“I’ve
never seen a problem that wouldn’t be easier to solve with fewer people.” - Sir
David Attenborough.
A
transição da fecundidade é um dos fenômenos de mudança de comportamento de
massa mais importantes e significativos da história da humanidade.
O ser humano é o único animal
que regula o número de filhos e reduz o tamanho da prole em meio ao aumento do
padrão de vida e à abundância. Nos 200 mil anos de história do Homo sapiens, a
redução do número médio de filhos ocorreu somente nas últimas décadas.
A despeito das “escoras
culturais pronatalistas”, a taxa de fecundidade total (TFT) média do mundo caiu
de cerca de 5 filhos na década de 1960 para cerca de 2,5 filhos em 2015. A TFT
se reduziu pela metade em 50 anos, mas desacelerou o ritmo de baixa e se mantêm
acima do nível da taxa de reposição (TFT = 2,1 filhos por mulher). Há ainda
alguns países que resistem à desaceleração da fecundidade.
Porém, o ritmo da redução do
número médio de filhos foi extremamente rápido em alguns países. Três países –
Cingapura, Coreia do Sul e Irã – apresentaram as transições da fecundidade mais
rápidas do mundo.
Cingapura – que era um país
pobre até a sua independência em 1959 – tinha uma TFT de 6,6 filhos no
quinquênio 1950-55 e de 6,34 filhos em 1955-60. Em apenas 20 anos a TFT de
Cingapura passou para 1,84 filhos no quinquênio 1975-80. Ou seja, em 4
quinquênios a taxa de fecundidade passou de 6,34 filhos para 1,84 filhos (uma
diminuição de 4,5 filhos na TFT). Foi a transição mais rápida (e mais precoce
em sua rapidez) já ocorrida entre todos os países do mundo.
A Coreia do Sul – que viveu
uma guerra destruidora com a Coreia do Norte entre 1950-53 e saiu em ruínas –
tinha uma TFT de 6,33 filhos no quinquênio 1955-60 e passou para 1,57 no
quinquênio 1985-90. Ou seja, a TFT passou de um nível acima de 6 filhos para um
nível abaixo de 2 filhos em 30 anos (uma diminuição de 4,76 filhos na TFT em 6
quinquênios).
O Irã – que passou pela
revolução islâmica no final da década de 1970 e pela guerra com o Iraque no
início da década de 1980 – tinha uma TFT de 6,53 filhos em 1980-85 e passou
para 1,97 filhos no quinquênio 2000-05. Ou seja, a TFT que estava acima de 6
filhos caiu para menos de 2 filhos em 20 anos (uma diminuição de 4,56 filhos na
TFT em 4 quinquênios). Ainda na época do aiatolá Khomeini se adotou medidas de
universalização da saúde reprodutiva, o que possibilitou a grande queda no
número médio de filhos.
Brasil, Líbano e Costa Rica
tinham TFT em torno de 6 filhos por mulher no quinquênio 1960-65 e passaram
para uma TFT abaixo do nível de reposição no quinquênio 2005-10. Portanto,
estes três países tiveram uma transição da fecundidade que durou cerca de 45
anos.
Portanto, estes seis países
tiveram uma transição da fecundidade muito rápida, com destaque,
principalmente, para Cingapura e Irã, que foram os países recordistas mundiais
na transição de altos níveis para baixos níveis do número médio de filhos. Uma
transição de mais de 6 filhos para menos de 2 filhos em apenas 20 anos é um
acontecimento extraordinário e único. O caso da Coreia do Sul também merece
destaque, pois fez a transição da fecundidade em 25 anos.
A transição da fecundidade no
Brasil, Líbano e Costa Rica, mesmo demorando 45 anos, pode ser considerada uma
mudança rápida, embora mais lenta do que nos casos excepcionais de Cingapura,
Irã e Coreia do Sul. No caso de Cingapura e Coreia do Sul cabe destacar que,
além da rapidez da transição, o limite inferior da queda foi muito baixo, com
uma TFT de 1,2 filhos por mulher, uma das menores do mundo.
Uma transição da fecundidade
de 20 anos ou 45 anos é considerada rápida quando se compara com a lenta
transição que ocorreu nos países europeus e nos Estados Unidos (EUA). Em
relação ao grande país da América do Norte, o gráfico abaixo mostra que a
transição da fecundidade de altos níveis de TFT (7 filhos) para abaixo do nível
de reposição demorou 170 anos (entre a população branca).
Nos EUA, a transição foi
lenta nos séculos XIX e primeira metade do século XX, quando a TFT passou de 7
filhos para cerca de 2,5 filhos, durante a grande depressão da década de 1930.
Logo após a Segunda Guerra houve um aumento da TFT americana (fenômeno do baby
boom) até o início da década de 1960 e depois uma nova queda, quando ficou
abaixo do nível de reposição no quinquênio 1975-1980, para voltar ao nível de
reposição no período 1990-2010. Após 2010, a TFT dos EUA voltou a ficar abaixo
do nível de reposição. O fato é que nos EUA a queda da fecundidade foi lenta e
jamais chegou a níveis tão baixos como em Cingapura e na Coreia do Sul.
O gráfico abaixo mostra a
transição da fecundidade no mundo e nas regiões. Nota-se que nos países
desenvolvidos a transição começou no século XIX e atingiu o nível abaixo da
reposição no quinquênio 1975-80. A América Latina e Caribe (ALC) tinha uma TFT
de 6 filhos na década de 1950 e deve passar para menos de 2 filhos no
quinquênio 2020-25, demorando, portanto, 60 anos para completar a transição. A
Ásia que partiu do mesmo patamar da ALC deve atingir uma TFT abaixo do nível de
reposição no quinquênio 2030-35, portanto, 70 anos de transição. Na África
Subsaariana a TFT ainda estava próxima de 7 filhos no quinquênio 1980-85 e só
deve completar a transição no início do século XXII, demorando, portanto, cerca
de 130 ou 140 anos para passar de altos níveis para baixos níveis de fecundidade.
O mundo – na média global, só deve atingir o nível de reposição no fim do
século XX.
Neste quadro global, fica
claro que as transições da fecundidade de Cingapura, Irã e Coreia do Sul são
realmente excepcionais em termos de rapidez e profundidade, enquanto a
transição da África Subsaariana parte de um alto patamar, inicia de forma
tardia e não deve ser profunda no sentido de atingir níveis muito abaixo do
nível de reposição.
O que todos estes dados
mostram é que existem grandes diferenças na dinâmica demográfica dos países e
das regiões. As consequências sociais e ambientais também são muito diferentes
e exigem múltiplas respostas.
O debate está aberto e o
conhecimento da realidade demográfica pode ajudar na busca de soluções para os
problemas sociais, econômicos e ambientais. (ecodebate)
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