Corte ambicioso de emissões pode fazer PIB crescer mais, aponta estudo.
Reduzir as emissões de gases de efeito estufa de um
modo mais ambicioso do que o Brasil já tem feito pode melhorar a economia,
aumentando o PIB em quase 4% e reduzindo o desemprego a uma taxa de 3,5%. A
previsão, para 2030, está num estudo realizado por 80 especialistas brasileiros
em mudanças climáticas sobre os impactos que medidas para conter o aquecimento
global podem ter na economia.
É uma tentativa de responder a um velho temor de que
ações nesse sentido poderiam impedir o desenvolvimento. Em números, a pesquisa
mostra exatamente o contrário: conter as emissões é um bom negócio para o bolso
do País.
O projeto Impactos Econômicos e Sociais: Cenários
de Mitigação de Gases de Efeito Estufa (IES-Brasil) compara medidas já
previstas na Política Nacional de Mudanças Climáticas com cenários futuros em
que são consideradas ações adicionais de mitigação.
O trabalho partiu das metas apresentadas pelo
Brasil durante a Conferência do Clima de Copenhague, em 2009, válidas para
2020, e nas previsões do governo contidas no Plano Nacional de Energia para
2050. Com base nesses dados foram propostos três cenários de mitigação para
2030: o primeiro, apelidado de Cenário de Plano Governamental (CPG), imagina
que essas medidas propostas para 2020 seriam estendidas até 2030; o segundo,
chamado de cenário de mitigação adicional 1, contém algumas ações extras de
redução das emissões; o terceiro, ou cenário de mitigação adicional 2,
apresenta ações mais ambiciosas de redução.
“Analisamos esses dados da perspectiva do ministro
da Fazenda e da presidente, que podem pensar: já sei que as mudanças climáticas
vão causar danos, mas se tomar medidas contra isso, será que não vai prejudicar
a economia, a classe média emergente que começou a ter acesso a bens de
consumo?”, explica o pesquisador Emílio La Rovere, coordenador do Centro de
Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Universidade
Federal do Rio, e um dos líderes do estudo.
Os pesquisadores consideram que o Brasil vai
cumprir a meta para 2020, mas, no cenário de plano governamental, as emissões
brasileiras subiriam um pouco logo depois, podendo chegar a 2030 em 1,66
gigatonelada de CO2-equivalente (hoje estão em torno de 1,2 gigatonelada --
veja quadro acima). No cenário de mitigação adicional 1, as emissões seriam 22%
menores, sendo de 1,3 gigatonelada em 2030. Já no cenário de mitigação
adicional 2, a redução seria de 39%, ficando em 1 gigatonelada.
A análise considerou os custos para adotar essas
ações, expectativas de crescimento da economia brasileira, do valor do barril
de petróleo e do tamanho da população. Pelos cálculos, no CPG o PIB chegaria a
5,5 trilhões, no mitigação 1, a 5,69 trilhões, e no mitigação 2, a 5,68
trilhões. O último valor é 3,98% maior que o primeiro. Já a taxa de desemprego
cairia, respectivamente, a 4,35%, 4,08% e 3,50%, principalmente com a geração
de vagas na indústria de energias renováveis.
A conclusão é que nos três cenários “é possível
crescer economicamente, melhorar o desenvolvimento social e reduzir as
emissões”, mas que menos carbono na atmosfera pode trazer um resultado ainda
melhor. “A nossa projeção considera que o governo vai reduzir o custo Brasil,
aumentar a nossa produtividade, investir em educação e inclusão social”,
afirmou William Wills, coordenador de modelagem do estudo, durante apresentação
dos resultados do programa em audiência pública na Comissão Mista de Mudança
Climática do Congresso na última terça-feira (25).
“Não atrapalha a economia, nem o emprego nem o
consumo para classes de baixa renda. E se o mundo realmente embarcar na
transição para diminuir as emissões, o Brasil já sairia fortalecido se adotasse
medidas mais ambiciosas. Essa é a mensagem do estudo, o Brasil pode assumir
liderança na negociação”, complementa La Rovere.
Ele explica ainda que são cenários plausíveis mesmo
considerando o momento de recessão em que o Brasil se encontra.
Metas para Paris
Coordenado pelo Fórum Brasileiro de Mudanças
Climáticas, o trabalho, encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente, está
sendo trazido a público agora, mas já tinha sido apresentado no final de março
para a ministra Izabella Teixeira, como subsídio para a elaboração das chamadas
INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas, na sigla em
inglês). Tratam-se das metas de redução de emissões que cada país tem de
apresentar até 1º de outubro para as negociações da Conferência do Clima que
será realizada em Paris, no final do ano.
O Brasil ainda não apresentou a sua e há uma expectativa
de que isso ocorra durante a cúpula da ONU sobre os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu de 25 a 27 de setembro reunião da
Assembleia Geral da ONU em Nova York. (biodieselbr)
Nenhum comentário:
Postar um comentário