudes de engajamento com produtor ou
serviços percebidos como resultantes de organizações com mais evidentes e
importantes políticas de gestão ambiental e programas de sustentabilidade
coerentes e relevantes.
Não serão mudanças
individuais de comportamento, ainda que muito importantes, ou só elogiáveis
iniciativas de grupos ou pessoas os responsáveis pelas mudanças, mas o
equilíbrio cinético e homeostático a ser determinada por nova situação autopoética, representativa não somente de novo equilíbrio
entre agentes econômicos, mas sim de novas demandas sistêmicas a serem
contempladas por todo o sistema e seus subsistemas ativos.
Não são apenas ferramentas de
comunicação dentro de estratégias ou programas de marketing inspirados por
responsabilidade socioambiental ou mesmo por escamoteações do tipo
“greenwashing” que determinam as profundas alterações que decorrem da
determinante alteração para eixos de sustentabilidade que determinam novas
formas de gravitação para o mundo e a civilização. São conjuntos sistêmicos que
se moldam e são determinantes de situações sobre as quais, pessoas isoladas ou
indivíduos tem pequena capacidade de influenciação. Quem age e determina a
resultante é o conjunto de indivíduos e não as concepções individualizadas de
poucas pessoas.
Compreender o fenômeno da
autopoiese dentro da evolução sistêmica não é um procedimento simples ou
corriqueiro na sociedade. Existe pouca consciência do fenômeno e de suas
consequências, tanto por isto que os programas policiais em profusão em mídias
como rádio e televisão ainda teimam em buscar individualizar condutas numa
situação que cada vez é menos possível. Vive-se numa sociedade complexa e
bastante interativa e os princípios históricos do direito de normatização e
sancionamento de condutas individuais quando as mesmas são incompatíveis com a
vida social são instrumentos cada vez mais difíceis de aplicar em condições de
busca e realização de plena justiça.
Não é por acaso que tem
havido tantas evoluções doutrinárias envolvendo direitos de gerações cada vez
mais avançadas, desde direitos de segunda geração, e sequências posteriores
envolvendo direitos difusos, como os ambientais, e direitos denominados de
quinta ou sexta geração, como direitos cibernéticos, nanotecnológicos,
resultantes de clonagem ou outros mecanismos da crescente evolução da pesquisa
e aplicações genéticas.
É certo que este mundo
instantâneo e quase virtual e estes comportamentos de consumo compulsivos não
são cenários possíveis de compatibilizar com esta nova realidade que exige
supremacia dos mecanismos que privilegiem e evidenciem relações sociais de
natureza generalizada em direção a um mundo completamente sustentável e na
direção de plena sustentabilidade e todas as suas dimensões.
Não são apenas por boas ou
más intenções, ou por maior ou menor nível educacional e consciência individual
ou apenas em função de necessidades econômicas que o mundo evolui. Mas também e
principalmente para responder a necessidades crescentes, de forma sistêmica e
através de transformações permanentes utilizando os mecanismos autopoéticos de
busca e manutenção de situações de equilíbrio que busquem permanentemente
círculos de virtuosidade social necessários para a evolução civilizatória.
Tudo isto tem sido matéria de
reflexões diante de uma realidade inexorável. Se a instantaneidade ou o
consumismo ou outras características são passageiras, a complexidade de
relações de toda e qualquer natureza não é passageira. Inevitavelmente o mundo
e a civilização se tornam cada vez mais complexos e isto mais do que qualquer
outra coisa exige uma abordagem sistêmica sobre todas as realidades.
(ecodebate)
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