El Niño
mais forte que nunca agrava fome na África e na Ásia
Este fenômeno da natureza, particularmente
violento em 2015/16, está a colocar em risco 30 milhões só na África, das quais
10 milhões na Etiópia.
Secas
extremas e inundações de dimensões pouco menos do que bíblicas – de tudo isto
teremos este ano, em consequência desse fenômeno natural que dá pelo nome
pueril de El Niño, o mesmo que fez de 2015, o ano mais quente de sempre. “Os
fenômenos” (El Niño) de 1982-1983 e 1997-1998 foram os de maior impacto no
século passado e parece que, agora, vemos uma repetição, afirmou recentemente,
ao canal inglês BBC, o especialista em clima do Laboratório de Propulsão a Jato
da NASA e estudioso do El Niño EUA, William Patzert.
A Indonésia,
por exemplo, vive um ano de seca, na Índia, a monção esteve 15% abaixo do
normal; na América Central, são esperadas mais inundações. A devastação
climatérica tem como consequência direta a subida dos preços dos alimentos e,
no fim da linha, a fome. Os preços já começaram a subir. “A crescente
preocupação de que o El Niño possa dificultar a oferta de óleo de palma
na Indonésia, juntamente com o lento progresso da plantação de soja no Brasil e
ainda as condições meteorológicas desfavoráveis, resultou num aumento de 6,2%
do índice de preços dos óleos vegetais”, refere a FAO. Culturas como o café, o
arroz, o cacau e o açúcar tendem a ser particularmente afetadas e o mesmo será
dizer dos preços. O continente africano está na primeira linha dos que sofrem
com a fome. O pico da escassez de alimentos é esperado já em fevereiro. Neste
continente, estima-se que cerca de 31 milhões de pessoas estejam em risco, das
quais 10,2 milhões só na Etiópia. A situação é tão grave neste país do
corno de África que o governo reservou, segundo o africa21online, uma dotação
orçamental de 192 milhões de dólares para enfrentar o flagelo. Organizações de
ajuda humanitárias como a Oxfam têm vindo a alertar para os impactos que o El
Niño vai acrescentar às já difíceis situações guerras na Síria, no Sudão do Sul
e no Iémen.
Diga-se
porém que, apesar da sua dimensão gigantesca, o El Niño é tão só mais um fator
indutor da fome num mundo profundamente desigual. Com efeito, de acordo com
dados das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), no mesmo
planeta onde 795 milhões de pessoas passam fome desperdiçam-se, por ano, 1,3
mil milhões de toneladas de comida, num custo avaliado em… US$750 mil milhões.
À tragédia
individual destes quase 800 milhões acrescem as consequências do desperdício de
alimentos global, numa perspetiva ambiental. Isto é, o desperdício alimentar
tem consequências para o clima, para a biodiversidade, para o uso da água e a
utilização do solo. O Estudo “Os Rastos do Desperdício de Alimentos: Impactos
sobre os Recursos Naturais” revela números enormes: a cada ano, os alimentos
produzidos, mas não consumidos, gastam um volume de água correspondente ao
fluxo anual do rio Volga que, com os seus 3688 km, é o mais longo da Europa, e
assinam a emissão de 3,3 mil milhões de toneladas de gases de efeito estufa na
atmosfera. Os números da ONU também nos dizem que no virar do milénio era pior.
Desde 2000, no conjunto dos países em desenvolvimento, o nível de fome caiu
27%. Porém, enquanto o mundo tem feito progressos na redução da fome nas
últimas décadas, o estado de fome ainda é grave ou alarmante em 52 países.
Terá este
problema alguma vez solução? A ciência tenta dar uma ajuda, desenvolvendo tecnologias
que possam contribuir para alimentar o planeta de forma sustentável. A alemã
Deutsche Welle disponibiliza no seu portal um programa, “Futurando”, que reúne
algumas dessas ideias, como a da carne criada em laboratório. O método consiste
em cultivar células bovinas e, a partir daí, produzir esta proteína.
A solução
para o problema da fome assenta nas vertentes econômicas e política. Depende da
vontade dos poderosos. Aos líderes mundiais apelou, em setembro, o
diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, na Cimeira do Desenvolvimento
Sustentável: “Temos uma tarefa enorme que começa com o compromisso histórico de
não só reduzir mas também erradicar a pobreza e a fome de maneira sustentável”.
As metas
globais da FAO para 2030 colocam no centro das políticas mundiais a fome e a
agricultura. No âmbito desta estratégia, foi lançada a iniciativa Compact 2015,
à qual já aderiram o Bangladesh, a Etiópia, o Malawi e o Ruanda. Haver uma
meta, quer nos parecer que é, pelo menos, já um sinal de esperança. (oje.pt)
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