sábado, 23 de abril de 2016

Acabou a crise hídrica em SP?

A crise hídrica acabou em SP?
Veja opiniões do governo e especialistas.
O Governador disse no início de março/16 que a questão da água está ‘resolvida’.
Já moradores da Grande SP relatam que ainda falta água periodicamente.
Vista da represa do Jaguari-Jacareí, do Cantareira. Em 22 de março é comemorado o Dia Mundial da Água, mas em São Paulo a população ainda não se sente segura para celebrar o fim da crise hídrica anunciado no início do março/16 pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Afinal, a crise hídrica acabou? O governo garante que sim. Moradores relatam que ainda convivem com a falta d’água diariamente, e especialistas em recursos hídricos pedem cautela antes de cantar vitória.
"A gente está sempre correndo atrás de prejuízo, buscando água cada vez mais longe. Precisamos melhorar mecanismos de gestão, práticas de reuso. É um momento para avançar em outras agendas para estruturar soluções de longo prazo para segurança hídrica", explicou Samuel Barrêto, gerente nacional de água da The Nature Conservancy.
Dias depois da declaração de Alckmin, um temporal provocou enchentes em várias cidades da Grande São Paulo. Em 21/03 o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), anunciou que a cidade de São Paulo teve índice de chuvas 9% acima do esperado para o verão. O outono chegou e a tendência é chover cada vez menos nos próximos meses.
O G1 conversou com especialistas e com a Sabesp, companhia responsável pelo fornecimento na região metropolitana, e elaborou uma lista de perguntas e respostas sobre a crise hídrica, que começou em 2014.
A crise da água acabou?
O governo e a Sabesp dizem que sim, mas especialistas pedem cautela e moradores relatam torneiras secas de forma periódica na Grande São Paulo. Segundo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a questão da falta d’água não tem mais risco, mesmo que haja seca. "Teremos a partir do ano que vem uma superestrutura em São Paulo. O estado e a região metropolitana estarão bem preparados para as mudanças climáticas”, disse Alckmin.
O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, afirmou que isso não significa que a população pode esquecer do uso consciente da água. "Nós não estamos dizendo: ‘bom, a crise acabou e agora liga o chuveiro, deixa o chuveiro aberto’. Não, nada disso. Continue economizando água. Apenas estamos dizendo: ‘não precisa sofrer mais’", disse.
Já o gerente nacional de água da organização sem fins lucrativos de conservação ambiental The Nature Conservancy (TNC Brasil), Samuel Barrêto, admite que São Paulo não passa pelo auge da crise, mas defende que a situação está longe de ser superada. “Bastou ele [Alckmin] falar e começou a aparecer diversas manifestações de pessoas que estão sem água. A situação é mais favorável em relação ao ano passado, mas ainda está bem longe de dizer que toda a questão está superada".
O professor da USP e Uninove, e especialista em recursos hídricos, Pedro Luiz Côrtes, classificou como precipitada a decisão de decretar o fim da crise hídrica. Segundo ele, apesar da chuva acima da média nos últimos meses, os reservatórios têm capacidade para abastecer a população até o fim de 2016, mas sem um fôlego no caso de um período de seca mais extremo durante o inverno.
"Embora o período de chuva ainda esteja em vigência, nós já temos um prognóstico de que a chuva no segundo semestre não seja tão intensa como foi no segundo semestre do ano passado, já sob influência do El Niño, mas ainda não dá pra calcular essa redução", explicou o especialista.
Por que ainda falta água em algumas casas?
A redução de pressão na rede ainda ocorre, mas em períodos mais curtos. Segundo a Sabesp, moradores de bairros mais altos, sem caixa d'água em casa, podem ficar com as torneiras secas entre 23h e 5h, quando a pressão é reduzida na rede. Se ocorrer falta d'água em outros horários, a companhia defende que o problema não é causado pelo fechamento das válvulas e orienta os moradores a comunicarem o serviço de atendimento ao cliente.
"São muitas as causas de falta de água na casa das pessoas. As mais comuns são sobre problemas na rede de distribuição, que não têm nada a ver com a redução de pressão. Se tive manutenção em uma rede, se tiver acidente, falta de energia em uma estação elevatória, esses são os episódios que em geral levam o maior número de pessoas a ficarem sem água. Esses eventos estão ocorrendo todos os dias, ainda mais em uma cidade como São Paulo, onde as tubulações são antigas", afirmou o presidente da Sabesp, Jerson Kelman.
Ainda tem desconto na conta para quem economizar?
Sim, mas desde fevereiro está mais difícil conseguir o bônus porque a Sabesp mudou a forma de calcular o desconto. No mês passado, a adesão ao programa caiu um terço e só 44% dos clientes da companhia conseguiram o desconto na conta. A empresa disse que decidirá quando o programa deve acabar em um "momento oportuno".
Ainda tem multa para quem gastar mais água?
Sim, e o índice de aplicação de sobretaxa na conta de água tem aumentado desde o ano passado. Em fevereiro, 15% dos clientes da Sabesp foram multados por consumirem mais do que a média, antes da crise hídrica. Ainda não foi definida uma data para o fim da cobrança.
As represas já se recuperaram?
Em partes. A chuva acima da média acelerou a recuperação das represas e, em março, o volume de água armazenado nos sistemas que abastecem a Grande São Paulo ultrapassou o nível do início da crise hídrica. No fim do ano, o Sistema Cantareira saiu da reserva técnica e opera, desde então, com seu volume útil.
De qualquer forma, em 2012, antes da crise, o maior reservatório de São Paulo operava no dia 10 de março com 74,8%. Na mesma época, no ano seguinte, baixou para 60,4%. Em 2014, o nível foi para 14,5%, depois caiu para 12,6% no ano passado. Atualmente, está em 63,5%, mas ainda considera duas cotas do volume morto no cálculo.
O volume morto ainda é explorado?
Não. Em dezembro do ano passado, o Sistema Cantareira saiu da reserva técnica e opera, desde então, com seu volume útil. Uma resolução de órgãos reguladores cancelou a autorização dada à Sabesp para exploração das reservas. Caso seja necessário voltar ao volume morto, a companhia terá que pedir uma nova autorização para a Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE).
Sistema de captação do volume morto da Represa Atibainha em novembro/14.
O volume morto é uma reserva com 480 bilhões de litros de água situada abaixo das comportas das represas do Cantareira. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população. Em maio de 2014, bombas flutuantes foram inauguradas para a captação da primeira cota da reserva. Em julho, o volume útil do Cantareira acaba e o abastecimento de parte da região metropolitana é feito somente com a primeira cota.
Em outubro de 2014, a Sabesp consegue autorização para usar uma segunda cota do volume morto, com 105 bilhões de litros. Somente em dezembro do ano passado, o sistema conseguiu recuperar as duas cotas do volume morto e voltou a operar apenas com o volume útil.
Quais obras foram feitas na crise?
Considerada a obra mais importante para a crise hídrica, a interligação dos sistemas Rio Grande e Alto Tietê foi inaugurada em setembro do ano passado, com atraso. O projeto prevê a transferência de até 4 mil litros por segundo e, segundo a Sabesp, estava nesse índice em fevereiro. O Sistema Cantareira também foi beneficiado com a obra porque o bombeamento fez com que as regiões atendidas pelo sistema passaram a ser abastecidos pelo Alto Tietê, ajudando a aliviar o manancial em crise.
A capacidade de produção do Sistema Guarapiranga também foi ampliada em 1 mil litros por segundo. Já o Sistema Rio Grande aumentou em 500 litros por segundo sua produção de água com obras de ampliação para tratamento. A Sabesp cita ainda como projetos contra a crise a ampliação da transferência de água do córrego Guaratuba e a ligação do Guaió para o Sistema Alto Tietê.
Existem obras em andamento?
Sim. A Parceria Público Privada (PPP) São Lourenço vai ampliar em até 6,4 mil litros por segundo a produção de água na região. É considerada uma das maiores obras de saneamento do país e deve ficar pronta em 2017. Outro projeto é a interligação entre a represa Jaguari, em Igaratá (SP), na Bacia do Paraíba do Sul à represa de Atibainha, em Nazaré Paulista (SP), no Sistema Cantareira.
Inicialmente, a Sabesp previa dar início ao trabalho em maio de 2015 e depois alterou o cronograma para agosto. A entrega da primeira fase do empreendimento está prevista para abril de 2017. A Sabesp também aguarda licença ambiental prévia para aproveitamento da bacia do rio Itapanhaú, com a reversão de águas do ribeirão Sertãozinho (formador do rio Itapanhaú) para o reservatório de Biritiba. O sistema está concebido para captar em uma vazão média de 2 m3/seg.
Obra resolve o problema?
As obras, no entanto, têm "prazo de validade", segundo o gerente nacional de água da The Nature Conservancy. "Aumenta o consumo, e a gente está sempre correndo atrás de prejuízo, buscando água cada vez mais longe. Precisamos melhorar mecanismos de gestão, práticas de reuso. É um momento para avançar em outras agendas para estruturar soluções de longo prazo para segurança hídrica", explicou Samuel Barrêto.
Entre uma das propostas para reuso anunciadas no início da crise hídrica estão as estações de produção de água de reuso, as EPARs, com tratamento de esgoto para abastecimento humano. A Sabesp, no entanto, decidiu priorizar obras de interligação por acreditar que "há outros projetos de engenharia que podem gerar resultados mais eficientes com custos menores e entrega em menos tempo".
Obra de transferência da água do Paraíba do Sul para a represa Atibainha. (g1)

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