Países
debatem em Brasília estratégias de longo prazo para desafios climáticos.
Os governantes brasileiros precisam vencer uma
barreira cultural para dar conta do desafio da mudança do clima – começar a
planejar hoje onde o país deseja estar na metade do século. Este é o cerne do
“Encontro Internacional sobre Estratégias de Desenvolvimento de Longo Prazo e
Mudanças Climáticas” que acontece amanhã em Brasília, promovido pela Embaixada
da Alemanha e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS).
O Acordo do Clima de Paris convida países
signatários a elaboraram planos de redução de emissão de gases-estufa para
2050. Alemanha, França, Estados Unidos, México Canadá e o Benim foram os
primeiros a elaborarem suas estratégias. “O desafio climático que enfrentamos
exige total transformação da forma como produzimos energia, comida e do nosso
sistema de transporte”, diz Karsten Sach, diretor de Política Climática do
Ministério do Meio Ambiente alemão. A Alemanha divulgou o “Klimaschutzplan
2050” em novembro, na conferência da ONU de Marrakesh. O país quer reduzir
entre 80% e 95% as emissões em 2050.
O plano é setorial e prevê revisões a cada cinco
anos para ajustes de rumo e investimentos, diz Sach. “Não temos bola de
cristal. Mas sabemos que é do nosso interesse econômico e social ter visão
clara de onde queremos estar em 2050. E discutir com a sociedade, ter decisões
políticas e leis que nos permitam alcançar nossas metas”, diz.
A
meta do setor de transportes, por exemplo, é reduzir emissões entre 40% e 42%
em 2050 em relação a 1990. A redução na indústria será de 49% a 51%. O setor de
energia terá que fazer cortes radicais – entre 61% e 62% – e deixar de usar
carvão, um ponto delicado do plano alemão. “Já sabemos hoje que as usinas a
carvão terão que sair da rede antes que termine sua vida útil. O futuro da
mobilidade é principalmente elétrico e é ali que teremos que investir”, afirma.
A discussão, agora, é o que fazer com os empregados do setor de carvão.
Experiências como a alemã são a base da “Caminhos
para 2050”, plataforma também lançada em Marrakesh por Laurence Tubiana,
pessoa-chave do governo francês para fechar o Acordo de Paris em 2015 e hoje
CEO da European Climate Foundation, fundação que lida com o tema.
Na ocasião, 22 países, 15 cidades, 17 regiões e
estados e 192 empresas se uniram ao esforço de ter planos de longo prazo. “Esta
plataforma é o lugar onde empresas e governos irão trocar práticas e tentar
aumentar a ambição”, disse ela. O Brasil faz parte da iniciativa. “É desafiador
fazer planos de longo prazo, mas é útil para as nossas sociedades. Pode
significar grandes oportunidades de crescimento.”
“A ideia deste seminário é inspirar o Brasil a se
planejar a longo prazo”, diz Ana Toni, diretora executiva do iCS. “Temos que
fazer opções de investimento, tecnológicas, de infraestrutura”, continua. “Vale
a pena investir em biodiesel ou seria melhor investir em eletrificação na rede
de transporte? Nosso futuro depende de decisões que temos que começar a fazer
agora”, diz.
Com ela concorda Branca Americano, coordenadora da
câmara de estratégias de longo prazo do Fórum Brasileiro de Mudança Climática,
onde este debate já iniciou. “Para que o Brasil se descarbonize na metade do
século, temos que tomar decisões estratégicas de curto prazo”, argumenta. (energia.sp)
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