Em Ribeirão Preto, USP, com projeto pioneiro de
reflorestamento, transformou fazenda de café em área verde.
Projeto de reflorestamento resultou em
banco genético e mais de 28% da área do campus em reservas ecológicas.
Fauna e Flora na Universidade
Vista aérea do campus da USP e da cidade de
Ribeirão Preto mostra o contraste da área verde.
Entre 1870 e 1940, o espaço onde hoje está
instalada a USP em Ribeirão Preto abrigou uma fazenda de café chamada Monte
Alegre – o primeiro local da cidade a receber luz elétrica. Em 1945, a região
foi desapropriada pelo governo do Estado para a construção da Escola Prática de
Agricultura Getúlio Vargas, mas alguns anos depois, em 1952, o terreno e o
prédio passariam a ser propriedade da Universidade. O objetivo era a instalação
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), a primeira unidade do novo
campus.
Grande parte da Mata Atlântica no entorno havia
sido derrubada, o que se manteve até 1968, pois a terra era arrendada para o
plantio de cana-de-açúcar. Em 1981, o professor José Eduardo Dutra instalou a
Coordenadoria e Conselho do Campus em Ribeirão Preto e, entre as medidas
tomadas para melhoria das áreas verdes, estava a elaboração do primeiro projeto
de reflorestamento do campus pelo Fundo de Construção da USP.
Assim, quando o contrato de arrendamento para
fazendas canavieiras foi encerrado em 1986, uma comissão multidisciplinar
formada na Prefeitura do campus decidiu começar o plano de reflorestamento. A
partir de então, novas medidas foram sendo adotadas, como a formação de uma
brigada de incêndio florestal, a colocação de cercas nas áreas limítrofes e
limpeza em volta das árvores.
Em 1997, o projeto foi reformulado com a criação de
uma Comissão de Reflorestamento e a implantação foi dividida em duas etapas. A
primeira delas, iniciada no ano seguinte, abrangeu uma área de 30 mil metros
quadrados, onde foram plantadas 116 mil árvores de 70 espécies nativas das
bacias do Rio Pardo e do Rio Mogi-Guaçu – ela foi denominada Área de
Recomposição.
À
esquerda, prédio da então Escola Prática de Agricultura Getúlio Vargas e o
vazio de árvores ao seu redor. À direita, o mesmo prédio, agora Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto, após reflorestamento realizado pela USP.
A
segunda etapa foi implantada entre 2000 e 2004 e foi responsável pela fundação
do chamado Banco Genético da Floresta da USP, que ocupa 45 hectares. Nessa
área, mais 90 mil mudas de 45 diferentes espécies foram plantadas, provenientes
de mais de 3,3 mil árvores-mãe (25 para cada espécie em três repetições), cujas
sementes foram coletadas em mais de 400 fragmentos remanescentes de mata nativa
das duas bacias.
Flagrante
de um gambá no campus
A
floresta da USP em Ribeirão Preto é um projeto pioneiro de reflorestamento, com
implantação aliada a conceitos de sucessão ecológica, plantio matematicamente
planejado e a formação de um banco genético que representa uma fonte de
sementes de alta qualidade genética para a propagação para outras áreas
degradadas da região. A área já foi tema de diversos trabalhos científicos e
projetos.
A iniciativa também contribuiu para um aumento de 20%
da cobertura vegetal da área urbana do município de Ribeirão Preto e para o
retorno da fauna nativa. Também é notável o aumento da vazão das minas
existentes no campus e o surgimento de uma nova nascente d´água. Espécies
nativas bastante populares como ipê-branco, ipê-amarelo, jequitibá-rosa,
quaresmeira, paineira, jacarandá, jenipapo e embaúba, já produzindo flores e
frutos, podem ser vistas no campus.
No total, a USP em Ribeirão Preto possui 168,95
hectares (1,6 milhão de metros quadrados) de reservas ecológicas, segundo
número da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP, o que corresponde
a 28,82% da área total do campus.
Árvores
de ipê-branco próximo ao lago
Rua
do campus de Ribeirão Preto - Guarda Universitária
O Banco Genético in vivo
O Banco Genético da Floresta da USP é dividido em
três módulos e apresenta uma grande variabilidade dentro das 45 espécies de
árvores que ocupam o local. O professor Tomas Ferreira Domingues, coordenador
do Centro de Estudos e Extensão Florestal (CEEFLOR) da USP, explica que a
diversidade genética é importante para aumentar a capacidade das espécies de
sobreviver diante de distúrbios que ocorrem na natureza, como o ataques de
pragas ou eventos extremos, a exemplo de períodos de seca ou geadas.
A
área já passou por dificuldades, por conta de alguns incêndios que atingiram o
local.
Corujas
são comuns na USP em Ribeirão Preto
Nesse
tipo de mata, incêndios são pouco usuais, por isso, eles foram muito danosos.
Poucas espécies possuíram a capacidade de se recuperar após o caso e houve uma
mortalidade bastante acentuada em algumas áreas do Banco Genético. O nosso
trabalho, agora, é fazer justamente o levantamento das espécies e das áreas que
foram afetadas, para construir uma estratégia de recomposição e o
enriquecimento desse banco genético.
Hoje, há um monitoramento das áreas, com câmeras
instaladas em torres. Elas tornam possível à Guarda Universitária acompanhar,
em tempo real, tudo que acontece na mata. Caso seja detectado algum sinal de
fumaça, ações são tomadas imediatamente para impedir o alastramento do fogo.
O
professor também explicou que há um grande interesse dos alunos em explorar o
banco. Eles desenvolvem trabalhos sobre a área da floresta, envolvendo
pesquisas com árvores, insetos, entre outros, contemplando características
biológicas das espécies, como também as comunidades de mamíferos e aves.
Ave
de rapina
As
pesquisas com abelhas
Um ponto interessante na fauna do campus em
Ribeirão Preto são as diversas pesquisas sobre abelhas. Elas começaram em 1964,
quando os professores Warwick Estevam Kerr e Ronaldo Zucchi, da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, foram trabalhar na USP. O primeiro
docente já estudava a genética de abelhas e o segundo pesquisava o
comportamento delas. Assim, foi criado um grupo de pesquisadores no campus para
explorar os mais diversos conceitos envolvendo esses insetos.
O grupo foi crescendo com o tempo e, em 1971, com a
abertura dos programas de pós-graduação na Faculdade de Medicina, alguns
pesquisadores de renome internacional de universidades como a de Hokkaido, no
Japão, e de Buenos Aires, na Argentina, foram convidados para ministrar
disciplinas e orientar pós-graduandos.
O
número de alunos pesquisando abelhas aumentou ainda mais com o início do
Programa de Pós-Graduação em Entomologia no Departamento de Biologia da
Universidade, em 1980. Atualmente, o campus é mundialmente reconhecido por suas
pesquisas com abelhas africanizadas e possui a maior coleção de abelhas sociais
sem ferrão (Meliponini)
do mundo, além de desenvolver atividades como o Encontro sobre Abelhas de Ribeirão Preto, principal evento
científico sobre pesquisas com abelhas no Brasil.
Mapa
do campus de Ribeirão Preto com a indicação das áreas verdes e institutos.
(usp)
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