sexta-feira, 1 de abril de 2016

Qual a relação entre florestas e mudanças climáticas?

Em 21/03 é comemorado o Dia Internacional das Florestas, uma data instituída pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, para sensibilizar a população sobre a importância das florestas para a vida e a necessidade de preservá-las. Este ano, o tema escolhido para discussão é "Florestas e mudanças climáticas", um assunto que ganha cada vez mais espaço na pauta de discussões internacionais, em especial porque neste ano acontece a 21ª Conferência do Clima, em Paris, onde está prevista a negociação de um novo acordo entre os países signatários da Convenção. Os debates sobre mudanças climáticas globais são cada vez mais relevantes para o Brasil, considerando os compromissos internacionais assumidos de redução de emissões de gases de efeito estufa.
Mudanças do clima (MC) sempre aconteceram, mas demoravam grandes períodos de tempo para serem sentidas. Hoje, este processo está sendo mais intenso por causa do efeito estufa, um fenômeno natural, até mesmo essencial para a existência de vida no planeta, mas que tem sido intensificado pelo aumento da concentração dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, em especial gás carbônico, metano e óxido nitroso. As florestas atuam neste cenário tanto com potencial de mitigação do efeito estufa, por meio do sequestro de GEE, como também precisam de atenção sobre os impactos que poderão sofrer com as alterações do clima, isso tanto para espécies florestais naturais  quanto plantadas, que são utilizadas com fins comerciais e tem importância na economia brasileira. O tema é complexo e multidisciplinar, o que têm exigido intensificação de esforços da pesquisa científica para conhecer melhor os efeitos da relação entre florestas e clima, além do desafio de fornecer respostas relativamente rápidas em um tema que exige mais tempo de pesquisa devido ao seu ciclo longo.
Para isso, o Brasil tem investido em projetos como o "Simulação de Cenários Agrícolas Futuros a Partir de Projeções de Mudanças Climáticas Regionalizadas" (SCAF), coordenado pela Embrapa em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O SCAF realizou análises de risco climático com projeções futuras do clima para culturas agrícolas e florestais. Os estudos levaram em conta diversas simulações de cenários, desde os com maior concentração de GEE e consequente aumento da temperatura, até os cenários de baixa emissão. O projeto avaliou os riscos sobre dez espécies florestais, tais como araucária (Araucaria angustifolia), erva-mate (Ilex paraguariensis), paricá (Schizolobium amazonicum), Eucalyptus grandis e Pinus taeda, considerando as projeções de cenários globais regionalizados. Os mapas de risco climático foram gerados a partir de dados de uma rede de estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Os cenários de emissões (SRES, da sigla em inglês) utilizados foram baseados no IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que levam em conta cenários projetados de aumento populacional e desenvolvimento socioeconômico, entre inúmeros outros indicadores. Segundo a pesquisadora Rosana Higa, da Embrapa Florestas, "as projeções futuras do clima feitas com o uso de modelos climáticos são extremamente úteis e podem ser usadas como ferramentas para auxiliar na adaptação das diversas culturas às novas condições".  
Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), entidade que representa o setor de florestas plantadas, o país possui hoje 7,6 milhões de hectares de plantios florestais com fins econômicos, sendo que o gênero Eucalyptus é o mais plantado, em especial como matéria-prima para papel, celulose, movelaria e carvão vegetal, seguido pelo Pinus. O setor representa, atualmente, 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo o quarto maior produtor mundial de celulose, o nono maior produtor de papel. Toda esta cadeia pode ser impactada fortemente pelas mudanças climáticas. Algumas simulações de cenários apontam, por exemplo, que regiões hoje aptas ao cultivo de espécies florestais podem ser deslocadas em virtude das mudanças climáticas.
Já para as espécies nativas estudadas, o clima alterado poderá modificar as áreas de ocorrência natural de algumas espécies, o que também pode causar impacto nas reservas de biodiversidade do país. "É certo que os limites climáticos da distribuição natural de diversas espécies vão sofrer alterações e o conhecimento é a chave para evitarmos grandes perdas. Ao identificar uma espécie que será impactada, podemos retirar esse genótipo dali e plantar em outros lugares, onde o clima não vai se alterar ou será mais suscetível àquela espécie", explica a pesquisadora.
Poderão ser observados, ainda, efeitos indiretos, como por exemplo, a suscetibilidade ao ataque de pragas e doenças em virtude das plantas estarem enfraquecidas, bem como o aumento de incêndios florestais. O zoneamento de risco climático, não só baseado no clima atual, mas também no clima futuro, vai possibilitar informações estratégicas para a expansão de áreas de plantações florestas e programas de conservação genética.
Os dados do Scaf devem ser publicados ainda este ano, facilitando a discussão de políticas públicas relacionadas a florestas, entre outras culturas pesquisadas. No caso de florestas, os resultados podem trazer indicações de estratégias de conservação, manejo e melhoramento genético, entre outras, colaborando para a chamada economia de baixo carbono. "Melhorar o conhecimento principalmente por meio de observações de médio e longo prazo é a ‘arma' que nós temos", explica a pesquisadora Rosana Higa. "A gente não tem tempo pra aposta. Tanto florestas nativas quanto plantadas têm ciclos longos, estão dispostas diretamente ao tempo, e a tomada de decisão errada pode representar grandes prejuízos ambientais e financeiros. Nossos desafios e complicações são muito maiores", afirma. Antecipação e planejamento são pontos-chave, uma vez que o clima é, sem dúvida, o principal fator determinante da adaptação e crescimento das árvores.
Balanço de GEE
Em outra linha de trabalho, conhecer o balanço dos GEE dentro das florestas nativas e plantadas é outro desafio.
Quanto emitem?
Quanto absorvem?
Em que condições ajudam a mitigar ou favorecer as MC?
Qual o papel do Brasil no cenário global?
São informações que afetam diretamente a posição do país nas Conferências do Clima.  Melhorar estes dados sobre o balanço das emissões brasileiras é outra grande e complexa linha de pesquisa. No caso de florestas, o projeto Saltus, coordenado pela Embrapa Florestas (Colombo/PR) em parceria com instituições de pesquisa, universidade e empresas privadas, está estudando o balanço da emissão e absorção de gases de efeito estufa em florestas plantadas e naturais representativas dos biomas Mata Atlântica, Pampa, Pantanal, Cerrado e transição Cerrado/Amazônia. São 15 unidades de estudo distribuídas nestes biomas, pesquisando pínus, eucalipto, acácia e remanescentes de vegetação natural próximos às áreas de plantio florestal. A ideia é pesquisar florestas naturais e de produção nas mesmas condições de clima e solo. Com isso, pretende-se identificar e subsidiar a adoção de modelos de produção e de preservação/recuperação florestal com potencial mitigatório mais adequado a cada bioma.
A complexidade é tamanha que são várias as especialidades envolvidas, como por exemplo, solos, fisiologia, manejo, agrometeorologia, entre muitas outras. "São necessários monitoramentos de longo prazo", explica a pesquisadora Josiléia Zanatta, da Embrapa Florestas. "Em floresta, um a dois anos não é suficiente para generalizar as informações em escala temporal e espacial. Quando olhamos para a diversidade brasileira, a complexidade aumenta exponencialmente". O projeto Saltus acaba de entrar em seu terceiro ano de pesquisa e os primeiros resultados devem estar prontos no segundo semestre. "Os desafios de pesquisa são muitos, considerando a extensão territorial do país para a implantação de sistemas de observação e monitoramento, além da capacitação de recursos humanos", completa a pesquisadora.  
E o processo de pesquisa não para. Além de conhecer o balanço de carbono em florestas e como adaptá-las à realidade das mudanças climáticas, o processo tem que ser constantemente avaliado: conforme o clima muda, a forma e a quantidade das emissões também mudam, afetando de forma diferente. Cada vez mais serão necessários projetos mais abrangentes, mais complexos, com redes formadas por diferentes instituições e multidisciplinares. “As decisões em relação às mudanças climáticas não são fáceis”. Precisamos oferecer opções exequíveis:
O que tenho que adaptar?
Quanto custa?
Quais são as barreiras?
Quais são as prioridades?
Muitas vezes, as prováveis soluções nem sempre são acessíveis, seja pela complexidade técnica ou pelo custo. “As decisões não são fáceis e devem ser tomadas à luz do conhecimento”, finaliza Rosana Higa. (embrapa)

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