Agricultores
familiares produzem mais de 70% dos alimentos, diz estudo.
Pesquisadores
da UFPB e da USP revisam dados do Censo Agropecuário 2006 e dizem que
estimativa do IBGE subestimou papel dos pequenos.
Os
camponeses têm pouca terra, mas colocam bem mais que 70% dos alimentos na nossa
mesa, defendem os autores do artigo “Quem produz comida para os brasileiros? 10
anos do Censo Agropecuário 2006”.
O
Censo Agropecuário 2006 dizia que os agricultores familiares eram responsáveis
pelo cultivo de 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa. Foi o último censo
realizado no país, e uma das principais referências sobre o campo. Dez anos
depois, pesquisadores relançam a pergunta: “Quem produz os alimentos que
compõem a cesta básica nacional?”
Para
Marco Antonio Mitidiero Junior, Humberto Junior Neves Barbosa (ambos da
Universidade Federal da Paraíba) e Thiago H´rick de Sá (da Universidade de São Paulo), a participação do
campesinato é bem maior do que isso.
Para
ver onde se concentram o volume e o valor dessa produção, eles trabalharam os
dados do Censo 2006 a partir de outra metodologia. Eles dizem que as que foram
usadas pelo IBGE para analisar os dados apurados pelo Censo “visaram esconder e
deturpar o papel preponderante da pequena produção”.
Arroz,
feijão e mistura
Os
dados revelam que alimentos presentes no dia a dia à mesa dos brasileiros, em
todo o país, são produzidos nos pequenos estabelecimentos rurais (área de 0 a
200 hectares). Várias espécies de feijão são cultivadas principalmente pelos
pequenos: 88,1% do feijão-preto e 88,9% do feijão-fradinho, por exemplo.
O
arroz em casca tem grande participação dos grandes – aqueles com propriedades
acima de 1.000 hectares -, com 30% do total. Mas ainda assim a superioridade é
dos pequenos: 42,3%. Os médios (200 a 1000 ha) produzem 27%.
Mais
marcante é a supremacia da pequena produção na horticultura. Para citar os que
mais frequentam nossa mesa: 98,2% do alface, 98,4% do repolho, 96% da
berinjela, 95% da abobrinha, 86,8% da cenoura, 81,7% do tomate (estaqueado),
96,4% da pimenta, 90,8% da mandioca, 57% do milho, 94,1% da cebola, 73,3% do
tomate (rasteiro) e 55,4% da batata inglesa são cultivados nos pequenos
estabelecimentos rurais.
A família da agricultora familiar da ex-diarista
Lindaci Maria dos Santos, que hoje produz dezenas de alimentos orgânicos.
Quanto
à carne, os pequenos são responsáveis por 88,7% da produção de aves, 84,3% da
produção de suínos e 39,0% da de bovinos. “Até na criação bovina, palco das
megafazendas e dos famosos fazendeiros pecuaristas que marcam o imaginário
social, os pequenos produtores, com área até 200 ha, superam produtivamente as
grandes áreas”, ressaltam os pesquisadores.
Menos
terra, menos recursos, mais emprego “Os sujeitos que produzem mais alimentos
são os que possuem menos terra (geralmente terras menos favorecidas do ponto de
vista da fertilidade, acesso à água, localização geográfica, etc.) e são menos
assistidos pelo Estado”, sustentam os autores.
“Aqueles
que detêm a maior parte das terras não são os maiores produtores de comida,
porém são os que recebem a maior fatia dos recursos para financiamento. Ao
contrário, os que possuem a menor porção das terras são os que mais produzem,
contudo recebem bem menos financiamentos para produção”.
Os
dados do IBGE mostram o peso da concentração agrária do país: pequenos produtores,
90,2% do total das unidades de produção, ocupam 29,9% da área total da
agricultura do país. Já os grandes, 0,9% das propriedades rurais, dominam 45%
da área. Os médios são 4% dos estabelecimentos, em 25,1% da área.
“Apesar
disso, a agricultura familiar é responsável por 74,4% (12,3 milhões de pessoas)
da ocupação laboral no campo, dominando a geração de trabalho/emprego”, apontam
os pesquisadores.
Financiamento
para os grandes
Os
pesquisadores informam que os pequenos correspondem a 92,5% (849.754) dos
estabelecimentos que receberam financiamento, embora tenham recebido apenas
36,7% do valor disponibilizado.
Os
médios correspondem a 3,7% (34.443) dos estabelecimentos que receberam
financiamento. Mas receberam 18,9% dos recursos.
Os
grandes abocanharam 44,1% dos recursos oferecidos, embora representem apenas
0,9% (8.444) dos estabelecimentos que receberam financiamento.
Cada
estabelecimento pequeno que recebeu financiamento teve, em média, R$ 9.252.
Essa média aumenta mais de dez vezes no caso dos médios, que receberam R$
117.138, e mais de cem vezes no caso dos grandes: R$ 1.117.433. (ecodebate)
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