Cenário
de reservatório na Bahia é o pior desde a inauguração, em 1979; volume útil
pode ser exaurido até setembro/15, diz Agência Nacional de Águas (ANA).
Depois
de o Sistema Cantareira expor a situação agonizante da crise hídrica em São
Paulo e em toda a Região Sudeste, agora é a vez do reservatório de Sobradinho,
na Bahia, o maior do País em área alagada, correr o risco de ter de usar o
"volume morto" para abastecer a população da Região Nordeste.
O cenário de "extrema gravidade" já
alertado pela Agência Nacional de Águas (ANA) foi reforçado pelo Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Em carta encaminhada ao IBAMA, o órgão
declarou que o volume de água que hoje passa pela barragem de Sobradinho tem de
ser reduzido imediatamente. Caso contrário, a principal caixa d'água do Rio São
Francisco verá seu volume útil chegar a zero até setembro.
"Acompanhamos a Bacia do São Francisco há 84
anos. Nunca vimos nada assim. Os primeiros meses deste ano conseguiram ser
ainda piores que os do ano passado", diz João Henrique Franklin,
superintendente de operação e contratos de transmissão e energia da Chesf,
estatal responsável pela barragem. "Temos de reduzir a vazão. Não se trata
mais de preservar só o setor elétrico, até porque a região pode recorrer à
geração de outras fontes. Estamos falando de água para consumo. A questão
fundamental é o abastecimento humano."
Sobradinho conta hoje com apenas 21% da água total
que consegue acumular, um mar de até 28 bilhões m³, espalhado em 4.200 km2.
Um ano atrás, a água armazenada no reservatório chegava a 54% da capacidade
total. Com um ano de chuvas ainda mais minguadas e menos da metade do
armazenamento que tinha em maio de 2014, a previsão é a pior possível.
O IBAMA acatou o pedido do ONS e da Chesf e deu uma
autorização especial para Sobradinho ter sua vazão reduzida para 900 m³/s.
Atualmente, a vazão está em 1.100 m³, o que já significa um volume muito abaixo
do normal. Pelas regras de operação firmadas com o IBAMA e com a ANA, a
represa, em condições normais de abastecimento e chuvas, tinha de escoar um
mínimo de 1.300 m³/s, mas não consegue atingir esse volume desde abril de 2013,
quando passou a operar em "caráter emergencial". Agora, essa vazão
será radicalizada para 900 m³, situação jamais vivida por Sobradinho desde a
sua fundação, em 1979. Até mesmo em 2001, ano do racionamento de energia, a
operação chegou ao mínimo de 1.000 m³/s.
"Com essa vazão, o impacto ambiental será muito
grande, além de prejudicar o abastecimento e a navegação. Sabemos que a
situação atual não dá muita alternativa, mas vamos monitorar isso", diz
Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São
Francisco (CBHSF).
Atraso
No plano desenhado pelo ONS, a nova redução de vazão
para Sobradinho permitirá que o reservatório atravesse o período seco deste ano
e chegue a outubro com pelo menos 8% de sua capacidade. Essa redução na água,
porém, que deveria ter começado neste mês, só vai ter início efetivo em junho.
A razão do atraso está em uma grande mancha escura
de algas, que tomou conta de aproximadamente 20 km do São Francisco, na região
de Delmiro Gouveia, em Alagoas. A origem do problema ambiental ainda não foi
totalmente diagnosticada, mas levou a ANA a pedir que o caso fosse inicialmente
resolvido e as algas retiradas, para que a redução da vazão ocorresse. O
Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) chegou a multar a Chesf em R$ 650
mil, por conta de danos ambientais. A Companhia de Saneamento de Alagoas
(Casal) cobra mais R$ 500 mil por prejuízos. A empresa alega que captações de
água foram paralisadas por conta do problema e que foi preciso abastecer a
população com carro-pipa. Nos cálculos do CBHSF, 105 mil pessoas de municípios
alagoanos estão sendo prejudicadas, por conta de restrições no abastecimento. A
Chesf recorreu. Ela nega responsabilidade pelo problema e atrela a situação a
outras influências, com o lançamento de esgoto no rio.
Em 13/05/15 representantes da Chesf vão se reunir
com a ANA para discutir o assunto. A estatal, que ainda não retirou as algas do
rio, vai pedir que os problemas sejam tratados de forma separada, ou seja, a
empresa vai cobrar a autorização para reduzir a vazão de Sobradinho, enquanto
tenta resolver o dano ambiental. "Nós entendemos que a presença da mancha
na água tem que ser tratada, mas a segurança hídrica é vital. Uma coisa tem de
ser dissociada da outra", diz João Henrique Franklin, da Chesf.
Localização Represa do Reservatório de Sobradinho/BA.
Localização Represa do Reservatório de Sobradinho/BA.
Sem
precedentes
O
reservatório de Sobradinho, que tem capacidade de armazenar um ‘mar’ de 28
milhões m3, só tem hoje 21% de sua capacidade.
Cidade
inundada voltou a aparecer em ruínas
Cidade
submersa voltou a aparecer em ruínas
Cidade
inundada voltou a aparecer em ruínas
Cidade
submersa voltou a aparecer em ruínas
Cidade inundada voltou a aparecer em ruínas
A previsão é de que, a partir de 27/05/15,
Sobradinho tenha sua vazão reduzida para 1.000 m³ por segundo.
Constatação de João Henrique Franklin,
superintendente de operação e contratos de transmissão da CHESF.
“Acompanhamos a Bacia do São Francisco há 84 anos.
Nunca vimos nada assim. Os primeiros meses de 2015 conseguiram ser ainda piores
que os do ano anterior.”
“Temos
de reduzir a vazão. Não se trata mais de preservar só o setor elétrico.”
Tempo seco
21% é o volume do atual reservatório de Sobradinho,
na Bahia.
28 bilhões m3 é a capacidade total do
reservatório.
4.200 km2 é a dimensão total da barragem
do Sobradinho.
54% era o nível das águas do reservatório baiano há
um ano.
8% será a capacidade de Sobradinho em setembro/15,
caso haja redução da vazão de água.
105 mil é o número de alagoanos que já é prejudicado
por redução de vazão de água. (OESP)
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