Três coisas que podemos fazer
para evitar que a temperatura da Terra suba além do limite.
A
seca na Austrália é apenas uma das formas pelas quais as pessoas estão
experimentando o clima extremo.
Este
ano, milhões de pessoas em todo o mundo estão sentindo de forma extrema os
efeitos da mudança
climática.
Ondas de calor fizeram a
temperatura subir a níveis alarmantes do Japão ao círculo polar ártico.
Incêndios florestais varreram a Califórnia e a Grécia. E o Estado mais populoso
da Austrália, Nova Gales do Sul, está agora completamente seco.
Para cientistas que estudam o
clima, estes acontecimentos são um sinal de alerta da ameaça representada pela
mudança climática antropogênica, isto é, produzida pelo homem a partir da
liberação massiva de carbono na atmosfera.
"Eu acredito que as
pessoas estejam associando, de forma correta, sua experiência cotidiana com o
aquecimento do planeta", diz Bill Hare, cientista do clima e cofundador do
consórcio científico Climate Analytics.
Reduzir
o uso de termoelétricas movidas a carvão é um ponto-chave para controlar a
mudança climática.
Um aumento de 2ºC na
temperatura global é considerado o máximo que o planeta pode tolerar sem o
risco iminente de catástrofes em nossa alimentação, abastecimento de água,
biodiversidade ou no nível dos mares.
Na Cúpula do Clima de Paris,
realizada no fim do ano passado, líderes de vários países do mundo concordaram
em tentar manter o aquecimento global "bem abaixo" deste limite
crucial - abaixo de 1,5ºC - o que pode fazer uma grande diferença para
populações vivendo em pequenas ilhas ou outras áreas vulneráveis.
Mas o mundo conseguirá manter
essa promessa? Eis o que os especialistas dizem ser preciso fazer para cumprir
o objetivo.
Substituir combustíveis
fósseis por renováveis
Para limitar o aquecimento do
planeta a 1,5C° ou menos, cientistas concordam que as emissões de carbono devem
chegar a um pico em 2020, e então declinar rapidamente até zero pela metade do
século, ou um pouco depois.
"Se conseguiremos fazer
isto, se é viável econômica e tecnicamente, são questões legítimas de se
perguntar. Mas a comunidade científica tem mostrado que é possível sim, e na
maioria dos casos, economicamente viável, com grandes benefícios para o
desenvolvimento sustentável", disse Bill Hare à BBC.
Um relatório da Agência
Internacional de Energia (IEA) afirma que, se ações neste sentido forem tomadas
cedo o suficiente, 70% das emissões de carbono podem ser cortadas até 2050. E,
até 2060, a economia mundial pode tornar-se livre de carbono.
Uma transição tão grande nas fontes de energia
necessitaria de uma "escalada sem precedentes no uso de tecnologias de baixo
carbono, em todos os países", diz o relatório da IEA.
O
carvão não é apenas poluente - é também perigoso para as pessoas que trabalham
com ele.
A boa notícia é que não só na
Europa, mas também na China e na Índia, o carvão está sendo rapidamente
substituído na função de combustível para a geração de energia. O uso de
energia eólica (do vento) e solar está se tornando mais comum.
De acordo com um artigo de
Bill Hare, outra medida importante para diminuir as emissões seria eletrificar
o sistema de transporte. O último carro movido a gasolina precisa sair da
concessionária antes de 2035 se quisermos cumprir a meta de limitar o
aquecimento global a 1,5 C°, diz o texto de Hare.
Outra contribuição pode vir
de casas e escritórios que gerem eletricidade renovável em quantidade
suficiente para atender às próprias necessidades.
Mas será que o mundo está
caminhando para começar a reduzir suas emissões de gás carbônico depois de
2020?
"Não está claro ainda", diz Hare.
"Parece que as emissões de CO2 começaram a crescer novamente e, se isto se
confirmar, só vão começar a cair novamente bem depois de 2020. Até o momento,
não parece que será possível (cumprir a meta), a não ser que países relevantes
comecem a agir", diz ele.
O
uso da energia eólica está avançando - inclusive nos países em desenvolvimento.
Proteger e regenerar as
florestas
A derrubada das florestas
tropicais é responsável por cerca de 20% das emissões anuais de gases
causadores do efeito estufa. Portanto, deter a derrubada de florestas é algo
muito relevante para conter as emissões de carbono.
Um estudo da Universidade de
Exeter, no Reino Unido, sugere que regenerar estas florestas é também a melhor
forma de recapturar carbono que foi lançado na atmosfera - ajudando, portanto,
a segurar o aumento da temperatura.
A líder do estudo é a
especialista em ciência do clima Anna Harper. Segundo ela, levantamentos
anteriores sugerem que a recuperação das áreas de floresta tropical poderia
remover uma ou duas gigatoneladas de carbono da atmosfera por ano. Um número
significativo, se levarmos em conta que o total de emissões atuais é de 10
gigatoneladas por ano.
Cientistas dizem que, mesmo
que o mundo zere as emissões de carbono até a metade deste século, ainda é
possível ampliar os esforços com "emissões negativas", de forma a
atingir os objetivos globais contra o efeito estufa.
Técnicas estão em
desenvolvimento para capturar e armazenar carbono em árvores, no subsolo e no
leito marinho.
Um artigo publicado por Anna Harper no periódico
científico Nature Communications analisou
uma destas soluções - usinas de bioenergia que capturam e armazenam CO2 -
e concluiu que plantar ou reflorestar regiões de mata ainda é a melhor forma de
mitigar os efeitos da mudança climática.
Segundo
o estudo da Universidade de Exeter, a natureza já criou a forma mais eficiente
de retirar carbono da atmosfera.
"Para atingir os
objetivos do acordo de Paris, precisamos tanto reduzir drasticamente as novas
emissões quanto usar um mix de diferentes técnicas para remover carbono da
atmosfera", diz Harper.
"Não existe uma 'cartada
mágica' que vá resolver todos os problemas", diz a pesquisadora.
Manter os políticos na linha
A ciência continuará
monitorando a trajetória das emissões de carbono, de modo a saber se o mundo
está ou não no caminho para atingir as metas de controle de temperatura.
Mas uma análise mais
cuidadosa das promessas feitas por cada país após o acordo de Paris em 2015
mostra que os esforços ainda estão aquém do necessário.
Em seus relatórios, a IEA
estima que as emissões de carbono feitas pelo setor de energia precisam ficar
abaixo de 790 gigatoneladas, de 2015 até 2100, para que a meta de 1,5 C° seja
atingida.
Apesar disso, os compromissos
atuais dos países permitiriam que este setor, sozinho, lançasse na atmosfera
1,260 gigatoneladas só até 2050.
Isto significa que o eventual
sucesso em conter o aumento das temperaturas dependerá de "emissões
negativas" - captura de carbono - e de novas tecnologias e esforços. Ou
não acontecerá.
"Aquecimento
global não é um mito", diz o cartaz exibido num protesto durante o
encontro dos países do G20 em Hamburgo, Alemanha, em julho de 2017.
Os dirigentes dos principais
países emissores do mundo se encontram nos eventos do G20 - a reunião das vinte
maiores economias do mundo. Os países deste grupo somam 63% da população do
mundo e 83% das emissões.
Estes países - cujas
populações são provavelmente mais atentas às questões ambientais e mais aptas a
se manifestar por seus direitos - estabeleceram metas de controle de emissões.
"Em termos do público em
geral, as pessoas estão agora mais atentas à questão da mudança climática. E eu
acho que isto está levando a mais pressão sobre os políticos, seus partidos e a
indústria, para reduzir as emissões", diz Bill Hare.
Mesmo assim, o presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, retirou os EUA do acordo de Paris. E prometeu
trazer de volta à vida o setor de carvão do país.
"A história vai
julgá-lo. Todos nós concordamos, penso eu, que não há catástrofe climática
capaz de fazer Donald Trump rever sua posição", diz o cientista. (bbc)
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