Como
o derretimento do gelo do Ártico está elevando os níveis dos oceanos em todo
mundo?
Especialistas
explicam como o descongelamento de gelo terrestre e a dinâmica de aquecimento
da água impactam os mares.
Mudanças
climáticas estão aquecendo o Ártico mais de duas vezes mais rápido do que
qualquer outro lugar no planeta. Uma das consequências mais sérias é o aumento
do nível oceânico, o que ameaça nações desde Bangladesh aos Estados Unidos
(EUA). Porém, como exatamente o derretimento de gelo no Ártico contribui para a
elevação do nível dos oceanos? A Scientific American perguntou a Eric Rignot,
professor de ciência do sistema terrestre na Universidade da Califórnia em
Irvine, e Andrea Dutton, professora assistente de geologia na Universidade da
Flórida, como mudanças nesta região do norte em particular estão levando os
oceanos a alturas perigosas.
Agora,
os mares estão se elevando a uma média de 3,2 milímetros por ano globalmente, e
prevê-se que eles subam um total entre 0,2 e 2 metros até 2100. Rignot e Dutton
dizem que, no Ártico, o lençol de gelo da Groenlândia apresenta o maior risco
para os níveis oceânicos porque o derretimento de gelo terrestre é a principal
causa para a elevação dos mares - e “a maioria do gelo terrestre do Ártico está
presa na Groenlândia”, explica Rignot. São 2,96 milhões de quilômetros cúbicos
de gelo cobrindo áreas terrestres agora - e ele está derretendo nos oceanos. Se
todo o lençol de gelo da Groenlândia descongelasse, segundo Dutton, ele
elevaria em 7 metros, em média, os níveis marinhos. Isso inundaria
significantemente megacidades, tais como Mumbai e Hong Kong.
O
gelo terrestre da Groenlândia já está descongelando rápido o bastante para
elevar os mares de todo mundo em 0,74 milímetros por ano. “O ritmo de
derretimento tem aumentado”, em grande parte porque o descongelamento da
superfície do lençol de gelo se recuperou à medida que as temperaturas globais
ficaram mais quentes, diz Dutton. “Essa aceleração do derretimento da
superfície dobrou a contribuição da Groenlândia no aumento do nível marinho” em
comparação ao período de 1992 a 2011, acrescenta Dutton.
E o
Ártico possui outras áreas terrestres congeladas - geleiras e calotas polares -
em lugares como a Islândia, o Ártico canadense e o russo, o Alasca e as Ilhas
Svalbard, da Noruega. Eles não chegam perto de guardar tanta água quanto o
lençol de gelo da Groenlândia, mas ainda é uma parte significativa na equação
do nível do mar. Juntamente com geleiras e calotas de gelo no Hemisfério Sul
(excluindo o lençol de gelo da Antártida), sua fusão completa potencialmente poderia
elevar os oceanos em quase meio metro, de acordo com o Serviço Geológico dos
EUA. Contudo, as áreas do norte têm muito mais estruturas congeladas do que as
do sul, observa Rignot. "O derretimento de geleiras e calotas de gelo na
Patagônia e nos outros locais do sul não contribuiria tanto quanto o daqueles
que estão no Ártico."
Além de simplesmente adicionar água ao oceano, o
descongelamento de gelo terrestre do Ártico pode elevar os níveis marinhos
ainda mais através de um mecanismo chamado expansão térmica. “Em um clima mais
quente, o oceano absorve muito calor extra do sistema climático e, como
resultado, ele se torna menos denso”, explica Rignot. À medida que o gelo
terrestre do Ártico derrete no mar, há mais água oceânica, no geral - e, assim,
mais água para aquecer e expandir enquanto o clima esquenta, o que eleva ainda
mais os níveis marinhos. “A quantidade da expansão que ela causa é
significativa o bastante para que possamos medi-la”, diz Dutton. De 1993 a
2010, a expansão térmica acrescentou uma média de 1,1 milímetros de elevação do
nível do mar por ano, de acordo com o Quinto Relatório de Avaliação do Painel
Internacional sobre Mudanças Climáticas.
O
Ártico também possui bastante gelo marinho - ao mesmo 6,5 milhões km2
- e tem cerca de 2 metros de espessura, em média, de acordo com o Centro
Nacional de Dados de Neve e Gelo. Dutton e Rignot dizem que embora o gelo
marinho esteja diminuindo, ele não altera os níveis de água quando derrete,
pois já faz parte da massa oceânica. “Você pode congelar e derreter o gelo
marinho o quanto quiser - ele não vai mudar o nível do mar”, diz Rignot. “Você
está apenas mudando o estado na água”. Dutton fornece uma analogia: “Se você
está sentado em um bar com uma bebida que tenha cubos de gelo, seu copo está
cheio e os cubos derretem, ele não vai transbordar. O gelo já está boiando na
água, então ele deslocou o volume de seu próprio espaço”.
Porém, o descongelamento de gelo marinho ainda
desempenha um papel no aumento no nível do mar. “O gelo marinho se comporta como
um cobertor em cima do oceano”, protegendo a água da energia solar e do calor
atmosférico, segundo Rignot. Quando a cobertura congelada desaparece, sua
superfície branca não está mais lá para refletir a luz do Sol de volta para a
atmosfera - então o oceano absorve muito mais energia solar. “É como ir de não
receber calor algum do Sol a receber todo o calor do Sol”, ele explica. “É uma
tremenda diferença”. Esse efeito acelera o aquecimento no geral, o que, por sua
vez, derrete mais gelo terrestre e eleva o nível do mar. Então mesmo que todo
esse derretimento de gelo marinho não pareça grande coisa por não afetar
diretamente os níveis marinhos, Rignot diz que “isso é muito importante - o
desaparecimento desse cobertor perturba todo o sistema do Ártico”. (uol)
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