A
estiagem prejudica árvores, pessoas e animais — e também o orçamento de
carbono.
Os níveis
hídricos retrocederam às mínimas históricas nos lagos e reservatórios da
Califórnia em 2014. Na Barragem Folsom, na Califórnia, os níveis recuaram a
aproximadamente 40% da capacidade total.
Durante os dias mais sombrios
da estiagem que assolou o oeste dos Estados
Unidos desde o início dos anos 2000, incêndios irromperam e lavouras
pereceram. Tempestades de poeira arrasaram vales e
planícies. E rios encolheram de norte a sul.
Contudo, a estiagem também
surtiu efeitos climáticos e ambientais menos evidentes: a escassa vazão dos
rios reduziu drasticamente a quantidade de energia livre de carbono que foi
produzida por milhares de usinas hidrelétricas espalhadas
ao longo de rios e reservatórios no oeste.
Um grupo de pesquisadores fez
os cálculos de carbono para verificar a magnitude do efeito. Eles descobriram
que 100 megatons de carbono a mais acabaram na atmosfera porque os serviços de
abastecimento elétrico tiveram de recorrer a fontes emissoras de carbono em vez
da energia hidrelétrica durante a estiagem, somando os 15 anos que eles
estudaram. É o equivalente a colocar cerca de 1,4 milhão de carros a mais na
estrada em cada um desses 15 anos.
“É uma parcela considerável
entre as fontes existentes de carbono”, afirma Noah Diffenbaugh, cientista climático de
Stanford e um dos autores do estudo, que foi publicado na revista acadêmica Environmental Research Letters.
Em um ano normal, pouco mais
de 20 por cento da energia produzida no oeste dos Estados Unidos vem de usinas
hidrelétricas. Entretanto essa cifra flutua com o avanço e o recuo das águas.
E, quando há escassez hídrica, o montante de energia produzida por essas usinas
reduz drasticamente.
No entanto, as pessoas
precisam de luz, aquecimento e ar condicionado na estiagem, tanto quanto
precisam (e, às vezes, precisam ainda mais) em épocas de abundância hídrica. Se
os serviços de abastecimento elétrico não conseguirem a energia de que
necessitam a partir de fontes hidrelétricas, terão de atender à demanda de
outra maneira. A maior parte do tempo, verificaram os pesquisadores, os
serviços de abastecimento elétrico recorreram a fontes emissoras de carbono
como gás natural e carvão para atender às suas demandas energéticas.
Não é o ideal, mas faz
sentido, afirma Amir AghaKouchak, engenheiro civil e ambiental
da Universidade da Califórnia, em Irvine.
“Sob condições de estiagem, a
prioridade é destinar a água às pessoas e às cidades e os dirigentes acabam
optando pela queima de gás para geração de energia”, conta ele. “Porque existem
alternativas para obter energia de outras fontes—mas não existem alternativas
para obter água”.
Fortes impactos
Estados como a Califórnia,
Washington e Oregon, que dependem acentuadamente de energia hidrelétrica desde
os anos com abundância hídrica, sofreram o maior golpe. E os custos climáticos
foram imensos. Na Califórnia, por exemplo, o dióxido de carbono a mais emitido
por causa da estiagem alcançou mais de sete por cento do total de suas emissões
de carbono. Em Oregon e Washington, as emissões extras chegaram a
aproximadamente 10 % do total.
Essas porcentagens estão
longe de serem insignificantes. Muitos estados do oeste criaram planos para
reduzir expressivamente as emissões nas próximas décadas. A Califórnia, por
exemplo, está tentando diminuir suas emissões para 80 % abaixo dos
níveis de 1990 até 2050. Mas a estiagem está devastando
todos os estados do oeste de tal maneira que eles estão caminhando na direção
contrária, tornando-se cada vez mais difícil para eles cumprirem suas metas de
redução de emissões.
Megasseca no futuro?
Na última década, o oeste dos
Estados Unidos sofreu alguns dos piores períodos de estiagem já vistos em séculos. Agora, alguns cientistas
acreditam que o sudoeste dos Estados Unidos está se preparando para uma “megasseca”—uma
estiagem que durará no mínimo 20 anos. E as previsões indicam que locais áridos estão propensos a se tornar ainda mais áridos,
sobrecarregando o sistema hidrelétrico ainda mais.
“As secas intensificarão, o
que poderia implicar ainda mais queima de carvão e gás natural”, afirma Peter Gleick, especialista hídrico do Pacific
Institute (Instituto do Pacífico, em tradução livre), organização de pesquisa
localizada em Oakland. “Isso é retroalimentação positiva—o que, em termos de
mudanças climáticas, é um aspecto negativo.”
É fácil se deixar levar por esse
sistema de retroalimentação positiva, conta ele—mas quanto mais cientes dele
estão os dirigentes, mais capazes eles serão de planejar uma forma de escapar
dele.
AghaKouchak destaca que é
enorme o custo de carbono desse período de estiagem específico, desse local
específico—mas, independente da época, diversas regiões do mundo estão
enfrentando sua própria escassez hídrica. “E, se você acrescentar o impacto
acumulado de todos esses fenômenos extremos sobre as emissões de CO2”,
afirma ele, antes de uma pausa. “Bem, está muito além do que se pode imaginar.”
Medo da crise hídrica e
'acordo do clima' favorecem investimentos em energia limpa.
Porém, Diffenbaugh ressalta
que, com esse e os inúmeros outros estudos dos últimos anos, descobrimos cada vez
mais por que e em que situações as fontes de energia livres de carbono sofrem
dificuldades. Munidos dessas informações, prossegue ele, e com previsões cada
vez mais precisas das futuras crises no sistema, como crises hídricas, os
dirigentes elétricos poderão descobrir uma maneira de atender à demanda
energética com mais fontes renováveis. (nationalgeographicbrasil)
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