As mudanças climáticas estão mudando a produtividade
da pesca em todo o mundo.
Os
peixes fornecem uma fonte vital de proteína para mais da metade da população
mundial, com mais de 56 milhões de pessoas empregadas ou sobrevivendo da pesca.
Mas a mudança climática está começando a perturbar os sistemas complexos e
interconectados que sustentam essa importante fonte de alimentos.
Uma
equipe de cientistas liderada por Christopher Free, um estudante de
pós-doutorado na Escola Bren de Ciência e Gestão Ambiental da UC Santa Barbara,
publicou uma investigação sobre como o aquecimento das águas pode afetar a
produtividade da pesca. Os resultados aparecem na revista Science.
O
estudo analisou dados históricos de abundância de 124 espécies em 38 regiões, o
que representa cerca de um terço das capturas mundiais reportadas. Os
pesquisadores compararam esses dados a registros da temperatura do oceano e
descobriram que 8% das populações foram afetadas negativamente pelo
aquecimento, enquanto 4% tiveram impactos positivos. No geral, porém, as perdas
superam os ganhos.
“Ficamos
surpresos com o quão fortemente as populações de peixe em todo o mundo já foram
afetadas pelo aquecimento”, disse Free, “e que, entre as populações que
estudamos, os ‘perdedores’ do clima superam os vencedores do clima”.
Região
teve a maior influência sobre como os peixes responderam ao aumento das
temperaturas, de acordo com o estudo. Espécies da mesma região tendem a responder
de maneira semelhante. Peixes nas mesmas famílias também mostraram semelhanças
em como eles responderam às mudanças. Os pesquisadores argumentaram que as
espécies relacionadas teriam traços e ciclos de vida semelhantes, dando-lhes
forças e vulnerabilidades semelhantes.
Mudanças
climáticas ameaçam a pesca mundial.
Ao
examinar como a disponibilidade de peixes para alimentação mudou de 1930 a
2010, os pesquisadores observaram as maiores perdas de produtividade nas
ecorregiões Mar do Japão, Mar do Norte, Costeira Ibérica, Corrente de Kuroshio
e de Prateleira Celta-Biscaia. Por outro lado, os maiores ganhos ocorreram na
região de Labrador-Newfoundland, no Mar Báltico, no Oceano Índico e no Nordeste
dos Estados Unidos.
Embora
as mudanças na produtividade pesqueira tenham sido pequenas até o momento,
existem grandes discrepâncias regionais. Por exemplo, o Leste Asiático tem
visto alguns dos maiores declínios causados pelo aquecimento, com reduções de
15 a 35% na produtividade pesqueira. “Isso significa de 15 a 35% a menos de
peixe disponível para alimentação e emprego em uma região com algumas das
populações humanas que mais crescem no mundo”, disse Free. Mitigar os impactos
das disparidades regionais será um grande desafio no futuro.
Estes
resultados destacam a importância de contabilizar os efeitos das alterações
climáticas na gestão das pescas. Isso significa criar novas ferramentas para
avaliar o tamanho das populações de peixes, novas estratégias para estabelecer
limites de captura que considerem a mudança de produtividade e novos acordos
para compartilhar as capturas entre regiões vitoriosas e perdedoras, explicou
Free.
“Saber
exatamente como as pescarias vão mudar com o aquecimento futuro é um desafio,
mas sabemos que não adaptar-se à mudança na produtividade da pesca resultará em
menos comida e menos lucros em relação aos dias de hoje”, explicou Free.
Prevenir
a sobrepesca será uma parte crítica do tratamento da ameaça que a mudança
climática representa para as pescarias do mundo. “A pesca excessiva apresenta
um golpe duplo”, disse Free. Isso torna as populações de peixes mais
vulneráveis ao aquecimento, enquanto o aquecimento dificulta a recuperação das
populações sobre exploradas.
Aquecimento
global e a mudança climática afetam a pesca mundial.
Free
também enfatizou que o aquecimento dos oceanos é apenas um dos muitos processos
que afetam a vida marinha e as indústrias que dependem dela. A acidificação
oceânica, a redução dos níveis de oxigênio e a perda de habitat também afetarão
a vida marinha. Mais pesquisas são necessárias para entender completamente como
as mudanças climáticas afetarão as populações de peixes e os meios de
subsistência das pessoas que dependem delas. (ecodebate)
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