Ondas de calor: “O verão está
rapidamente se tornando uma estação mortal para a vida na Terra”, diz o
professor de biologia Jonathon Stillman.
A mudança climática é
frequentemente discutida em termos de médias – como a meta estabelecida
pelo Acordo
de Paris de limitar o
aumento da temperatura da Terra a 2 graus Celsius.
O que esses números não
conseguem transmitir é que a mudança
climática não apenas
aumentará a temperatura média do mundo, mas também intensificará as ondas
de calor extremas que
até agora estão prejudicando as pessoas e a vida selvagem, segundo um recente
estudo da Faculdade de Biologia Jonathon da Universidade Estadual de São
Francisco, realizado pelo professor de biologia Jonathon Stillman.
As ondas de calor já
produziram imagens impressionantes de mortalidade em massa em animais, desde os
esqueletos de corais branqueados ao longo de trechos da Grande Barreira de
Corais até a morte de cavalos durante os verões australianos. A insolação de
tais eventos extremos também é um perigo presente para as pessoas,
especialmente os idosos, embora de uma forma menos óbvia.
“A mortalidade humana é
diferente porque muito disso não é visível dessa maneira. Está acontecendo em
casas ou em consultórios médicos, mas é impressionante assim mesmo”, explicou
Stillman. Por exemplo, uma onda de calor de 2003 na Europa matou mais de 70.000
pessoas em todo o continente.
Para obter uma visão
abrangente dos efeitos das futuras ondas de calor sobre os seres humanos e a
vida selvagem, Stillman reuniu informações de mais de 140 estudos científicos
sobre o tema. Ele publicou a resenha resultante na revista Physiology no mês
passado.
À
medida que o dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera
prendem o calor e elevam a temperatura média da Terra, as ondas de calor com as
quais estamos acostumados vão piorar e se tornar mais frequentes. Em alguns
cenários projetados mais extremos, as temperaturas que rivalizam ou superam as
observadas na Europa em 2003 podem durar até quatro vezes mais até o final do
século XXI.
O mais abrangente estudo já
feito sobre o impacto de ondas de calor na taxa mortalidade humana traz uma
notícia ruim para o Brasil: o país está entre aqueles onde o problema mais deve
se agravar à medida que as mudanças climáticas avançam.
Existem maneiras de lidar com
as ondas de calor, mas elas não estarão disponíveis para todos ou para todas as
espécies. A falta de infraestrutura disponível pode dificultar a migração para
climas mais frios para muitas comunidades humanas vulneráveis e causar
conflitos em larga escala. E graças à ampla pegada ecológica da humanidade,
muitos animais não terão um caminho claro para habitats mais frios, a menos que
o espaço natural seja especificamente reservado para esse fim.
As ondas de calor também
podem ter efeitos mais sutis nos corpos dos animais, como a solicitação de
aumento na quantidade de proteínas especializadas que protegem outras moléculas
dos efeitos de distorção do calor. “Se as populações de animais selvagens estão
experimentando temperaturas mais próximas à letal, você não verá a mortalidade,
mas poderá ver mudanças em sua fisiologia que mostram que estão se aproximando
da mortalidade”, explicou Stillman.
Ao estudar respostas como
essas, os cientistas poderiam obter um sinal de alerta antecipado antes que as
ondas de calor passem a produzir consequências mais terríveis. Algumas das
próprias pesquisas de Stillman lidam com esses tipos de respostas fisiológicas
para fazer previsões sobre como a mudança climática afetará as espécies
marinhas e os ecossistemas.
O nordeste e o norte do
Brasil poderão estar entre as regiões mais afetadas.
Quanto
a quando esses eventos extremos ocorrerão e quão extremos eles serão, as
previsões variam. “Não podemos dizer que vai acontecer no próximo ano”, disse
Stillman. “Mas se continuarmos na atual trajetória do carbono, até o final
deste século, vamos ver ondas de calor que superarão as que já mataram um
grande número de pessoas e animais selvagens”. (ecodebate)
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