“Yes, and how many years can a
mountain exist,
Before it’s washed to the seas
(sea)
Yes, and how many years can
some people exist,
Before they’re allowed to be
free?
Yes, and how many times can a
man turn his head,
And pretend that he just
doesn’t see?
The answer, my friend, is
blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the
wind”. - Bob Dylan
O
Acordo de Paris está prestes a entrar em vigor, com o cumprimento de duas
condições: 1) assinatura e ratificação de pelo menos 55 países dos 197 que
participaram da COP-21; 2) estarem representados no mínimo 55% dos países responsáveis
pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE). O Acordo entrará em vigor antes
da COP-22, que vai acontecer em Marrakesh, no Marrocos, de 7 a 18 de novembro
de 2016. Porém, o mundo está distante da meta de descarbonizar a economia,
enquanto a manutenção do ritmo de degradação ambiental estabelecido nas últimas
décadas pode ser desastrosa.
A
população mundial cresceu cerca de 3 vezes entre 1950 e 2016, passando de 2,5
bilhões de habitantes para 7,5 bilhões. A economia cresceu muito mais (12,2 vezes)
nesse período. Assim, o PIB per capita cresceu cerca de 5 vezes entre 1950 e
2016. Segundo o relatório “Global Material Flows And Resource Productivity”
(UNEP, julho de 2016) o crescimento na extração de recursos naturais passou de
7 toneladas per capita em 1970 para 10 toneladas per capita em 2010. Mesmo
levando-se em conta as desigualdades sociais, cada nova pessoa (umas mais do
que as outras) significa extração adicional de recursos naturais. Assim, o
crescimento econômico que produz bem-estar humano ocorre às custas do mal-estar
ambiental.
Do
ponto de vista climático, para diminuir o impacto do crescimento econômico e da
degradação ambiental seria preciso descarbonizar a economia, ou seja, diminuir
a emissão per capita de gases de efeito estufa (GEE), pois o dióxido de carbono
(CO2) corresponde a quase 80% destes gases. Contudo, o que aconteceu
foi um aumento de 60% entre 1960 e 2011, segundo dados do Banco Mundial. Mais
gente poluindo cada vez mais.
O
gráfico abaixo mostra que a concentração de CO2 na atmosfera variou
de 185 a 280 partes por milhão (ppm) nos últimos 800 mil anos, antes da
Revolução Industrial e Energética. A variação de CO2 na atmosfera é
a principal responsável pela mudança da temperatura entre os períodos mais
quentes e os períodos glaciais.
Após
o início do uso generalizado dos combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo
e gás) a concentração de CO2 na atmosfera subiu para 400 ppm em 2015
e 407,7 ppm em maio de 2016, acelerando o aquecimento da atmosfera. Isto quer
dizer que o clima na Terra deve voltar para o nível do período Eemiano que
estava pelo menos 2ºC acima da média do século XX e o nível do mar estava entre
5 e 6 metros acima do nível atual.
Com
a crescente emissão de gases de efeito estufa (GEE), o clima na Terra caminha
para um nível sem precedentes nos últimos 5 milhões de anos. Se as emissões de
GEE continuarem a temperatura do Planeta pode chegar a 4,5ºC acima da média do
século XX (cerca de 5ºC acima da média do Holoceno) até 2100. Isto levaria à
elevação do nível dos oceanos e à inundação de amplas áreas costeiras,
inclusive de grandes cidades ao redor do mundo, afetando diretamente a vida de
pelo menos 500 milhões de pessoas.
O
gráfico mostra que entre 1880 e 1900 a temperatura estava 0,2°C abaixo da média
da temperatura do século XX (linhas azuis). Entre 1901 e 1950 a média da
temperatura ficou 0,15°C abaixo da média do século passado e entre 1951 a 2000
ficou 0,15°C acima da média. Portanto, houve um aumento de temperatura, mas que
alguns céticos consideravam como efeito natural.
Porém,
o ano de 1998 foi o mais quente do século XX e ficou 0,63°C acima da média
secular. E o que estava ruim, piorou muito no século XXI, pois a temperatura em
2015 ficou 0,9°C acima da média do século XX, um acréscimo de 0,27°C em apenas
17 anos.
Surpreendentemente,
os três primeiros meses de 2016 tiveram um aumento climático extremamente
elevado, não antecipado por ninguém e nenhum modelo estatístico. O aumento da
temperatura em relação à média do século XX foi de 1,04°C em janeiro, de 1,21°C
em fevereiro e de 1,22°C em março de 2016, segundo dados da Administração
Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).
Ou
seja, em relação ao final do século XIX, o aumento da temperatura nos meses de
fevereiro e março de 2016 ficou quase 1,5°C mais elevada. Isto é a meta de
limite de aumento da temperatura proposta pelo Acordo de Paris para o ano de
2100. No primeiro semestre de 2016 a temperatura ficou 1,05ºC. acima da média
do século XX. É a primeira vez que se registra um semestre com temperatura
acima de 1ºC. Tudo isto acendeu o alerta e os ambientalistas estão falando em
emergência climática.
O
gráfico abaixo foi apresentado na abertura da Olimpíada Rio 2016 e serviu para
divulgar a gravidade do aumento da temperatura global e chamou a atenção para a
luta em defesa do meio ambiente e contra o atual modelo marrom de
desenvolvimento.
Em
artigo publicado em março de 2016, no periódico Atmospheric Chemistry and
Physics Discussion, o cientista James Hansen e colegas (2016) confirmam que o
aumento da temperatura em 2ºC pode ser extremamente perigoso, pois pode gerar
super-furacões e elevar o nível do mar, no longo prazo, em vários metros,
ameaçando as áreas costeiras em geral, especialmente as mais povoadas.
A
queima dos combustíveis fósseis é a principal fonte de emissão de gases de
efeito estufa (GEE). Mas também a pecuária emite grande quantidade de metano
que tem um efeito 34 vezes mais potente do que o dióxido de carbono. Artigo de
Dr. David Suzuki (30/09/2016) mostra como as emissões de CO2 estão
causando estragos no planeta.
Artigo
publicado na revista BioScience, no início de outubro de 2016, mostra que os
reservatórios das usinas hidrelétricas são uma enorme fonte de emissão de
metano. A produção de metano dos reservatórios é comparável com as plantações
de arroz ou queima de biomassa do mundo. Os pesquisadores da Universidade
Estadual de Washington dizem os estudos anteriores subestimam os efeitos dos
reservatórios do mundo na produção de GEE, eles avaliam a produção equivalente
a cerca de 1 gigaton de dióxido de carbono por ano, ou 1,3% de todos os gases
de efeito estufa produzidos pelo ser humano. Isso é mais do que a produção de
GEE de todo o Canadá.
Os
seres humanos já lançaram 1,9 trilhões de toneladas de carbono na atmosfera.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), para
evitar o pior cenário, o mundo só pode emitir, entre 2012 e 2100, 1.000
gigatoneladas (Gt) de CO2. Em termos médios, isso significa que o
mundo só pode liberar no máximo 11,3 GtCO2 por ano até 2100. O
problema é que as emissões estão atualmente em 50 Gt de GEE, o que dá uma ideia
do tamanho do desafio para fazer essa redução. O chamado “orçamento de carbono”
não está sendo cumprido. As INDCs do Acordo de Paris não são suficientes para
resolver o tamanho do desafio.
Ha
estudos que mostram que a liberação de 2,9 trilhões de toneladas de carbono
para a atmosfera e oceanos pode elevar a temperatura do planeta em mais de 5ºC
acima das temperaturas pré-industriais. O risco adicional do aquecimento global
e do degelo do Ártico e das regiões próximas é que isso fará com que a
liberação da totalidade ou de uma parte dos 5 trilhões de toneladas de carbono
preso como metano congelado na tundra e no permafrost, retroalimentando o processo
de efeito estufa.
Novo
estudo liderado por James Hansen e mais 11 cientistas (04/10/2016) mostra que a
temperatura da Terra está em torno de 1,25ºC acima do período pré-industrial e
o ritmo de aumento é de 0,18ºC por década. Nesta taxa o Planeta vai repetir a
temperatura do período Eemiano, que terminou a 115 mil anos atrás, quando havia
muito menos gelo e o mar estava entre 6 e 9 metros acima dos níveis atuais. O
estudo lança um alerta e mostra que as metas (INDCs) do Acordo de Paris não são
suficientes para evitar a catástrofe climática.
O
limite considerado seguro para a concentração de CO2 na atmosfera é
350 ppm, mas já passamos permanentemente de 400 ppm e podemos chegar a 450 ppm
até 2030. No ritmo atual será preciso atingir “emissões negativas” para cumprir
com o Acordo de Paris. Porém, artigo recente publicado na revista Science por
Kevin Anderson e Glen Peters (14/10/2016) mostra que ninguém sabe se a remoção
de carbono da atmosfera funcionará, mas esta ideia, tacitamente, dá às pessoas
uma licença para poluir. Eles dizem: “As tecnologias de emissões negativas não
são uma apólice de seguro, mas sim um jogo injusto e de alto risco”.
Ninguém
ignora, pois, o fato de a humanidade usar a biosfera da pior forma possível e
aumentando a vulnerabilidade social e ambiental. Existem autores que enxergam
neste processo um conflito irremediável entre os interesses egoísticos e o
gerenciamento do bem comum. O termo Tragédia dos Comuns, proposto em 1968 por
Garrett Hardin, volta à tona. O conceito considera que o uso irrestrito de um
recurso finito (como o ar limpo) pode levar à sua degradação por conta de uma
superexploração ou manejo inadequado.
A
situação assustadora é que além da humanidade não conseguir cortar as emissões
de carbono, a Terra assumirá o protagonismo e começar a adicionar ainda mais as
emissões por conta própria. Um recente estudo publicado na revista Geophysical
Research Letters, uma equipe de pesquisadores liderada por Yi Yin, mostra que
no ano passado, em meio a condições de seca induzidas pelo El Niño, as
queimadas da Indonésia emitiram mais de 1,5 bilhão de toneladas de equivalentes
de dióxido de carbono para a atmosfera. Isso é mais do que as emissões anuais
do Japão. A Indonésia é muito parecido com o Ártico, onde ainda maiores
quantidades de carbono são armazenadas no permafrost, e também são vulneráveis.
Ou seja, há um efeito de retroalimentação com o aumento do aquecimento global
que tende a liberar o metano do permafrost e acelerar as queimadas nas áreas
tropicais (inclusive a Amazônia, Cerrado, Caatinga, etc.) aumentando a
concentração de GEE na atmosfera.
Para
evitar a Tragédia dos Comuns seria fundamental o gerenciamento dos bens comuns
como mostrou Elinor Ostrom. Um fato positivo foi a assinatura de um acordo que
visa à eliminação progressiva dos hidrofluorocarbonos (HFC), por quase 200
países, reunidos em Kigali, capital de Ruanda, no dia 15 de outubro de 2016.
Mas o Acordo de Paris precisaria ser colocado em prática rapidamente,
possibilitando o desacoplamento das emissões de CO2 da produção de
bens e serviços e a menor emissão de metano pela pecuária. A necessidade de
mudança de rumo é dramática.
Ou
se descarboniza a economia e se reduz as emissões de GEE ou todas as áreas
costeiras do mundo vão ficar debaixo d’água, provocando grandes prejuízos
materiais e grande sofrimento social. Diversos estudos consideram que a
continuidade do aquecimento global pode tornar a Terra inabitável a grandes
formas de vida, incluindo os seres humanos. O Planeta pode voltar ao estágio da
existência de somente vida bacteriana. Seria a involução das espécies provocada
por uma espécie que se julga inteligente e superior. O aquecimento global pode
provocar uma tragédia comum a todos os vertebrados. (ecodebate)
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