"Para
cada mil pessoas dedicadas a cortar as folhas do mal, há apenas uma atacando as raízes". Duzentos
anos do nascimento de Henry Thoreau (1817-1862)
Não
há mais como contestar. Os negacionistas das mudanças climáticas perderam
totalmente seus argumentos, claramente, anticientíficos. O degelo global bateu
todos os recordes em janeiro e fevereiro de 2017. Depois de três anos (2014,
2015 e 2016) de temperaturas muito elevadas, sem precedentes no Holoceno
(últimos 10 mil anos), a deglaciação do Ártico, da Groenlândia, da Antártica e
dos glaciares atingiu um recorde, como mostra o gráfico acima (ArctischePinguin
– ver link abaixo).
A
tendência de queda é clara ao longo dos últimos 40 anos. A curva acima tem uma
distribuição bimodal, pois o hemisfério Norte tem pico de gelo em fevereiro,
quando o hemisfério Sul está no vale (mínimo de gelo), sendo que em julho a
Antártica está no máximo de gelo e o Ártico no mínimo. O máximo do gelo global
acontece entre outubro e novembro. Seguindo as curvas anuais (todas com este
mesmo tipo bimodal de distribuição), nota-se que elas mostram uma tendência de
queda em relação à média de 1981-2010, embora haja oscilações anuais de curto
prazo, diferentes da tendência de longo prazo.
Porém,
chama a atenção que o padrão de queda na extensão de gelo, desde setembro de
2016, não tem paralelo nos últimos 40 anos, quando se começou as medidas por
satélite. A curva de 2016 sofreu uma queda abruta no último trimestre do ano
(outubro a dezembro) e continuou batendo recordes de baixa nos dois primeiros
meses de 2017.
A
tendência de queda nos meses de janeiro e fevereiro é clara no Ártico, como
mostram os gráficos abaixo da NSIDC – National Snow & Ice Data Center. O
ano de 2011 havia batido os recordes dos anos anteriores. O degelo nos meses de
janeiro e fevereiro entre 2012 e 2016 foi um pouco menor do que em 2011. Mas,
em 2017, o nível de gelo no Ártico ficou abaixo de qualquer outro período
anterior. O Ártico foi atingido por ondas de calor (para os padrões do inverno
ártico) nunca vistos, consequentemente, a formação de gelo foi menor. A vida
dos animais do polo Norte corre sério perigo de extinção. A tendência do degelo
é evidente pelos gráficos abaixo.
Ao
contrário do Ártico, a Antártica estava aumentando a extensão de gelo desde
1978. As causas deste aumento são complexas e envolvem a força dos ventos, as
correntes marinhas, o ciclo hidrológico, etc. Todavia, nunca, desde o início da
medição por satélites, a extensão do gelo nos meses de janeiro e fevereiro, foi
tão grande como em 2014 e 2015. Mas essa tendência foi revertida e a redução do
gelo na Antártica foi enorme em 2016 e bateu todos os recordes negativos em
2017, como pode ser visto nos gráficos abaixo.
Ao
contrário do Ártico, a Antártica estava aumentando a extensão de gelo desde
1978. As causas deste aumento são complexas e envolvem a força dos ventos, as
correntes marinhas, o ciclo hidrológico, etc. Todavia, nunca, desde o início da
medição por satélites, a extensão do gelo nos meses de janeiro e fevereiro, foi
tão grande como em 2014 e 2015. Mas essa tendência foi revertida e a redução do
gelo na Antártica foi enorme em 2016 e bateu todos os recordes negativos em
2017, como pode ser visto nos gráficos abaixo.
As
imagens abaixo mostram o máximo de gelo no inverno da Antártica nos meses de
setembro de 2015 e 2016. Mostra também que o nível de gelo no verão da
Antártica no mês de fevereiro de 2017 está muito abaixo do nível do mesmo mês
em 2016.
Além
do Ártico e da Antártica, há mais duas áreas que estão contribuindo, de maneira
acelerada, com o processo de deglaciação: a Groenlândia e os glaciares do
Canadá. Assim, o aumento do nível dos oceanos é inexorável e trata-se de saber
apenas quanto e quando isto vai ocorrer.
Artigo de John
Abraham, no jornal Guardian (24/02/2017), mostra que a perda de gelo da
Groenlândia aumentou substancialmente nas últimas décadas e é responsável agora
por aproximadamente 1/3 ao aumento total do nível do mar. Observa-se que as
águas ao redor da Groenlândia estão como se estivessem de cabeça para baixo. A
água quente e salgada, que é pesada, fica abaixo de uma camada de água fria e
fresca do Oceano Ártico. Isso significa que a água quente está no fundo, e as
geleiras sentadas em águas profundas podem estar em apuros. À medida que a água
quente ataca as geleiras marinhas (geleiras que se estendem para o oceano), o
gelo tende a quebrar e partir, recuando em direção à terra. Em alguns casos, os
glaciares recuam até que sua linha de aterramento coincida com a costa. Mas em
outros casos, a superfície ondulante permite que a água quente use a parte
inferior da geleira para longas distâncias e, assim, aumentar o risco de
grandes eventos de “parto”. Muitas vezes, quando as geleiras perto da costa se
rompem e descascam, o outro gelo pode então fluir mais facilmente para os oceanos.
Artigo
de Nicole Mortillaro, na CBC News (20/02/2017), mostra que as geleiras do
Canadá estão respondendo rapidamente ao aquecimento do Ártico e são,
atualmente, um dos principais contribuintes para a elevação do nível do mar.
Pesquisadores da University of California Irvine estudaram dados coletados de
1991 a 2015 sobre geleiras encontradas nas ilhas Rainha Elizabeth no Ártico.
Eles descobriram que, de 2005 a 2015, o derretimento superficial desses
glaciares aumentou em 900%.
Há
duas maneiras pelas quais os glaciares perdem gelo: o derretimento superficial
e a descarga de icebergs, conhecidos como partos. Antes de 2005, a massa
perdida das geleiras nas ilhas da rainha Elizabeth foi compartilhada quase
igualmente entre os dois, em 48% e 52%, respectivamente.
No entanto, após 2005, o derretimento da
superfície tornou-se o principal contribuinte da perda de gelo: agora
representa 90% das perdas totais na região. Eles passaram a derramar três
gigatons de água anualmente para 30 gigatons – algo que tem sérias
consequências. Enquanto a Groenlândia e a Antártida possuem a maior quantidade
de água doce do mundo sob a forma de geleiras e lençóis de gelo, o Canadá
também tem sua parcela significativa. O país é o lar de cerca de 20 por cento das
geleiras do mundo e, como resultado, é o terceiro maior contribuinte para a
mudança do nível do mar.
O
gráfico abaixo dá destaque para os dois primeiros meses dos anos de 1978 a
2017. Nota-se que a extensão de gelo global é a menor em 40 anos, bem abaixo de
2015 e 2016 e bem abaixo da média 1981 a 2010 (mesmo considerando o desvio
padrão). Este recorde negativo de degelo é preocupante e indica que o mundo vai
caminhar para uma era de grande inundação.
O
filme “Before the Flood” retrata como a civilização está gerando problemas
crescentes no Planeta e é um poderoso instrumento de conscientização dos
problemas climáticos e da grave crise ambiental por que passa a humanidade.
Esta crise tende a se agravar quando o governo Donald Trump (conforme discurso
no Congresso de 28/02/2017) corta os gastos para a proteção do meio ambiente e
aumenta os gastos militares, além de incentivar o consumo conspícuo.
Enquanto
a governança global está sobre ameaça devido ao crescimento do nacionalismo e
do militarismo, o Acordo de Paris está sob ameaça. Mas o aquecimento não
arrefece e o declínio do volume global de gelo é uma realidade inquestionável
como mostra o gráfico abaixo.
O
fato inescapável é que o aumento das emissões de gases de efeito estufa (a
queima de combustíveis fósseis, liberação de gás metano na pecuária e no
permafrost, etc.) eleva a temperatura da atmosfera e dos oceanos e aumenta o
degelo global, acelerando a elevação do nível dos oceanos. A Groenlândia tem o
potencial de elevar os oceanos em 6 metros e a Antártica em 60 metros. O degelo
total pode provocar a subida em mais de 70 metros. Mas apenas 3% de degelo já
seria para elevar as águas marinhas em mais de 2 metros, nível suficiente para
provocar grandes danos.
Há dois bilhões de pessoas que vivem a menos de dois metros do nível do mar no mundo. O naufrágio das áreas costeiras vai, dentre outros efeitos, agravar o problema dos deslocados. A crise dos refugiados da guerra da Síria vai parecer um acontecimento trivial perto da crise gerada pela invasão das águas salgadas nas costas litorâneas de todo o mundo. (ecodebate)
Há dois bilhões de pessoas que vivem a menos de dois metros do nível do mar no mundo. O naufrágio das áreas costeiras vai, dentre outros efeitos, agravar o problema dos deslocados. A crise dos refugiados da guerra da Síria vai parecer um acontecimento trivial perto da crise gerada pela invasão das águas salgadas nas costas litorâneas de todo o mundo. (ecodebate)
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