sábado, 19 de setembro de 2015

Sistema Cantareira tem ‘transição catastrófica’

Sistema Cantareira tem ‘transição catastrófica’, diz estudo
'A culpa não é do sistema natural, ele sempre funcionou assim. Foi um problema de gestão'.
Governo do Estado oficializou crise em agosto/15.
Um artigo recém-publicado por pesquisadores brasileiros em uma revista científica norte-americana afirma que o Sistema Cantareira sofreu uma “transição catastrófica”, entre o fim de 2013 e o início de 2014, provocada pela demora dos gestores em reduzir a exploração do manancial, apesar dos indícios de estiagem.
Os cientistas afirmam que, desde janeiro de 2014, quando a crise foi anunciada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o Cantareira já havia mudado do “estado normal” para um “estado de ineficiência”, no qual a água da chuva já não se reverte em aumento do nível de armazenamento das represas porque é absorvida pelo solo seco, no chamado “efeito esponja”.
Represa de Atibainha, em Nazaré Paulista, interior de São Paulo.
“A culpa não é do sistema natural, ele sempre funcionou assim. Foi um problema de gestão, que negligenciou aspectos fundamentais do funcionamento de bacias hidrográficas”, afirma o ecologista Paulo Inácio Prado, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores.
Para explicar a transição catastrófica, um termo da física que descreve mudanças bruscas de um estado para outro, o pesquisador Roberto Kraenkel, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (UNESP), compara a situação do Cantareira com a de um barco no lago. “Ele está sob o efeito do vento e das ondas, mas não vira. Se existir um evento excepcional, sabemos que o barco pode virar, e de forma rápida. Depois que ele vira, fica muito difícil desvirá-lo. Infelizmente, foi isso que aconteceu.”
Segundo Kraenkel, as chuvas na região do Cantareira não diminuíram de repente e o volume de água que entra nas represas por meio da chuva, dos rios e do lençol freático já vinha em queda há mais tempo. “Era possível ter percebido isso antes e reduzido a retirada de água do sistema desde outubro/13, mas isso só começou a ser feito em fevereiro. Desta forma, (os gestores) acabaram jogando o sistema dentro da catástrofe”, diz.
Segundo Prado, se as medidas tivessem sido tomadas naquela época, o racionamento de água seria menor hoje e a recuperação do sistema, mais rápida. “A retirada de água já está em menos da metade e ainda estamos com volume baixo. Se os próximos meses não forem muito chuvosos, será preciso reduzir ainda mais a distribuição da água”, diz. O estudo também é assinado pelo pesquisador Renato Mendes Coutinho, da UNESP.
Em nota, a Agência Nacional de Águas (ANA) cita relatório climático que aponta que a estiagem foi “anormal” e “imprevisível” e - desde fevereiro de 2014 - defende reduções significativas do uso do Cantareira. A Sabesp e o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) não se manifestaram até o fechamento da matéria. (yahoo)

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