Pesquisa USP/ESALQ simula
cenários florestais e hídricos para 2050
Cobertura florestal e vazão
de água da bacia do Rio Piracicaba são principais aspectos avaliados.
A crise hídrica cada vez mais preocupa milhares de
brasileiros e se apresenta como tema de estudos desenvolvidos para prever quais
as consequências dessa condição em curto e até longo prazo. Um dos objetos de
pesquisa que desperta atenção da comunidade cientifica é o caso da bacia do Rio
Piracicaba, que além de conter dentro desta o sistema Cantareira, que abastece
grande parte da cidade de São Paulo, exerce uma função relevante, já que
concentra importantes polos industriais e comerciais.
“Meu projeto surgiu para ser algo prático e aplicado
na gestão da bacia do Rio Piracicaba” disse Paulo Guilherme Molin, doutor em
Recursos Florestais, pela Escola de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ)
sobre seu estudo que avaliou a relação da cobertura florestal na bacia e a
questão hídrica. “A proposta foi também de analisar a maneira como ambos os
fatores podem afetar os serviços ecossistêmicos”.
Molin, iniciou sua pesquisa analisando imagens de
satélites da cobertura florestal na bacia do Rio Piracicaba em três anos
diferentes: 1990, 2000 e 2010. Posteriormente, desenvolveu modelos em softwares
especializados que possibilitaram avanços em sua proposta inicial. O software
Dinâmica EGO, especializado em modelagem da paisagem foi utilizado para simular
espacialmente a mudança no uso do solo e o modelo Soil & Water Assessment
Tool (SWAT), especializado em modelagem hidrológica, para averiguar a
influência da mudança de cobertura florestal na regulação e vazão de rios, além
de outros aspectos ambientais.
A pesquisa foi realizada em duas etapas.
Inicialmente, Molin avaliou a quantidade de cobertura florestal durante os três
períodos e destacou os principais aspectos que contribuem para o crescimento e
supressão de florestas na bacia. “Para aumentar a cobertura florestal, o modelo
destacou ser essencial uma declividade no local, proximidade às águas e aos
remanescentes florestais, já que rios, lagoas e outras florestas são propícios
para dispersão de sementes e facilitam a criação de um ecossistema favorável
para o surgimento de novas florestas. Outro importante aspecto é a média anual
de precipitação de chuvas”, ressaltou Molin. Segundo o pesquisador, os fatores
que influenciaram a supressão de vegetação foram altitudes específicas e
distância para redes de transporte e para as zonas urbanas.
Após avaliar os principais fatores influentes no
crescimento de cobertura florestal, o trabalho focou nos modelos de softwares e
em simulações. “Simulei o avanço espacial da cobertura florestal e da vazão de
água da bacia do Rio Piracicaba de dez em dez anos, até 2050, com base nos
fatores que possibilitam e dificultam esse processo e verifiquei também a
influência dessa mudança de cobertura florestal na biodiversidade e do habitat
em todas as situações simuladas”.
Cenários – De acordo com Molin, na segunda parte da
pesquisa foi necessário criar três cenários, com porcentagem de cobertura
arbórea diferentes onde o modelo indica espacialmente onde as florestas serão
alocadas ou suprimidas. Entre eles estão:
1) Status Quo (mantêm padrão de
mudança de cobertura florestal apresentado no período de 2000 para 2010),
2)
Sem supressão (mantêm padrão de mudança de cobertura florestal, porém sem o
efeito de supressão),
3) Cenário APP (cenário onde a bacia possuiria todas as
suas áreas de preservação permanente florestadas, considerando o Código
Florestal em que todos os proprietários devem plantar suas APPs).
Referente aos três cenários, as futuras florestas
podem influenciar nos serviços ecossistêmicos de diversas maneiras, sendo que
neste estudo destacaram-se duas: atuando como suporte (avaliando os tamanhos e
proximidades entre os fragmentos florestais e, portanto sua influência no
potencial de biodiversidade e habitat) ou como regulação (verificando o aumento
ou diminuição da quantidade de água e sua regulação).
“A importância da conservação de fragmentos
florestais é essencial para a biodiversidade. Quanto maior e mais próximo está
um fragmento do outro, melhor é a conectividade. Dessa maneira, os ciclos
naturais da fauna e flora sofrem menor interferência”, comenta o pesquisador.
Resultados – Com a pesquisa, tornou-se possível prever a
situação da bacia do Rio Piracicaba e de seus serviços ecossistêmicos a partir
dos cenários simulados pelo pesquisador.
Pelo “Status Quo”, ao longo dos anos ocorrerá um
aumento de cobertura florestal, atingindo 22,4% de cobertura em 2050, contra a
atual 21,8% e com perda de pequenos fragmentos, por pressão de áreas urbanas e
produção canavieira. Porém, a média anual de vazão do rio aumentará um pouco,
com alguns picos de vazão maiores que as atuais.
No cenário “Sem supressão”, a cobertura florestal vai
atingir 43,2% em 2050 e os fragmentos florestais irão ter uma relevante junção.
No entanto, o modelo hidrológico indica que as vazões dos rios tendem a
diminuir, pois com as árvores em crescimento haverá um maior consumo de água,
porém haverá menos enchentes e períodos de secas mais amenas.
O último cenário, “Cobertura APP”, indica que a cobertura
florestal chega 28,4%, se todos os proprietários revegetarem suas APPs, no
entanto, a vazão anual também tende a diminuir por conta do repentino aumento
de cobertura florestal e seu consumo de água.
“Acredito que toda essa informação e simulações poderão
servir como fonte ou incentivo para uma melhor gestão ambiental e de recursos
hídricos da nossa região, principalmente por parte do comitê e agência do
PCJ. Já temos dificuldades e contratempos nos dias de hoje, mas procuro
projetar como essas possíveis mudanças de cobertura florestal nos afetarão no
futuro também. De nada adianta pensar apenas nos dias atuais. Quando a questão
tratada é água e meio ambiente, temos que pensar no amanhã e proponho essa
análise a partir de simulações e modelos”, conclui Molin. (ecodebate)
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