quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Conter mudança climática é fundamental para evitar crise econômica

Conter mudanças no clima é fundamental para evitar crise econômica global.
Recado foi dado pelos maiores investidores do mercado financeiro na COP-24: taxar carbono pode ser o caminho.
Acabar com a queima de carvão mineral para a produção de energia elétrica é uma das mais importantes medidas para conter o aquecimento global.
O mundo precisa cortar urgentemente as emissões de carbono e eliminar gradualmente toda a queima de carvão, ou estará diante de uma crise financeira várias vezes pior que a de 2008.
A afirmação, defendida em um documento apresentado na COP-24, não veio de nenhuma ONG ambientalista, mas de um grupo com 415 das maiores agências de investimento no mercado financeiro do mundo, no controle de US$ 32 trilhões— mais de quinze vezes o PIB brasileiro.
"A natureza de longo prazo do desafio e, em nossa opinião, demanda a resposta do tipo de um apocalipse zumbi", disse no evento Chris Newton, da IFM Investors, que administra US$ 80 bilhões e é um dos grupos que assinaram a Declaração Global de Investidores. "É a receita do desastre, pois os impactos da mudança climática podem ser repentinos, severos e catastróficos".
A empresa de investimentos Schroders disse que as perdas econômicas globais estão estimadas em US$ 23 trilhões por ano em longo prazo, sem ação rápida. Esse dano econômico permanente seria quase quatro vezes maior do que o impacto da crise financeira global de 2008.
Uma das principais demandas da Declaração Global de Investidores é eliminar progressivamente as centrais elétricas movidas a carvão em todo o mundo, assim como o subsídio aos combustíveis fósseis, que o FMI classifica em US$ 5 trilhões por ano e que o G20 tem prometido enfrentar por uma década. Só esta medida poderia reduzir as emissões globais de CO2 em 10% até 2030.
Taxação de carbono
Outra demanda dos investidores para os governos é introduzir impostos “economicamente significativos” sobre o carbono. A maioria está abaixo de US $ 10 por tonelada, mas precisa subir para até US $ 100 na próxima década ou duas, disseram os investidores.
A questão está mais quente do que nunca. A tentativa do presidente francês Emmanuel Macron de aumentar as taxas sobre os combustíveis fósseis, com o objetivo de ser referência para o combate às mudanças climáticas, provocou protestos no país e foi um fracasso. "Ele não levou as pessoas junto, acompanhando a política com medidas sociais para permitir que os cidadãos aproveitassem as oportunidades da transição e superassem os desafios", disse Camilla Born, conselheira da E3G.
A experiência, no entanto, não significa que colocar entraves financeiros sobre as  fontes emissoras de gases de efeito estufa devem ser deixado de lado. Também nesta segunda, uma coalizão de organizações chamada Climate Damages Tax apresentou na COP-24 um documento que defende a viabilidade de um mecanismo efetivo de compensação por perdas e danos aos países vulneráveis que sofrem com eventos climáticos extremos.
A dificuldade de construir um consenso entre os países, especialmente sobre como prover um mecanismo de financiamento que possa ser acessado rapidamente no evento de um desastre, dificulta o entendimento sobre essa questão, o que traz mais problemas às populações que já vivem a mudança do clima em seu dia-a-dia e que não têm condições de enfrentá-la.
O documento propõe taxar as grandes corporações petrolíferas por toda tonelada de óleo, gás e carvão que extraem do solo. Esse dinheiro seria destinado ao Fundo Verde para o Clima para ser acessado rapidamente quando a devastação acontecer.
Incêndios intensos na Califórnia são consequências do aquecimento global.
Segundo o relatório, os países vulneráveis poderiam, assim, contar com um fundo de emergências de US$ 300 bilhões todos os anos. "Quando o Ciclone Pam atingiu Vanuatu em 2015, perdemos 64% de nosso PIB, com perdas e danos de US$ 449 milhões”, lembra Ralph Regenvanu, representante do país insular do Pacífico e uma das mais ameaçadas pela mudança do clima. “Nós fizemos uma requisição ao Fundo Verde para o Clima de US$ 700 milhões, sendo que o encontro recente do Fundo aprovou uma ajuda de apenas US$ 18 milhões."
"Novas fontes de financiamento são necessárias para preencher essa lacuna. Temos uma justificativa forte para taxar a indústria dos combustíveis fósseis para pagar pelos danos climáticos que ela está causando”, continuou Regenvanu. “Eles sabiam disso e falsearam os danos decorrentes do uso de combustíveis fósseis. Vanuatu apoia todos os esforços para tirar o custo da proteção climática das costas das nações vulneráveis e colocá-lo sobre a indústria fóssil."
O relatório recomenda uma taxa sobre carvão, óleo e gás quanto extraídos, começando por US$ 5 por tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), aumentando US$ 5 por tonelada a cada ano até 2030, a partir de quando essa taxa se elevaria anualmente em US$ 10 por tonelada.
A maior parte da grana arrecadada seria  utilizada em programas de transição justa para ajudar comunidades a adotar tecnologias de transporte, energia e emprego de baixo carbono, garantindo que a transição energética não impacte injustamente famílias de baixa renda.
Para Manuel Pulgar Vidal, líder do programa global de clima e energia do WWF e ex-ministro do meio ambiente do Peru, a taxa permite custear a compensação sobre perdas e danos decorrentes de desastres climáticos em países vulneráveis, ao mesmo tempo em que sinaliza que a era dos combustíveis fósseis precisam acabar para que o clima global não seja afetado de maneira irremediável.
"Se quisermos proteger o planeta, precisamos abandonar os combustíveis fósseis - e de maneira rápida. As companhias petrolíferas conseguiram lucros enormes ao longo dos anos, na medida em que a queima de seus produtos intensificou a ameaça da mudança do clima”, afirmou Vidal. “Já passou da hora de essas empresas arcarem com parte dos custos sobre as perdas e danos que elas causaram.
Uma taxa de danos climáticos seria algo nesse sentido".
A indústria fóssil arrecada centenas de bilhões em lucros enquanto o real custo de seu produto é pago pelo resto da sociedade, particularmente pelos mais pobres e vulneráveis, argumenta Julie-Anne Richards, da Climate Damages Tax. "Introduzir essa taxação é possível: já foi feito em outros campos como energia nuclear, derramamento de óleo, tabaco. As instituições existem, inclusive o Fundo Verde para o Clima - o que precisamos agora é vontade política dos governos". (globo)

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