“É impossível que esse modelo, tal como o
conhecemos, mantenha de pé as três bases do tripé da sustentabilidade, que na
verdade se transformou em um trilema” - (Martine e Alves, 2015)
Existe
um mito que ronda o panorama internacional que é o conceito de desenvolvimento
sustentável e o chamado tripé da sustentabilidade. Enquanto uma ideia um tanto
quanto utópica, busca-se interpretar o desenvolvimento sustentável como sendo
um processo de produção de bens e serviços “socialmente justo, economicamente
inclusivo e ambientalmente responsável”.
Mas
na prática, o desenvolvimento sustentável não passa de um oxímoro e o tripé da
sustentabilidade não é um tripé, mas um trilema. Trilema é um termo utilizado
quando se tem uma proposição formada de três lemas contraditórios ou que reúnem
uma escolha difícil entre três opções conflitantes.
O
crescimento das atividades antrópicas está colocando cada vez mais pressão
sobre o Planeta. Está ficando difícil conciliar crescimento econômico,
bem-estar social e sustentabilidade ambiental. Aliás, está aumentando a ruptura
entre os polos desse trilema. O pior é que quanto mais avança o modelo de
produção e consumo hegemônico, maiores são os riscos globais de colapso, pois
temos um “fluxo metabólico entrópico” que dissipa a energia e degrada o
“capital natural” da Terra.
Ou
seja, o “sistema de produção e consumo hegemônico” (capitalista de mercado ou
capitalista de Estado) não consegue, ao mesmo tempo, ser socialmente justo e
ambientalmente sustentável. Ou um ou outro. Por isto é impossível ao “modelo
hegemônico”, tal como o conhecemos, manter de pé as três bases da
sustentabilidade, que na verdade estão em constante conflito.
Até
2100 a população mundial deve atingir mais de 11 bilhões de habitantes. Se o
“sistema econômico hegemônico” (modelo “Extrai-Produz-Descarta” com
desigualdade social) conseguir incluir todas estas pessoas no padrão médio de
consumo a demanda por recursos naturais será enorme e o impacto sobre a
degradação do meio ambiente pode ser irreversível. Se a maioria destas pessoas
ficarem de fora das “benesses” do capitalismo, haverá uma grande revolta social
e uma grande disputa entre os povos do mundo, que vai fazer a crise migratória
atual parecer um problema muito pequeno e quase insignificante.
O
fato é que vivemos numa sociedade de risco que gera negatividades crescentes. É
ilusão acreditar que a racionalidade e a tecnologia vão resolver todos os
problemas. O sistema hegemônico só se sustenta em pé se atender os três pilares
da sustentabilidade. Mas é praticamente impossível atender o tripé em um
processo de continuo crescimento demoeconômico, em num Planeta finito. É
preciso evitar a “orgia consumista”, nas palavras de Zygmunt Bauman, ou o
“consumicídio” nas palavras de Josep Gali.
O
desenvolvimento sustentável se tornou um oximoro e o tripé da sustentabilidade
virou um trilema. A utopia dos ODS pode se transformar em distopia. Vejam os
textos da REBEP que tratam deste assunto:
MARTINE,
G. ALVES, JED. Economia, sociedade e meio ambiente no século 21: tripé ou
trilema da sustentabilidade? R. bras.
Est. Pop. Rebep, n. 32, v. 3, Rio de Janeiro, 2015 (em português e em inglês)
MARTINE, G. Reviving or interring global
governance on sustainability? Sachs, the UN and the SDGs. R. bras. Est.
Pop. Rebep, n. 32, v. 3, Rio de Janeiro,
2015 (ecodebate)
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