Pode
a mente humana dominar o que a mente humana criou? - Paul Valéry
O planeta Terra foi formado há cerca 4,5 bilhões de anos. Os primeiros seres vivos (estromatólitos) datam de 3,8 bilhões de anos. Esses primeiros seres vivos eram bem simples. Centenas de milhões de anos depois surgiram os organismos invertebrados. As esponjas foram os primeiros animais invertebrados a surgir na Terra, há 650 milhões de anos e há 520 milhões de anos surgiram os primeiros vertebrados. As grandes variações climáticas dificultavam a sobrevivência dos seres vivos.
O planeta Terra foi formado há cerca 4,5 bilhões de anos. Os primeiros seres vivos (estromatólitos) datam de 3,8 bilhões de anos. Esses primeiros seres vivos eram bem simples. Centenas de milhões de anos depois surgiram os organismos invertebrados. As esponjas foram os primeiros animais invertebrados a surgir na Terra, há 650 milhões de anos e há 520 milhões de anos surgiram os primeiros vertebrados. As grandes variações climáticas dificultavam a sobrevivência dos seres vivos.
Há
65,5 milhões de anos, época que marca o fim do período Cretáceo (K) e o início
do Paleógeno (Pg) ocorreu uma grande extinção em massa da vida na Terra. A
extinção “K-Pg” é muito conhecida devido ao desaparecimento dos dinossauros,
mas vitimou também 75% das espécies. Isto ocorreu devido ao impacto de um
asteroide com a Terra, o que ficou evidente com a descoberta de uma enorme
cratera soterrada em Chicxulub, no Estado de Iucatã, México, medindo cerca de
180 quilômetros de diâmetro. O asteroide que caiu no México tinha mais de 10
quilômetros de diâmetro e o impacto dele com a Terra liberou energia
equivalente a da explosão de cinco bilhões de bombas atômicas como as usadas
sobre Hiroshima. A mudança abrupta do clima global levou à extinção total dos
dinossauros e de grande parte da vida na Terra.
O
período mais quente dos últimos 500 milhões de anos aconteceu no chamado
“Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno” (MTPE ou PETM em inglês). Em apenas 20 mil
anos, a temperatura média terrestre aumentou em 6ºC, com um correspondente
aumento do nível do mar, bem como um aquecimento dos oceanos. As concentrações
de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentaram
significativamente, provocando escassez de oxigênio nas profundezas oceânicas,
provocando grandes extinções de vida marinha. Durante o MTPE foram liberadas
nos oceanos e na atmosfera entre 1.500 e 2.000 gigatoneladas de carbono num
lapso de tempo de mil anos, o que é equiparável às atuais emissões antrópicas.
A
partir do Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (MTPE) as temperaturas começaram a
cair continuamente até ficar abaixo do nível atual. O gênero Homo, que inclui
os humanos modernos, surgiu a cerca de 2,5 milhões de anos, evoluindo de
ancestrais australopitecíneos e o surgimento do Homo habilis. Nota-se que o
gênero Homo surgiu e evoluiu em um clima com temperaturas iguais ou menores do
que as atuais. Nestes 2 a 3 milhões de anos houve diversos períodos glaciais e
interglaciais que variavam entre 10 e 15 mil anos, sendo que, na maioria do
tempo, o clima oscilava entre zero e cerca de 4ºC para baixo. Mas também houve
pequenos períodos em que a temperatura ficou acima da média do século XX.
O
Homo Sapiens surgiu na África há cerca de 200 mil anos, se espalhando pelo
Planeta por volta de 90 mil anos atrás. Enquanto o Homo Sapiens ainda estava na
África tropical, ocorreu o período Eemiano, entre 130.000 e 110.000 anos, sendo
o último período interglacial antes do Holoceno, no qual o clima era mais
quente do que o de hoje e o nível do mar estava entre 5 a 6 metros mais alto do
que o nível atual.
Entre
350 mil e 20 mil anos atrás, também habitou a Terra o homem de Neandertal que
viveu na Europa e partes do oeste da Ásia. Eles coexistiram no tempo com o Homo
sapiens, mas com poucos contatos, embora os Neandertais compartilhem 99,7% de
seu DNA com os humanos modernos, apesar de apresentarem diferenças morfológicas
muito específicas. Os Neandertais foram extintos no último período glacial que
ocorreu após o período Eemiano.
O
Último período glacial, também conhecido como Idade do Gelo, ocorreu durante a
última parte do Pleistoceno, de aproximadamente 110.000 a 10.000 atrás. Esta
glaciação foi a última acontecida na Terra, marca fim do período Pleistoceno e
foi quando o aumento do gelo permitiu a travessia (Estreito de Bering) do ser
humano da Ásia para a América do Norte. Um evento que quase exterminou os seres
humanos foi a “catástrofe de Toba”, que ocorreu de 70 mil a 80 mil anos atrás,
em decorrência de um evento vulcânico no Lago Toba, em Sumatra, na Indonésia,
que pode ter reduzido a população humana mundial a algo em torno de 10 mil
pessoas. Foi no período mais frio do último período glacial que os Neandertais
foram extintos.
Mas
o clima mudou com o fim do Pleistoceno e o início do Holoceno. A temperatura
subiu e se manteve surpreendentemente estável nos últimos 10 mil anos, com uma
variação de 0,5ºC para cima ou para baixo da média do século XX. Foi nesse
período que houve o grande avanço da história humana. A estabilidade climática
foi fundamental para o sucesso da Revolução Agrícola e o avanço da pecuária que
possibilitou a vida sedentária, o surgimento das cidades e o avanço da escrita
e da civilização.
Segundo Jared Diamond, no livro “Armas, Germes e Aço” a cultura floresceu no período Neolítico, cerca de 8.500 a.C., iniciando-se com a domesticação de plantas e animais, em função da alta fertilidade do solo e do ecossistema do Crescente Fértil (região da Mesopotâmia e Oriente Médio). Excedente de alimentos, aumento populacional, sedentarismo, mais gente para pensar, inovações tecnológicas, exploração dos metais, fabricação de armas, excedente de produtos agrícolas e de animais, aumento das trocas (escambo), surgimento do comércio, invenção da roda e da escrita, formação de aldeias e cidades, organização política, tudo isso, permitiu um grande avanço do tamanho da população e da melhoria das condições de vida.
Segundo Jared Diamond, no livro “Armas, Germes e Aço” a cultura floresceu no período Neolítico, cerca de 8.500 a.C., iniciando-se com a domesticação de plantas e animais, em função da alta fertilidade do solo e do ecossistema do Crescente Fértil (região da Mesopotâmia e Oriente Médio). Excedente de alimentos, aumento populacional, sedentarismo, mais gente para pensar, inovações tecnológicas, exploração dos metais, fabricação de armas, excedente de produtos agrícolas e de animais, aumento das trocas (escambo), surgimento do comércio, invenção da roda e da escrita, formação de aldeias e cidades, organização política, tudo isso, permitiu um grande avanço do tamanho da população e da melhoria das condições de vida.
Assim,
é necessário reforçar que o Holoceno (últimos 10 mil anos) foi um período de
grande estabilidade climática e que manteve temperaturas abaixo do período
Eemiano (entre 130.000 e 110.000 anos) e acima do último período glacial (entre
110.000 a 10.000 atrás). Porém, esse período excepcional, em que o clima ajudou
o desenvolvimento humano, está chegando ao fim, exatamente pelo poder exponencial
das atividades antrópicas.
O
gráfico abaixo mostra que a concentração de CO2 na atmosfera variou
de 185 a 280 partes por milhão (ppm) nos últimos 800 mil anos, antes da
Revolução Industrial e Energética. A variação de CO2 na atmosfera é
a principal responsável pela mudança da temperatura entre os períodos mais
quentes e os períodos glaciais.
Após o início do uso generalizado dos combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás) a concentração de CO2 na atmosfera subiu para 400 ppm em 2015, acelerando o aquecimento da atmosfera. Isto quer dizer que o clima na Terra deve voltar para o nível do período Eemiano que estava pelo menos 2ºC acima da média do século XX e o nível do mar estava entre 5 e 6 metros acima do nível atual.
Após o início do uso generalizado dos combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás) a concentração de CO2 na atmosfera subiu para 400 ppm em 2015, acelerando o aquecimento da atmosfera. Isto quer dizer que o clima na Terra deve voltar para o nível do período Eemiano que estava pelo menos 2ºC acima da média do século XX e o nível do mar estava entre 5 e 6 metros acima do nível atual.
Com
a crescente emissão de gases de efeito estufa (GEE), o clima na Terra caminha
para um nível sem precedentes nos últimos 3 milhões de anos. Se as emissões de
GEE continuarem a temperatura do Planeta pode chegar a 4,5ºC acima da média do
século XX (cerca de 5ºC acima da média do Holoceno) até 2100. Isto levaria à
elevação do nível dos oceanos e à inundação de amplas áreas costeiras,
inclusive de grandes cidades ao redor do mundo, afetando diretamente a vida de
pelo menos 500 milhões de pessoas.
O
gráfico mostra que existe uma relação muito forte entre as emissões de carbono
e o aumento da temperatura global. Entre 1880 e 1900 a temperatura estava 0,2°C
abaixo da média da temperatura do século XX. Entre 1901 e 1950 a média da
temperatura ficou 0,15°C abaixo da média do século passado e entre 1951 a 2000
ficou 0,15°C acima da média. Portanto, houve um aumento de temperatura, mas que
alguns céticos consideravam como efeito natural.
Porém,
o ano de 1998 foi o mais quente do século XX e ficou 0,63°C acima da média
secular. E o que estava ruim, piorou muito no século XXI, pois a temperatura em
2015 ficou 0,9°C acima da média do século XX, um acréscimo de 0,27°C em apenas
17 anos. Para os incrédulos, e surpreendentemente, os três primeiros meses de
2016 tiveram um aumento climático extremamente elevado, não antecipado por
ninguém e nenhum modelo estatístico. O aumento da temperatura em relação à
média do século XX foi de 1,04°C em janeiro, de 1,21°C em fevereiro e de 1,22°C
em março de 2016, segundo dados da Administração Nacional Oceânica e
Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). Ou seja, em relação ao final do século
XIX, o aumento da temperatura no primeiro trimestre de 2016 ficou quase 1,5°C
mais elevada, o que é a meta de limite máximo de aumento da temperatura
proposta pelo Acordo de Paris para o ano de 2100. No primeiro semestre de 2016
a temperatura ficou 1,05ºC acima da média do século XX. É a primeira vez que se
registra um semestre com temperatura acima de 1ºC. Tudo isto acendeu o alerta e
os ambientalistas estão falando em emergência climática.
Mesmo que o Acordo de Paris, da COP-21, seja colocado em prática, a temperatura pode chegar a 3,5ºC acima da média do século XX e 4ºC acima da média do Holoceno. As consequências seriam desastrosas de qualquer maneira. No caso de a temperatura ficar em 2ºC acima da média do século XX até 2100 já seria problemático. E o pior é que o aumento deve continuar no século XXII. Isto quer dizer que o futuro da civilização está em sério perigo.
Mesmo que o Acordo de Paris, da COP-21, seja colocado em prática, a temperatura pode chegar a 3,5ºC acima da média do século XX e 4ºC acima da média do Holoceno. As consequências seriam desastrosas de qualquer maneira. No caso de a temperatura ficar em 2ºC acima da média do século XX até 2100 já seria problemático. E o pior é que o aumento deve continuar no século XXII. Isto quer dizer que o futuro da civilização está em sério perigo.
Em
artigo publicado mês passado no periódico Atmospheric Chemistry and Physics
Discussion, o cientista James Hansen e colegas (2016) confirmam que o aumento
da temperatura em 2ºC pode ser extremamente perigoso, pois pode gerar
super-furacões e elevar o nível do mar, no longo prazo, em vários metros,
ameaçando as áreas costeiras em geral, especialmente as mais povoadas.
Ou seja, desde o surgimento do gênero Homo, há cerca de 2,5 milhões de anos, o clima nunca ficou tão quente como se projeta para o final do século XXI. Será pior no século XXII. Na maior parte de sua história, o Homo Sapiens viveu em temperaturas menores do que as atuais. O clima atual é uma situação totalmente atípica e que a humanidade nunca viveu desde que desceu das árvores e passou a derrubá-las. Uma súbita mudança climática pode levar a civilização ao colapso.
Ou seja, desde o surgimento do gênero Homo, há cerca de 2,5 milhões de anos, o clima nunca ficou tão quente como se projeta para o final do século XXI. Será pior no século XXII. Na maior parte de sua história, o Homo Sapiens viveu em temperaturas menores do que as atuais. O clima atual é uma situação totalmente atípica e que a humanidade nunca viveu desde que desceu das árvores e passou a derrubá-las. Uma súbita mudança climática pode levar a civilização ao colapso.
Para
mudar este quadro, libertar-se dos combustíveis fósseis é essencial. Porém,
está cada vez mais evidente que não basta mudar a matriz energética,
descarbonizar a economia e promover uma maquiagem verde no processo de produção
e consumo. É preciso, urgentemente, colocar na ordem do dia o debate sobre os
meios de se promover o decrescimento das atividades antrópicas. A meta de
redução da pobreza deve ser alcançada pelo decrescimento das desigualdades
sociais e não pelo crescimento econômico desenfreado.
Como
afirmei em outro artigo: a economia depende da ecologia e não o contrário. Os
desastres, geralmente, não são naturais, já que o maior desastre em curso é o
aquecimento global provocado pelas exponenciais emissões de gases de efeito
estufa. Não é a natureza que está ameaçando o ser humano. O ser humano está se
autodestruindo ao aquecer a temperatura do Planeta. E o pior é que muitas
espécies inocentes podem desaparecer no Antropoceno devido à irresponsabilidade
e ganância humanas. (ecodebate)
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