quarta-feira, 27 de junho de 2018

O Everest, um lixão no teto do mundo

Barracas fluorescentes, material de escalada e até excrementos. Em 2017, os alpinistas na vertente nepalesa recuperaram cerca de 25 toneladas de resíduos sólidos e 15 toneladas de dejetos humanos.
Esta imagem mostra o lixo gerado no campo 4 do Everest em 21/06/18.
O ser humano deixa sua trilha até no topo do mundo. Barracas fluorescentes, equipamento de escalada, garrafas vazias de oxigênio e até excrementos. Um alpinista que pensou em encontrar uma neve imaculada no Everest pode ter uma surpresa desagradável. Na imagem, lixo gerado no campo 4 do Everest, em 21/05/2018.
Lixo no Everest.
"É repugnante, uma visão repugnante", diz Pemba Dorje Sherpa, um guia nepalês que coroou o Everest 18 vezes. "A montanha tem toneladas de lixo." Na imagem, lixo gerado no campo 4 do Everest, em 21/05/2018.
Desde o surgimento de expedições comerciais na década de 1990, o número de pessoas que subiu a montanha de 8.848 metros disparou. Este ano, apenas na alta temporada de primavera, pelo menos 600 alpinistas atingiram o pico. Mas essa popularidade tem consequências. Os montanhistas, que gastam muito dinheiro para fazer a subida emblemática, às vezes prestam pouca atenção à sua pegada ecológica. E pouco a pouco, amarrado depois de amarrado, o lixo está atingindo o Everest. Na imagem, lixo gerado no campo 4 do Everest, em 21/05/2018.
As autoridades, no entanto, tomaram medidas para evitar a contaminação. Nos últimos cinco anos, o Nepal tem solicitado uma fiança de US $ 4.000 por expedição, que reembolsa se cada montanhista do grupo abater pelo menos oito quilos de lixo. No lado tibetano da montanha, menos frequentado, as autoridades pedem a mesma quantia e infligem uma multa de US $ 100 por quilo em falta.
Em 2017, montanhistas na encosta nepalesa recuperaram cerca de 25 toneladas de resíduos sólidos e 15 toneladas de resíduos humanos, de acordo com o Comitê de Controle de Poluição de Sagarmatha (SPCC). E nesta temporada eles baixaram quantidades ainda maiores, mas ainda representam uma pequena parte da poluição gerada.
Apenas metade dos alpinistas recuperam a quantidade necessária de resíduos, de acordo com o SPCC. A perda da fiança representa uma soma ridícula em comparação com as dezenas de milhares de dólares que cada montanhista gasta para uma expedição no Everest.
Para Pemba Dorje Sherpa, o principal problema é o descuido dos visitantes, além do fato de alguns funcionários oficiais fecharem os olhos em troca de um pequeno suborno. "Não há vigilância suficiente nos campos altos (aqueles localizados acima do acampamento-base) para garantir que a montanha permaneça limpa", lamenta.
O ser humano deixa seu rastro até no teto do mundo. Barracas fluorescentes, material de escalada, cilindros de oxigênio vazios e até excrementos. Um alpinista que acha que vai encontrar neve imaculada no Everest pode ter uma surpresa desagradável.
China retira 2,3 toneladas de fezes humanas do Everest. Homem recolhe lixo do Everest em 2010.
“Continuo sonhando que vou seguir mais ou menos no mesmo ritmo” - Edurne Pasaban em uma de suas expedições.
“É nojento, um espetáculo repugnante”, diz Pemba Dorje Sherpa, um guia nepalês que chegou 18 vezes ao Everest. “A montanha tem toneladas de resíduos.”
Desde o surgimento das expedições comerciais nos anos 1990, disparou o número de pessoas que escalaram a montanha de 8.848 metros de altitude. Este ano, somente na alta temporada da primavera, pelo menos 600 alpinistas alcançaram seu cume. Mas essa popularidade tem consequências. Os montanhistas, que gastam muito dinheiro para realizar a emblemática subida, às vezes prestam pouca atenção à sua pegada ecológica. Pouco a pouco, com uma cordada após a outra, os resíduos vão manchando o Everest.
As autoridades já tomaram algumas medidas para impedir a poluição. Há cinco anos o Nepal pede uma fiança de US$ 4.000 (R$ 15.600) por expedição, que reembolsa se cada alpinista do grupo trouxer de volta pelo menos oito quilos de dejetos. No lado tibetano da montanha, menos frequentado, as autoridades exigem a mesma quantidade e impõem multa de US$ 100 (R$ 390) por quilo faltante.
Em 2017, os alpinistas da vertente nepalesa recuperaram cerca de 25 toneladas de resíduos sólidos e 15 toneladas de dejetos humanos, segundo o Sagarmatha Pollution Control Committee (SPCC). E nesta temporada foram retiradas quantidades ainda mais elevadas, embora continuem representando uma ínfima parte da poluição causada.
Somente a metade dos alpinistas recupera as quantidades de resíduos exigidas, segundo o SPCC. A perda da fiança representa na realidade uma soma ridícula em comparação com as dezenas de milhares de dólares que cada montanhista gasta para uma expedição ao Everest.
Para Pemba Dorje Sherpa, o principal problema é o desleixo dos visitantes, ao qual se soma o fato de que algumas autoridades fecham os olhos em troca de um pequeno suborno. “Não há vigilância suficiente nos acampamentos altos (os situados acima do acampamento-base) para garantir que a montanha continue limpa”, lamenta.
A guerra de preços entre vários operadores converteu o Everest em um destino mais acessível para um número cada vez maior de alpinistas inexperientes. As expedições mais baratas podem custar “somente” US$ 20.000 (R$ 78.000), muito abaixo dos cerca de US$ 70.000 (R$ 273.000) pagos pelas mais famosas.
"Não há vigilância suficiente nos acampamentos altos (os situados acima do campo-base) para garantir que a montanha continue limpa”.
A chegada de pessoas menos acostumadas a montanhas altas agrava o problema da poluição, pondera Damian Benegas, um veterano do Everest. Antes, os alpinistas levavam eles mesmos a maior parte de seu material, mas muitos neófitos não conseguem fazer isso hoje em dia. Os xerpas “têm de levar o material do cliente, por isso já não podem trazer o lixo para baixo”, afirma Damian Benegas, que incentiva as agências a contratarem mais funcionários para montanhas altas.
Os defensores do meio ambiente também temem que a poluição do Everest afete os rios do vale situado mais abaixo. No momento, os excrementos dos alpinistas do acampamento-base são transportados até a cidadezinha mais próxima, a uma hora a pé, onde são jogados em fossas.
“Depois acabam sendo arrastados rio abaixo durante as monções”, explica Garry Porter, um engenheiro norte-americano. Ele e sua equipe estudam a construção de uma estrutura de compostagem perto do acampamento-base, para transformar esses excrementos em adubo.
Ang Tsering Sherpa, ex-presidente da Associação de Alpinismo do Nepal, acha que uma das soluções poderia ser a criação de equipes dedicadas unicamente à coleta de dejetos. Sua operadora, a Asian Trekking, que insiste no lado ecológico de suas expedições, recolheu 18 toneladas de resíduos na última década, além dos oito quilos por membro da expedição. “Não é um trabalho simples”, diz Ang Tsering Sherpa. “O Governo tem de estimular os grupos para limpar e aplicar as regras com mais rigor.” (brasil.elpais)

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