“O fato
é que as emissões só cairão consistentemente com uma mudança completa no modelo
de produção e consumo e o decrescimento demoeconômico”.
O Acordo de Paris, assinado em
2015, em seu ponto principal, trata do esforço para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Entre 2014 e 2016 as emissões
mundiais ficaram estagnadas e parecia que tinham alcançado um pico para, em
seguida, começar um processo de redução. Mas as emissões voltaram a subir em
2017 e 2018, acendendo um sinal vermelho quanto a impossibilidade de manter o
aquecimento global abaixo de 1,5ºC.
Estudo, divulgado pelo Global
Carbon Project (05/12/2018), durante a 24ª Conferência das Partes da Convenção
do Clima das Nações Unidas (COP-24), realizada na Polônia, indica que as
emissões de dióxido de carbono deverão alcançar níveis recordes em 2018. As
emissões globais de combustíveis fósseis deverão alcançar 37,1 bilhões de
toneladas de CO2 na atmosfera em 2018, o que representa um aumento
de 2,7% em relação a 2017, sendo que o aumento havia sido de 1,6%, entre 2016 e
2017 (os dados definitivos serão divulgados ano que vem).
O gráfico acima mostra que as
emissões resultantes da queima de combustíveis fósseis passou de 9,28 bilhões
de toneladas de CO2 em 1959 para 37,1 bilhões de toneladas de CO2
em 2018 (um crescimento de 4 vezes em cerca de 60 anos).
No mesmo período, a população
mundial passou de cerca de 3 bilhões para 7,6 bilhões de habitantes – um
aumento de 2,53 vezes – enquanto a economia global cresceu 8,8 vezes. Desta
forma, a quadruplicação das emissões, entre 1959 e 2018, foi maior do que o
crescimento demográfico, mas foi menor do que o crescimento econômico. Assim,
houve aumento per capita das emissões e redução da intensidade das emissões por
unidade de produto.
Em 1959, as emissões dos EUA
foram de 2,82 bilhões de toneladas de CO2 e da União Europeia de
2,65 bilhões de toneladas de CO2. Ou seja, o mundo desenvolvido
ocidental emitia 5,47 bilhões de toneladas de CO2, representando 59%
das emissões globais em 1959. A China e a Índia emitiam, respectivamente, 0,72
e 0,11 bilhões de toneladas de CO2. O resto do mundo emitia 2,98
bilhões de toneladas de CO2.
Seis décadas depois, as
emissões dos EUA, em 2018, foram de 5,4 bilhões de toneladas de CO2
(crescimento de 1,9 vezes) e da União Europeia de 3,52 bilhões de toneladas
(crescimento de 1,3 vezes). A soma das emissões dos países ricos ocidentais, em
2018, foi de 8,92 bilhões de toneladas de CO2, representando apenas
24% das emissões globais, bem abaixo da proporção de 59% de 1959.
Mas o maior destaque do aumento
da poluição global veio da China que passou a ser o país com os maiores níveis
de emissão, atingindo 10,3 bilhões de toneladas de CO2 em 2018
(crescimento de 14,3 vezes em 60 anos), superando a soma dos EUA e da União
Europeia. A Índia também se tornou uma grande emissora, com 2,63 bilhões de
toneladas de CO2 em 2018 (crescimento de 24 vezes em 60 anos).
Portanto, os dois países mais populosos do mundo, atualmente, superam o
conjunto dos países ricos nas emissões de CO2. O resto do mundo
passou de 2,98 para 15,3 bilhões de toneladas de CO2 em 2018
(crescimento de 5,1 vezes e acima da média mundial).
Nos anos 2000, os EUA e a União
Europeia (os maiores poluidores do passado) diminuíram o volume das emissões,
enquanto os países em desenvolvimento aumentaram. Talvez a China esteja próxima
de atingir um pico das emissões. Mas a Índia e o resto do mundo tendem a manter
emissões crescentes por conta da necessidade de reduzir a pobreza e atender uma
população prevista para continuar crescendo até 2100. O gráfico abaixo mostra
que o grande aumento das emissões ocorreu na Ásia, mas os demais continentes
(Oceania, África, América do Sul e Oriente Médio) também apresentam aumento das
emissões, enquanto a Europa e a América do Norte apresentam diminuição nos anos
2000.
O fato é que as emissões só
cairão consistentemente com uma mudança completa no modelo de produção e
consumo e o decrescimento demoeconômico. Mas fazer a transição de um modelo
insustentável para um modelo sustentável não é fácil como mostra as
manifestações dos “coletes amarelos” (gillets jaunes) da França. Evidentemente,
este movimento extrapola a questão ambiental, mas o presidente Emmanuel Macron
buscou taxar os combustíveis fósseis presumivelmente para possibilitar o
abandono da produção e o consumo de energias poluidoras, que emitem muito CO2,
até 2050. O plano incluía o fechamento das centrais de carvão até 2022, além de
triplicar a produção de energia eólica terrestre e quintuplicar a fotovoltaica.
Mas o descontentamento popular colocou em xeque as políticas do Palácio Eliseu
e mostrou que existe muita dificuldade em resolver simultaneamente os problemas
econômicos, sociais e ambientais, especialmente diante das altas taxações e da
perda de poder de compra da população. Também a greve dos caminhoneiros no
Brasil em maio de 2018 foi na contramão do ambientalismo ao reivindicar
subsídio para o diesel e para os combustíveis fósseis.
Mas a ameaça mais séria vem de
uma aliança de países na COP24 que questionam as conclusões do recente
relatório divulgado pelo IPCC, que considera que os esforços para limitar o
aumento médio da temperatura global a 1,5ºC exigirá “mudanças sem
precedentes” em nível global e que o mundo tem apenas
12 anos para evitar um colapso ecológico. Segundo o Observatório do Clima:
“A Arábia Saudita, maior
produtor mundial de petróleo, os EUA, a Rússia e o Kuwait vetaram a menção no
livro de regras ao relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas) que trata do aquecimento global de 1,5ºC. O documento havia sido
encomendado pela própria Convenção do Clima em 2015, para avaliar se e como
seria viável manter o limite de 1,5ºC ao aquecimento da Terra. Sua principal
mensagem, apresentada à COP24 pelo painel na última, é de que o mundo tem
apenas 12 anos para reduzir emissões em 45% se quiser ter alguma chance de
ficar nesse limite. Como as decisões na ONU se tomam por consenso, basta um
país dizer não para alguma coisa não sair” (10/12/2018).
Desta forma, o grande problema
é que o tempo é escasso para reverter os efeitos dramáticos do aquecimento global.
Outros autores dizem que o tempo para evitar uma catástrofe climática é ainda
mais curto do que indica o IPCC e que a tendência de aumento das emissões de CO2
precisa ser revertida, no máximo, em três anos. A situação é desesperadora.
Contudo, cresce a oposição dos céticos das mudanças climáticas que buscam
sabotar as metas do Acordo de Paris. No Brasil, o ruralista Ricardo Salles,
indicado por Jair Bolsonaro para chefiar o Ministério do Meio Ambiente a partir
de 2019, diz que pretende “tirar o Estado do cangote de quem produz” e que a
“discussão sobre aquecimento global é secundária”.
Todavia, negar a realidade é o
mesmo que caminhar com os olhos vendados para o abismo. Como afirmou o
importante naturalista David Attenborough, durante a abertura da COP-24, a
possibilidade de um colapso ambiental está cada vez mais próxima: “Neste
momento estamos enfrentando um desastre de escala global, a nossa maior ameaça
em milhares de anos é a mudança climática”. Attenborough completou: “Se não
tomarmos medidas, o colapso de nossa civilização e a extinção de grande parte
do mundo natural está no horizonte”. (ecodebate)
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