“Na
ausência de um ajuste significativo da maneira como bilhões de seres humanos
vivem, partes da Terra
provavelmente se tornarão próximas a inabitáveis e outras partes terrivelmente inóspitas, antes
do final deste século” - David Wallace-Wells (09/07/2017).
Clima
é diferente de tempo. O tempo varia diariamente e passa por grandes
instabilidades durante um ano. Algumas regiões sofrem com o frio polar, outras
com o calor infernal, além de ocorrer secas, alta umidade e tempestades nas diversas
partes do planeta. Mas o clima da Terra apresentou uma estabilidade
impressionante nos últimos 12 mil anos (Holoceno), variando no máximo 0,5ºC,
para baixo ou para cima, em relação à média do período. Contudo, tudo começou a
mudar nas últimas décadas e o aquecimento global se tornou uma das principais ameaças à vida
humana e não humana do Planeta.
O
gráfico acima, com dados Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos
Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), cuja série começa em 1880, mostra
que o ano mais frio do período foi 1908, quando a temperatura global ficou
0,44ºC abaixo da média do século XX. Nas décadas seguintes a temperatura média
subiu. Mas, anos de recorde de temperatura como 1998, 2005 e 2010 foram
seguidos de anos bem mais frios.
Porém,
desde 2014, o piso se elevou e as temperaturas entraram em outro patamar de
aquecimento, com 0,74ºC acima da média do século XX em 2014, 0,90ºC em 2015,
0,94ºC em 2016, 0,84ºC em 2017 e 0,79ºC em 2018. Portanto, a novidade é que os
cinco anos mais quentes já registrados ocorreram em sequência e estão na atual
década. Pela primeira vez, os cinco últimos anos cronológicos também são os
anos mais quentes da série contabilizada pela NOAA. Dezessete dos dezoito anos
mais quentes ocorreram, todos, no século XXI (a única exceção é o ano de 1998,
que teve temperatura de 0,63ºC acima da média do século XX).
O
serviço nacional de meteorologia do Reino Unido – Met Office – divulgou
previsão apontando que o ano de 2019 também deve registrar um aquecimento
elevado, devido às mudanças climáticas e ao efeito adicional relacionado ao
fenômeno El Niño no Pacífico. Utilizando uma linha base diferente da média do
século XX, utilizada pela NOAA no gráfico acima, o Met Office prevê que a
temperatura média global para 2019 fique entre 0,98ºC e 1,22ºC, com uma
estimativa central de 1,10ºC, acima do período médio pré-industrial de 1850 a
1900. Como mostra o gráfico abaixo, o Met Office prevê que 2019 será o segundo
mais quente da série.
Artigo
de Jonathan Watts (The Guardian, 06/02/2019) mostra que, segundo o Met Office,
o aquecimento global pode ultrapassar 1,5ºC dentro de 5 anos. Assim, a meta
mais “ousada” do Acordo de Paris, pode ser “jogada no lixo” até 2023.
Artigo
de Xu et. al. (05/12/2018), da revista Nature, considera que o aquecimento
global está acontecendo mais rápido do que o previsto e que o último relatório
do IPCC – apesar de ter assustado muita gente – subestima três tendências de
aceleração do aquecimento, pois o aumento das emissões, a diminuição da
poluição do ar e os ciclos climáticos naturais, devem se combinar nos próximos
20 anos para tornar as mudanças climáticas mais rápidas e mais furiosas do que
o antecipado. O artigo diz que há uma boa chance de que a temperatura global
possa ultrapassar o nível de 1,5ºC até 2030 (e não até 2040, conforme projetado
no relatório do IPCC) e possa ultrapassar os 2ºC até 2045, conforme mostra o
gráfico abaixo:
Somente
a cegueira científica pode ignorar os perigos do aquecimento global. Os últimos
cinco anos foram os mais quentes do Antropoceno, sendo que o ano de 2017 foi o mais quente sem a presença do El Niño e
2019 deve ser o sexto ano seguido de temperaturas recordes. Incontestavelmente,
a atual década já é a mais quente desde o início dos registros climáticos.
Mas
apesar de tudo, o mundo continua queimando combustíveis fósseis e liberando
metano na agropecuária. Continua também desmatando e destruindo os
ecossistemas. Assim, cresce a concentração de gases de efeito estufa e aumenta
o nível de CO2 na atmosfera, que, em 2018, foi de 408,52 partes por
milhão (ppm), e está aumentando em 2,4 ppm ao ano na atual década. Sendo que o
nível seguro é 350 ppm.
Se
este quadro não começar a ser revertido nos próximos 3 anos, o colapso
ambiental pode se tornar inevitável. O aquecimento vai provocar o degelo do
Ártico, da Antártida e da Groenlândia, elevando o nível dos oceanos, o que
ameaça bilhões de pessoas que moram nas áreas costeiras. O aquecimento também
deve provocar o degelo dos glaciares do Himalaia e o leste e o sul da Ásia, lar
de bilhões de pessoas, vão sofrer com a falta de água. O aquecimento global é
um dos elos fracos do Sistema Terra e pode provocar um grande desastre
ecológico. No longo prazo, pode ser o apocalipse para a biodiversidade e para a
humanidade.
Esta
possibilidade foi aventada em novo estudo (Steffen, 2018) que indicou que a
Terra pode entrar em uma situação inédita, com clima tão quente que pode jogar
as temperaturas médias globais até cinco graus Celsius acima das temperaturas
pré-industriais. Isto teria várias implicações, como acidificação dos solos e das
águas e aumentos no nível dos oceanos entre 10 e 60 metros. O estudo mostra que
o aquecimento global causado pelas atividades antrópicas de 2ºC pode
desencadear outros processos de retroalimentação, podendo desencadear a
liberação incontrolável na atmosfera do carbono armazenado no permafrost, nas
calotas polares, etc. Em função do efeito dominó, as “esponjas” que absorviam
carbono podem se tornar fontes de emissão de CO2 e piorar
significativamente os problemas do aquecimento global.
Isto
provocaria o fenômeno “Terra Estufa”, o que levaria à temperatura ao recorde
dos últimos 1,2 milhão de anos. Os seja, caso este cenário se torne realidade,
seria algo parecido com o apocalipse para a vida humana e não humana no
Planeta. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário