Ano 2018 estabelece recordes
de grandes fogos ao ar livre, com estações quentes e secas se tornando a nova normalidade.
Em 2017, partes da Europa e
da América foram devastadas por incêndios ao ar livre de grandes proporções. O
ano de 2018 está estabelecendo novos recordes, com estações quentes e secas se
tornando a nova normalidade.
O incêndio florestal que obrigou
mais de 500 pessoas a deixarem suas casas em vilarejos próximos a Berlim na
semana passada foi apenas mais um numa longa lista neste verão na Europa.
Devido ao calor e à estiagem, países da região têm vivenciado temporadas de
incêndios florestais mais longas e mais ferozes.
Floresta próxima a Berlim:
incêndios florestais de verão chegaram à Alemanha.
Na Europa Meridional, o
intenso calor de verão cria campo fértil para o fogo. Mais de 80 pessoas
morreram na Grécia em julho, quando o maior incêndio florestal numa década
devastou a região turística de Mati, cerca de 28 quilômetros ao leste de
Atenas. Milhares tiveram que ser evacuados, 1.500 casas foram danificadas,
muitas destruídas.
Em Valência, Espanha, 2.500
moradores deixaram suas casas para escapar do fogo que atingiu quase 2.500
acres. Em Portugal, um incêndio irrompeu em Monchique, no Algarve, onde no
princípio de agosto as temperaturas passaram de 45ºC.
Até mesmo os países
escandinavos e bálticos como Noruega, Finlândia e Lituânia, tipicamente
temperados, sofreram com as chamas. A Suécia registrou alguns dos maiores
incêndios de sua história em julho último, o mais quente no país em 250 anos. O
fogo não poupou nem mesmo partes do Ártico, onde as temperaturas do verão
estiveram 10ºC acima da média.
Em 2017, mais de dez grandes
incêndios atravessaram o norte da Califórnia, matando 41 pessoas, destruindo 6
mil residências, devastando a famosa região vinícola local e gerando prejuízos
de US$ 2,7 bilhões. Até agora, essa foi a série de incêndios mais fatal e mais
destrutiva na história do estado americano.
Em julho e agosto de 2018,
quase 20 incêndios devastaram a Califórnia, e alguns ainda estão ativos. Seis
bombeiros morreram no cumprimento de seu dever. Em 4 de agosto foi declarado
estado de calamidade na Califórnia.
O maior desastre foi assim
chamado "complexo Mendocino", uma junção de dois grandes focos no
norte do estado, que queimou mais de 415 mil acres, 157 residências e 120
outros prédios. No que se refere ao futuro, não há um fim à vista para a onda
de chamas varrendo o globo.
A província canadense da
Colúmbia Britânica declarou estado de emergência em 15 de agosto, enquanto
centenas de fogos descontrolados ardiam por seu território. Milhares de
moradores foram evacuados, e 600 mil acres foram consumidos pelas chamas.
No ano anterior, essa região
e a de Alberta já haviam tido a pior temporada de incêndios desde o início dos
registros, com mais de 3,11 milhões de acres destruídos até meados de outubro.
Incêndios florestais são em
geral deflagrados por relâmpagos ou por seres humanos, por descuido ou
deliberadamente. Mas o fenômeno está se exacerbando devido às ondas de calor
que, como advertem climatologistas, tendem a se tornar a norma.
"Conflagrações de fogo
são uma característica natural dos verões, mas a alteração do clima está
aumentando o risco", confirma Bob Ward, diretor de políticas e comunicação
do Instituto Grantham de Pesquisa da Mudança Climática, em Londres.
A seca é um dos principais
fatores intensificadores. Na Califórnia, no inverno anterior as chuvas foram
poucas, secando a madeira e gerando combustível para os incêndios, explica
Ward. Em relação à Grécia, "há indicações muito claras de que os países do
norte do Mediterrâneo estão tendo secas mais frequentes e intensas, e isso se
deve à mudança climática".
Países ao norte do
Mediterrâneo estão tendo secas mais intensas e frequentes.
Segundo o especialista, pelas
próximas três ou quatro décadas a humanidade não terá qualquer controle sobre a
ocorrência das secas "porque elas estão 'trancadas' pela concentração de
gases-estufa que já se formou".
Em várias partes do mundo, os
incêndios ao ar livre são parte do ciclo natural. As savanas, por exemplo, são
mantidas pelo fogo: algumas árvores não só o sobrevivem como precisam dele para
liberar suas sementes. A intervenção humana pode perturbar esses ciclos, como
tem constatado a ciência da ecologia florestal.
O desmatamento de bosques
antigos, por exemplo, eleva o risco de catástrofes. Uma vez que as árvores
grandes e antigas mais provavelmente já sobreviveram a incêndios, elas tendem a
ser mais resistentes do que plantas menores e mais jovens.
Apagar pequenos incêndios
também permite que resíduos inflamáveis se acumulem, até que se deflagra um fogo
colossal e incontrolável. Deixar os pequenos focos arderem e controlá-los é um
meio efetivo de livrar-se da lenha seca. "Uma coisa que pode aumentar o
risco de grandes incêndios, ironicamente, é a supressão do fogo", resume
Bob Ward.
Para agravar, o aquecimento
global gera condições mais quentes e secas, e ciclos de incêndio estão
começando a se manifestar em áreas, como os trópicos, que não dispõem de uma
ecologia natural do fogo.
Mas a mudança climática não é
o único elemento de origem humana nessa equação. Incêndios também são iniciados
por incautos que deixam cair cigarros acesos ou deixam fogueiras arder fora de
controle, além de serem intensificados pela má gestão de terras.
Assim, segundo o especialista do Instituto
Grantham, além da redução de emissões dos gases responsáveis pelo efeito
estufa, os governos precisam esclarecer o público sobre os riscos de incêndios
ao ar livre, e se deveria evitar construir em áreas sujeitas a incêndios.
Reduziremos os incêndios se
reduzirmos as emissões de gases estufa.
"Para, além disso, temos
a opção - se reduzirmos as nossas emissões - de sustar essa tendência a secas
mais fortes e mais frequentes. Mas isso depende de nós." (terra)
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