sábado, 9 de junho de 2018

Poluição do ar em São Paulo diminuiu com greve dos caminhoneiros

Poluição do ar em São Paulo diminuiu pela metade com greve dos caminhoneiros.
De acordo com o patologista Paulo Saldiva, greve permitiu experimento natural raro que possibilitará medir o custo real da poluição na capital paulista, que inclui internações, mortes e incapacitação.
A greve dos caminhoneiros no Brasil resultou em transtornos graves para a população e para os negócios. No entanto, a redução do tráfego, principalmente o de caminhões, constituiu ambiente raro para avaliar índices e efeitos da poluição do ar na capital paulista.
Os resultados são impressionantes: em sete dias de greve as emissões em São Paulo caíram pela metade em duas estações – Ibirapuera e Cerqueira Cesar – do Sistema de Informações de Qualidade do Ar da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).
De acordo com a comparação dos dados diários sobre poluição atmosférica medidos pela CETESB, os índices de poluição aumentaram quando houve a liberação do rodízio, seguidos de uma forte queda após a falta de combustível e a redução de carros e a frota de ônibus nas ruas.
Na tarde de segunda-feira (28/05), sétimo dia de greve dos caminhoneiros, a qualidade do ar na capital paulista era considerada boa em todas as estações de medição e para todos os poluentes analisados, algo difícil de ser registrado.
“Houve uma redução de 50% da poluição na capital paulista. Esse é um episódio raro e vamos estudar suas consequências na saúde pública. Quem sabe essas evidências quantitativas sirvam de argumento para a criação de políticas públicas”, disse Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), durante apresentação no evento “Diálogos Interdisciplinares sobre Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista”, realizado no auditório da FAPESP.
A poluição é responsável por muitas mortes na cidade.
Saldiva comparou os dados relativos aos índices de monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (N2O) e partículas inaláveis na atmosfera. Os três índices, diretamente ligados à liberação da queima de combustíveis, são historicamente mais altos às segundas e sextas-feiras, quando há mais trânsito na cidade, e caem nos fins de semana.
“Na semana anterior ao episódio, a maior poluição foi na segunda e na sexta (14 e 18/05). Na primeira semana da greve, a poluição começou alta e piorou com a liberação do rodízio em 24/05/18. Quando a gasolina começa a rarear, há menos carros nas ruas e a frota de ônibus segue reduzida, os níveis de poluentes primários caem pela metade”, disse Saldiva.
Com os dados da redução da poluição, a equipe de pesquisadores do IEA vai agora fazer uma análise mais completa do fenômeno e cruzar os níveis de poluição e de congestionamento com os dados diários de mortalidade e internações no período. O objetivo é medir o custo real da poluição.
“A poluição tem um custo alto em saúde. Existe a chamada perda de capacidade produtiva de uma população economicamente ativa, ou seja, quanto dinheiro o Brasil perde por uma fração produtiva da sua população morrer antes da hora estipulada”, disse Saldiva.
É o chamado índice DALY (da sigla em inglês para Disability Adjustment Life Years). “Isso é uma moeda que pode ser precificada pelo PIB per capita regional e dá um custo astronômico. Todo mundo sabe o preço de mudar, mas ninguém sabe o preço de manter. Esse experimento vai permitir saber esse imposto oculto, provavelmente muito maior que o subsídio. É uma perda da saúde que todos pagamos e que não temos defesa individual: a poluição atmosférica”, disse.
Desde o dia 21, caminhoneiros de todo o Brasil fecharam mais de duas centenas de trechos de rodovias no país, protestando contra o aumento do diesel. Como consequência, aeroportos tiveram voos cancelados, supermercados não fizeram reposição de produtos, a frota de ônibus foi reduzida em todo o país e postos de gasolina pararam de funcionar por falta de combustível. As ruas da cidade de São Paulo desengarrafaram.
Em 29/05/18 perto das 18h, horário de pico, a cidade registava apenas 2 quilômetros de engarrafamento nos 868 quilômetros monitorados pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Sem metrô
A equipe de pesquisadores teve a oportunidade de medir a poluição de São Paulo em outra experiência rara: a greve dos metroviários em maio de 2017. Naquela época, no entanto, a poluição atmosférica dobrou. “Quando o metrô entrou em greve, todo mundo saiu de carro. No dia, houve um excesso de 12 mortes. Então, o metrô funciona como um redutor da poluição”, disse Saldiva.
A estimativa, desta vez, é que, com a redução de carros e ônibus nas ruas, sejam evitadas pelo menos seis mortes por dia na capital paulista. “Só teremos essa resposta mais para frente, com os cálculos prontos”, disse.
Saldiva destaca que o episódio pode ter um papel educativo. “Talvez esse estudo convença as pessoas de que a volta ao diesel seja transitória. Talvez isso crie um capital político para que essas mudanças para reduzir a poluição – como melhoria do transporte coletivo, adoção de matriz energética mais limpa, adensamento urbano – sejam mais toleráveis pela população”, disse. (ecodebate)

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