Não há dúvida de que se
quisermos diminuir ou até mesmo parar a mudança climática, temos que fazer isso
juntos. Mas a ação coletiva começa com escolhas individuais, e, para todos
aqueles que tomam decisões com base em dados, o caminho para se seguir ficou um
pouco mais claro. Um novo estudo na Environmental Research Letters determinou
exatamente quais escolhas de vida reduzem mais o impacto do carbono.
Muitas pessoas preocupadas
com o clima defendem políticas nacionais e internacionais para reduzir a
emissão de carbono pelos humanos. Mas dois pesquisadores da Universidade de
Lund, na Suécia, sentiam que esse foco nas políticas de alto nível despreza uma
oportunidade crítica para a redução de emissão dos gases do efeito estufa:
indivíduos em países desenvolvidos. Então, os pesquisadores se encarregaram de
classificar uma série de ações – desde ter menos filhos até adotar uma dieta
vegetariana – que poderiam empoderar pessoas comuns e torná-las Capitães
Planetas em suas narrativas pessoais.
“A ciência nos diz
basicamente que o futuro de uma boa vida no planeta Terra depende da redução da
poluição climática em cerca de 90% até 2050”, disse a professora de sustentabilidade
e coautora do estudo Kimberly Nicholas ao Gizmodo. “Muitas pessoas reconhecem
isso e estão prontas para agir, mas a maioria não sabe o que fazer.”
Para identificar os fatores de estilo de vida
que mais afetam nossas emissões de carbono, os pesquisadores analisaram dezenas
de artigos revisados por especialistas, calculadores de carbono e relatórios de
governos, com foco em países desenvolvidos, onde as emissões do gás são
maiores. Os pesquisadores tiveram uma abordagem de “ciclo de vida”, onde, por
exemplo, o custo de carbono de uma propriedade de um carro inclui os gases de
efeito estufa produzidos durante a fabricação do veículo. No final, eles
identificaram uma dúzia de ações individuais que podem cortar a emissão de
carbono, incluindo quatro recomendadas “que são de magnitude substancial no
mundo desenvolvido”.
Essas ações são: ter uma
dieta baseada em vegetais (economia média de 0,8 tonelada métrica de CO2
por ano), um voo transatlântico a menos (economia média de 1,6 tonelada métrica
de CO2 por ano), viver sem carro (economia média de 2,4 toneladas
métricas de CO2 por ano) e ter menos filhos (60 toneladas métricas
de CO2 por ano). Duas ações adicionais que os pesquisadores pensaram
em colocar na lista – não ter um cachorro e comprar energia renovável – foram
consideradas de “mérito questionável”, na média de todos os países incluídos no
estudo, embora em Canadá, Austrália e Estados Unidos comprar energia renovável
resultou em pesadas economias de carbono.
Um estudo publicado em 2013 estima que, para limitar o
aquecimento global a 2°C, a emissão média individual de carbono precisaria ser
reduzida para 2,1 toneladas métricas de CO2 por ano até 2050. A
emissão média de um cidadão americano atualmente está estimada em 16,4
toneladas métricas por ano. A do Brasil está em nove toneladas métricas por habitante
por ano. O novo estudo descobriu que poderíamos estar fazendo muito mais para
comunicar sobre escolhas de estilo de vida impactantes nesse sentido.
Analisando 216 ações
individuais recomendadas nos livros didáticos das escolas canadenses, os
pesquisadores descobriram que as melhores ações para reduzir a poluição de
carbono eram, “em sua maioria, apresentadas de uma forma menos efetiva, ou
nada efetiva”, enquanto escolhas de menor impacto, como reciclagem, estavam
destacadas. Uma ênfase em escolhas de baixo impacto também foi encontrada nos
guias governamentais de Estados Unidos, Austrália, Canadá e União Europeia.
“A surpresa foi que essas
duas fontes de informação”, livros didáticos e recomendações governamentais,
“focavam em ações de impacto baixo ou moderado”, disse Nicholas. “São coisas
boas a se fazer, mas elas não atingem a escala suficiente do desafio.”
É óbvio que uma vida sem filhos, sem carros, sem
viagens e sem carne não é para todos. Eu, por exemplo, amo comer uma costela de
vez em quando. Mas achei bem fácil deixar de dirigir em uma grande cidade e,
agora que eu sei exatamente o quão ruim é viajar de avião, vou me sentir uma
pontada incômoda de culpa todas as vezes que comprar passagens. E se você
estiver mais preocupado em pagar as contas do que salvar o planeta, está tudo
bem. Mas Nicholas aponta que muitas das escolhas destacadas no artigo podem ter
benefícios pessoais, também.
“Eu descobri por experiência
própria que fazer essas mudanças para reduzir as emissões tem sido muito
positivo”, disse ela, explicando como abriu mão de viagens de avião e passou a
privilegiar os trens ao viajar dentro da Europa e acabou experimentando muitas
aventuras inesperadas com isso. “Acho que nós, indivíduos com grandes emissões
de carbono, realmente precisamos tentar parar a poluição”, adicionou. “Mas não
precisamos deixar de ter qualidade de vida.” (uol)
Nenhum comentário:
Postar um comentário