domingo, 13 de dezembro de 2015

Efeito estufa, mercado de carbono e inversão térmica

Atmosfera: esclarecendo efeito estufa, mercado de carbono e inversão térmica
Muitas são as discussões sobre questões atmosféricas. Pouco é o entendimento.
O texto está dividido em cinco principais tópicos:
(1) Efeito estufa,
(2) Mercado de carbono (e Protocolo de Quioto),
(3) Camada de ozônio,
(4) Inversão Térmica
(5) Ilha de calor. Tentei simplificar ao máximo, colocando as informações de maneira resumida, mas tomando o cuidado de não deixar de fora informações importantes. Espero que ajude!
1) Efeito Estufa:
Trata-se de um fenômeno natural da Terra. Não se pode confundir efeito estufa com poluição e menos ainda com inversão térmica. São coisas diferentes.
Para entender o efeito estufa vamos dar uma olhada na composição (resumida) da atmosfera: 98% é composta por Nitrogênio + Oxigênio. Os 2% restantes é composto um monte de outros gases como CO2, Metano, Ozônio e etc. Muitos destes gases são classificados como “gases de efeito estufa”, ou seja, cuja concentração na atmosfera contribui para o aquecimento global. Estes gases sempre existiram no planeta, mas em concentrações menores e mais equilibradas. O problema que estamos enfrentando é que a ação humana na terra – desde a revolução industrial – tem emitido desordenedamente estaasa gazes (CO2 e Metano, principalmente). Aumentando em muito a concentração deles na atmosfera acabamos contribuindo para a aceleração do aquecimento da temperatura no planeta. Quer um dado alarmante? Previsões recentes (ONU) indicam que com o ritmo de produção econômica no mundo, deveremos dobrar as concentrações de gases de efeito estufa até 2050. Imagine como ficará o clima.
Gases de efeito estufa se acumulam na atmosfera evitando a dispersão do calor.
Bom, é nesta parte da história que entra a questão dos combustíveis fósseis. E o vilão do aquecimento global é justamente a combustão destas substâncias. A queima de carvão e de petróleo, chamados de “fósseis” porque estavam aprisionados no subsolo do planeta há milhões de anos, vão para a atmosfera em forma de CO2 (Dióxido de Carbono). E não é pouca coisa, pois quase tudo o que fazemos envolve de alguma maneira a queima destes combustíveis (produção de energia, automóveis, produção industrial, etc).
São Paulo ultrapassa os 7 milhões de automóveis segundo DETRAN. Congestionamentos gigantes e durante o dia inteiro se transformou em uma constância na cidade. Carros em baixo movimento acabam emitindo mais poluentes.
Além dos carros – considerados como os maiores emissores de gazes de efeito estufa – a queima das florestas, a criação de gado (o “arroto” e não “pum” como dizem emite grandes quantidades de gás metano), a produção de cimento, a queima de Lixo (metano), o CFC que por décadas usamos nas geladeiras e nos aerossóis, são mais alguns dos vilões que contribuem para o efeito estufa.
Relação de emissões de gases de efeito estufa por setor da economia.
Principais gases de efeito estufa e evolução de suas emissões
E o Brasil com isso? Bom, além do grande aumento de veículos no país, as queimadas e a retirada das florestas são as maiores contribuições do Brasil com o aquecimento global. Isto para compensar nossa “energia limpa”. Por estarmos em um país com grande potencial hídrico (muitos rios), foi possível desenvolver uma matriz energética com base na força das águas (hidroelétricas) e não da queima de combustíveis fósseis (carvão ou petróleo). É um cenário positivo, entretanto, ainda existem no país projetos de usinas elétricas baseadas na queima de carvão (termoelétricas).
Mapa das usinas termoelétricas no Brasil.
Nota importante: as florestas, na verdade, não são o “pulmão” do planeta por conta da fotossíntese, mas sim o “refrigerador” do mundo, por conta da grande capacidade em regular a temperatura. Ao retirar a cobertura vegetal, aumentamos a capacidade dos solos em absorver calor aumentando gradativamente a temperatura da terra. Além disso, no caso do Brasil, grandes florestas como a amazônica são responsáveis por cerca de 50% das chuvas no país, pois exercem um papel importante no ciclo das águas do continente.
Queimadas e desmatamento em Rondônia.
Mapa do desmatamento da Amazônia brasileira, divulgado em agosto de 2009.
2) O mercado de carbono:
Para incentivar países e empresas a melhor controlar suas emissões de gases de efeito estufa foi criado em 1997, através do Protocolo de Quioto, o Mercado de Carbono. O instrumento oficializou uma espécie de comércio internacional onde empresas emissoras podem “comprar” créditos de carbono de outras que de alguma maneira reduziram suas emissões. Para você ter uma ideia, a moeda de valor do mercado de carbono é o CO2 e uma tonelada de CO2 vale cerca de 10Euros. Para se chegar ao “saldo” é preciso mudar algum processo na atividade da empresa. Calculando quanto sua empresa emitia em CO2 antes da mudança e quanto ela deixou de emitir com a nova prática chegamos a um valor de emissão. Este valor você pode vender a título de Crédito de Carbono para alguma outra empresa que não consegue ou não pode mudar seus processos para reduzir a emissão. Entendeu?
Tabela de equivalência para calculo de valor.
Por falar em Protocolo de Quito, foi também nesta ocasião (em 1997) que se definiu uma meta internacional de redução de 5% das emissões de gazes de efeito estufa nos países desenvolvidos. Não precisa nem dizer que um dos países com maior emissão do mundo (os EUA) se negou a entrar no acordo.
Ranking de países por emissão de gases de efeito estufa.
3) Buraco na camada de Ozônio:
Os gases CFC (Cloro, Fluor, Carbono) são os grandes vilões quando falamos em buraco na  camada de Ozônio. Isto porque estes gases reagem com o Ozônio presente na atmosfera em maiores altitudes (estratosfera). Esta reação acaba destruindo esta camada (de Ozônio), que é  responsável por filtrar os raios ultra-violetas (UVB) do sol. Sem este filtro, pessoas, animais e plantas estão suscetíveis a graves problemas. Para se ter uma ideia, raios UVB geram grandes impactos na agricultura (queimando produções agrícolas), diminuem o Fitoplancton dos mares ( “pulmão” do mundo), podem gerar cegueira nas pessoas (catarata), mutações genéticas em organizamos vivos, câncer de pele, entre outros problemas.
Os gases CFC foram massivamente utilizados por décadas após a revolução industrial. Estavam presentes em geladeiras comuns, aerozóis, produção de comida, indústria automotiva e refrigeração (ar condicionado). O processo de entendimento do problema (comprovação) do buraco na camada de ozônio levou cerca de 50 anos e esta demora foi muito prejudicial ao planeta. Somente na década de 80, quando conseguiu-se efetivamente comprovar o buraco na camada de Ozônio e suas causas é que a sociedade teve conhecimento da gravidade do problema. Em 1985, após muita luta por parte dos cientistas, a ONU fez um acordo global e os países tiveram que banir o uso destas substâncias (Convenção de Viena, em 1985 e  Protocolo de Montreal, em 1986). A meta estipulada nestas ocasiões era de banir a substância até 2010. O Brasil se antecipou e em 2007 já não mais utilizava CFC – nem importava e nem produzia. Ponto positivo para nós!
Raios ultravioletas (UVB) atravessando a camada de Ozônio (protetora)
Nota 1: a demora na tomada de atitudes para mitigar este problema ambiental levou a humanidade a um grande aprendizado mundial: o “Princípio da Precaução”. Este princípio, criado na Rio92, define: “Nós temos o direito de desenvolver mecanismos de prevenção a um problema ambiental mesmo sem comprovar exatamente a causa deste problema”. Me parece justo.
Evolução do tamanho do buraco na camada de Ozônio nos últimos 30 anos.
Nota 2: o Ozônio, na estratosfera é benéfico, pois funciona como um filtro natural aos raios ultra-violetas do sol (UVB). Já na troposfera (aqui junto com nós nas cidades), o Ozônio é um poluente extremamente nocivo à saúde humana.
Nota 3: CFC = Cloro + Fluor + Carbono. Mais precisamente o Clorofluorcarbonos (CFC) e os Hidroclorofluorcarbonos (HCFC).
É importante lembrar que os gazes de efeito estufa não impactam a camada de ozônio. Já os gazes responsáveis pelo buraco da camada de ozônio são também altamente responsáveis pelo efeito estufa!
4) Inversão Témica:
Em algumas regiões, devido a concentração de poluentes na atmosfera e a falta de circulação suficiente de ar para dispersá-los, acontece o fenômeno da Inversão Témica. Com o aquecimento do ar, alguns poluentes tendem a subir junto com as correntes ascendentes. Em determinada altitude, devido a falta de dispersão, o acúmulo destes poluentes faz com que a temperatura aumente desproporcionalmente criando uma camada mais quente sobrepondo uma outra camada, inferior, mais fria. Esta camada fria em baixo acaba aprisionando os poluentes na camada superior, criando uma espécie de “membrana de poluentes”: efeito chamado de Inversão Témica. Em dias de céu azul a camada de inversão, com poluentes aprisionados é bastante visível próximo à linha do horizonte. Nas cidades isto é mais um agravante pois tente a acumular cada vez mais poluentes deixando a qualidade do ar em péssimas condições.
5) Ilha de calor:
Para esclarecer, ilha de calor nada tem a ver com mudanças climáticas ou com inversão térmica. Mudança climática é um fenômeno global impactando todo o planeta. Já a ilha de calor é um fenômeno regional de elevação do calor em detrimento da pouca cobertura vegetal, por exemplo. Cidades com excesso de concreto e poucas árvores, sofrem o efeito de maior aquecimento uma vez que a vegetação funciona como regulador térmico. Isto porque, sem árvores para reter o calor e produzir sombras, a capacidade do solo em reter este calor aumenta criando um microclima mais quente nestas regiões.
Para quem mora em São Paulo vale a pena fazer o seguinte teste: em um dia quente meça a temperatura na Av. Juscelino Kubitschek antes do túnel que atravessa o Rio Pinheiros. Depois siga adiante e meça a temperatura após atravessar o túnel. Você perceberá a grande diferença de temperatura (bem mais amena) após atravessar o rio, quando estiver ao lado do Morumbi, bairro bem mais arborizado.
Em conclusão, é preciso buscar uma melhor relação entre crescimento econômico e ganho ambiental. Hoje, não existe crescimento sem emissão de gases de efeito estufa ou outros poluentes atmosféricos, ou seja, sem perdas às pessoas e ao meio ambiente. Como estamos falando de aquecimento global, com efeitos danosos a todos os seres humanos a médio prazo, estamos falando de um crescimento falso e imediato, mas com uma alta conta a ser paga no futuro, por todos os países. É possível calcular as emissões de poluentes proporcionalmente ao crescimento populacional e de consumo. Quanto mais gente e mais consumo, maiores as emissões.
Os humanos estão em um caminho sem muita volta. Para reverter a situação faz-se necessárias medidas profundas e rápidas que afetam o coração do sistema e dos valores que compartilhamos. É necessário rever a economia, a produção, o consumo, dentre outras mudanças. (ecopiniao)

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