Conter
mudanças no clima é fundamental para evitar crise econômica global.
Recado
foi dado pelos maiores investidores do mercado financeiro na COP-24: taxar
carbono pode ser o caminho.
Acabar com a queima de carvão
mineral para a produção de energia elétrica é uma das mais importantes medidas
para conter o aquecimento global.
O mundo precisa cortar
urgentemente as emissões de carbono e eliminar gradualmente toda a queima de
carvão, ou estará diante de uma crise financeira várias vezes pior que a de
2008.
A afirmação, defendida em um
documento apresentado na COP-24, não veio de
nenhuma ONG ambientalista, mas de um grupo com 415 das maiores agências de
investimento no mercado financeiro do mundo, no controle de US$ 32 trilhões—
mais de quinze vezes o PIB brasileiro.
"A natureza de longo
prazo do desafio e, em nossa opinião, demanda a resposta do tipo de um
apocalipse zumbi", disse no evento Chris Newton, da IFM Investors, que
administra US$ 80 bilhões e é um dos grupos que assinaram a Declaração Global de Investidores.
"É a receita do desastre, pois os impactos da mudança climática podem ser
repentinos, severos e catastróficos".
A empresa de investimentos
Schroders disse que as perdas econômicas globais estão estimadas em US$ 23
trilhões por ano em longo prazo, sem ação rápida. Esse dano econômico
permanente seria quase quatro vezes maior do que o impacto da crise financeira
global de 2008.
Uma das principais demandas
da Declaração Global de Investidores é eliminar progressivamente as centrais
elétricas movidas a carvão em todo o mundo, assim como o subsídio aos
combustíveis fósseis, que o FMI classifica em US$ 5 trilhões por ano e que o
G20 tem prometido enfrentar por uma década. Só esta medida poderia reduzir as
emissões globais de CO2 em 10% até 2030.
Taxação de carbono
Outra demanda dos
investidores para os governos é introduzir impostos “economicamente
significativos” sobre o carbono. A maioria está abaixo de US $ 10 por tonelada,
mas precisa subir para até US $ 100 na próxima década ou duas, disseram os
investidores.
A questão está mais quente do
que nunca. A tentativa do presidente francês Emmanuel Macron de aumentar as
taxas sobre os combustíveis fósseis, com o objetivo de ser referência para o
combate às mudanças climáticas, provocou protestos no país e foi um
fracasso. "Ele não levou as pessoas junto, acompanhando a política
com medidas sociais para permitir que os cidadãos aproveitassem as
oportunidades da transição e superassem os desafios", disse Camilla Born,
conselheira da E3G.
A experiência, no entanto,
não significa que colocar entraves financeiros sobre as fontes emissoras
de gases de efeito estufa devem ser deixado de lado. Também nesta segunda, uma
coalizão de organizações chamada Climate Damages Tax apresentou na COP-24
um documento que defende a viabilidade de um mecanismo efetivo de compensação
por perdas e danos aos países vulneráveis que sofrem com eventos climáticos
extremos.
A dificuldade de construir um
consenso entre os países, especialmente sobre como prover um mecanismo de
financiamento que possa ser acessado rapidamente no evento de um desastre,
dificulta o entendimento sobre essa questão, o que traz mais problemas às
populações que já vivem a mudança do clima em seu dia-a-dia e que não têm
condições de enfrentá-la.
O documento propõe taxar as
grandes corporações petrolíferas por toda tonelada de óleo, gás e carvão que
extraem do solo. Esse dinheiro seria destinado ao Fundo Verde para o Clima para
ser acessado rapidamente quando a devastação acontecer.
Incêndios intensos na
Califórnia são consequências do aquecimento global.
Segundo o relatório, os
países vulneráveis poderiam, assim, contar com um fundo de emergências de US$
300 bilhões todos os anos. "Quando o Ciclone Pam atingiu Vanuatu em 2015,
perdemos 64% de nosso PIB, com perdas e danos de US$ 449 milhões”, lembra Ralph
Regenvanu, representante do país insular do Pacífico e uma das mais ameaçadas
pela mudança do clima. “Nós fizemos uma requisição ao Fundo Verde para o Clima
de US$ 700 milhões, sendo que o encontro recente do Fundo aprovou uma ajuda de
apenas US$ 18 milhões."
"Novas fontes de
financiamento são necessárias para preencher essa lacuna. Temos uma
justificativa forte para taxar a indústria dos combustíveis fósseis para pagar
pelos danos climáticos que ela está causando”, continuou Regenvanu. “Eles
sabiam disso e falsearam os danos decorrentes do uso de combustíveis fósseis.
Vanuatu apoia todos os esforços para tirar o custo da proteção climática das
costas das nações vulneráveis e colocá-lo sobre a indústria fóssil."
O relatório recomenda uma
taxa sobre carvão, óleo e gás quanto extraídos, começando por US$ 5 por
tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), aumentando US$ 5
por tonelada a cada ano até 2030, a partir de quando essa taxa se elevaria
anualmente em US$ 10 por tonelada.
A maior parte da grana
arrecadada seria utilizada em programas de transição justa para ajudar
comunidades a adotar tecnologias de transporte, energia e emprego de baixo
carbono, garantindo que a transição energética não impacte injustamente
famílias de baixa renda.
Para Manuel Pulgar Vidal,
líder do programa global de clima e energia do WWF e ex-ministro do meio
ambiente do Peru, a taxa permite custear a compensação sobre perdas e danos
decorrentes de desastres climáticos em países vulneráveis, ao mesmo tempo em
que sinaliza que a era dos combustíveis fósseis precisam acabar para que o
clima global não seja afetado de maneira irremediável.
"Se quisermos proteger o
planeta, precisamos abandonar os combustíveis fósseis - e de maneira rápida. As
companhias petrolíferas conseguiram lucros enormes ao longo dos anos, na medida
em que a queima de seus produtos intensificou a ameaça da mudança do clima”, afirmou
Vidal. “Já passou da hora de essas empresas arcarem com parte dos custos sobre
as perdas e danos que elas causaram.
Uma taxa de danos climáticos
seria algo nesse sentido".
A indústria fóssil arrecada
centenas de bilhões em lucros enquanto o real custo de seu produto é pago pelo
resto da sociedade, particularmente pelos mais pobres e vulneráveis, argumenta
Julie-Anne Richards, da Climate Damages Tax. "Introduzir essa taxação é
possível: já foi feito em outros campos como energia nuclear, derramamento de
óleo, tabaco. As instituições existem, inclusive o Fundo Verde para o Clima - o
que precisamos agora é vontade política dos governos". (globo)
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