“Acreditar
que o crescimento econômico exponencial pode continuar infinitamente num mundo
finito é coisa de louco ou de economista”- Kenneth Boulding (1910-1993).
Não existe consenso em relação
ao impacto da dinâmica demográfica sobre o crescimento econômico, sobre o
esgotamento dos recursos naturais e nem sobre seus efeitos no agravamento da
degradação dos ecossistemas. Além disto, a relação entre população, economia e
meio ambiente mudou ao longo da história e existe um tabu que dificulta a
necessária e sensata discussão sobre os problemas populacionais.
Quando a população mundial
estava em torno de 750 milhões de habitantes, em 1776, Adam Smith (1723-1790),
que tinha uma visão positiva do crescimento populacional, escreveu em sua obra
magna A Riqueza das Nações: “O marco mais decisivo da prosperidade de qualquer
país é o aumento no número de seus habitantes” (Alves, 2014).
Também o Marquês de Condorcet
(1743-1794), no famoso livro “Esboço de um quadro histórico dos progressos do
espírito humano”, escrito em 1794, apresentou uma visão positiva da dinâmica
demográfica, pois considerava que a implantação dos ideais iluministas e da
racionalidade provocariam a redução das taxas de mortalidade e, para não haver
um aumento indesejado do tamanho das famílias e um elevado crescimento
populacional, os casais optariam por um número menor de filhos. Portanto,
Condorcet foi um precursor da abordagem da Transição Demográfica (Alves, 2002).
Para rebater as ideias
progressistas destes dois autores e de outros pensadores com ideias
semelhantes, Thomas Robert Malthus (1766-1834) escreveu, em 1798, o livro
“Ensaio sobre o princípio de população e seus efeitos sobre o aperfeiçoamento
futuro da sociedade, com observações sobre as especulações de Mr. Godwin, Mr.
Condorcet e outros autores”. Nesta época, a população mundial ainda não tinha
atingido 1 bilhão de habitantes, mas Malthus que era um pensador
anti-iluminista e contra a perspectiva internacionalista do desenvolvimento
urbano-industrial, considerava que, no longo prazo, a população tendia a
crescer mais do que os meios de subsistência e mais rápido do que a produção
econômica global. Mas como pastor da Igreja Anglicana, Malthus era contra os
métodos contraceptivos e considerava que o controle da população seria feito
pelo aumento das taxas de mortalidade decorrente da tríade “miséria-
guerras-fome”, que ele chamava de “freios positivos”.
O fato é que as taxas de
mortalidade começaram a cair ao longo do século XIX, nos países europeus e de
colonização inglesa (EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia), em função da
melhoria das condições de vida e dos avanços da medicina e da higiene
(saneamento básico, etc.). O aumento do número de filhos sobreviventes colocou
a necessidade de regulação da fecundidade, pois o número ideal de filhos passou
a ser atingido bem antes do fim do período reprodutivo. Além disto, com o
aumento do custo dos filhos e a redução dos benefícios dos mesmos, as famílias
passaram a investir mais na qualidade de suas crianças do que na quantidade.
Assim, a demanda por métodos
contraceptivos cresceu ao longo do século XIX e, principalmente, no século XX.
O artigo “Neo-Malthusianism in the Early 20th Century” (MARTINEZ-ALIER,
MASJUAN, 2004) mostra que um dos primeiros movimentos pelo direito de regulação
da fecundidade surgiu nas forças de esquerda ligadas ao movimento operário. Em
1822 Francis Place, um alfaiate de profissão e sócio do socialista utópico
Robert Owen, publicou pela primeira vez, em Londres, “Ilustrações e Provas do
Princípio da População”, em que busca divulgar métodos contraceptivos. Outras
personalidades seguiram Place e Owen na mesma preocupação, incluindo Richard
Carlisle, que em 1825 escreveu “What is Love?”. Estes e outros trabalhos foram
amplamente disseminados na Inglaterra durante o primeiro terço do século XIX,
tendo ampla aceitação do público, mas perseguição governamental. Estas
preocupações com a regulação da fecundidade chegaram aos Estados Unidos por
meio do próprio Robert Owen, quando fundou sua colônia de inspiração comunista,
Nova Harmonia. Já em 1835, o filho de Robert Owen, Robert Dale, publicou o
folheto neomalthusiano intitulado “Moral Physiology” em Nova York, sendo que
várias edições foram impressas até 1877 na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Em contraste com o pessimismo
de Thomas Malthus, este neomalthusianismo de esquerda (e também anarquista e
feminista) acreditava que o crescimento populacional poderia ser favorável às
classes pobres e ao proletariado, se implementado por decisões voluntárias. As
mulheres poderiam escolher o número de crianças que elas (e os casais) queriam
ter. O movimento não apelou ao Estado para impor restrições ao crescimento
populacional. Ao contrário, baseou-se em um ativismo “de baixo para cima”
contra os governos e as Igrejas.
Mas também surgiu,
especialmente depois da 2ª Guerra, um neomalthusianismo elitista, de direita e
de cunho imperialista. A década de 1960 foi aquela que apresentou a maior taxa
de crescimento demográfico no mundo. Em 1968, o biólogo Paul Ehrlich escreveu o
livro “A Bomba Populacional”, onde fazia previsões catastróficas diante do
crescimento da população global. Ainda na década de 1960, o presidente Lyndon
Johnson dos EUA disse que era melhor investir US$ 5 no planejamento
familiar do que US$ 100 no desenvolvimento econômico. Isto provocou uma
onda de protestos nos países não-desenvolvidos que consideravam que os EUA
estavam adotando uma postura imperialista de controlar a população em vez de
ajudar os países a se desenvolver.
Mas o maior ataque às propostas
neomalthusianas veio com o lançamento da encíclica católica Humanae Vitae (“Da
vida humana”), lançada pelo Papa Paulo VI, no dia 25/07/1968. A encíclica, que
tem como subtítulo a expressão “Sobre a regulação da natalidade”, condena
contra todos os métodos modernos de regulação da fecundidade, até mesmo os
meios que possibilitam o sexo seguro (como a camisinha), condena a masturbação
e define a sexualidade com um ato heterossexual com a finalidade única do
“desejo divino” da procriação. Ou seja, a encíclica Humanae Vitae VI é
contrária ao sexo não reprodutivo e a favor do pronatalismo. O Papa Paulo VI
gostava de dizer: “Precisamos aumentar o banquete e não diminuir os comensais”,
como se não houvesse limites para a produção de alimentos e para o manejo das
fontes de água potável.
A disputa entre o
neomalthusianismo e o antineomalthusianismo chegou ao cume durante a Conferência
de População de Bucareste, organizada pela ONU em 1974. O resultado foi a
derrota do neomalthusianismo, pois a maioria dos países em desenvolvimento
apoiou a seguinte palavra de ordem: “O
desenvolvimento é o melhor contraceptivo”. Ou seja, ao invés de investir
em programas de planejamento familiar, bastava investir em programas de
aceleração do desenvolvimento para evitar uma explosão demográfica.
De certa forma, esta polêmica
perdeu força quando a China – país mais populoso do globo – mesmo sendo
dirigida por um partido comunista e que apoiou as resoluções de Bucareste,
adotou o programa de controle da natalidade mais draconiano que já houve na
história. A política de filho único se tornou lei em 1979 e se manteve em vigor
pelos 36 anos seguintes, período de maior crescimento econômico do país e de
maior geração de riqueza e redução da pobreza. Ou seja, a China mostrou que o
desenvolvimento econômico pode ser acelerado e potencializado pela queda da
fecundidade (e a geração do bônus demográfico).
O debate sobre a relação entre
população e desenvolvimento, de certa forma, se reproduziu na polêmica entre
população e meio ambiente. Um importante representante do chamado
“neomalthusianismo verde” foi o livro “Limites do Crescimento, um relatório
para o Projeto do Clube de Roma sobre o Dilema da Humanidade”, liderado pelo
casal Meadows e publicado originalmente em 1972. A principal conclusão do
livro está resumida no seguinte parágrafo: “Se as atuais tendências de
crescimento da população mundial, industrialização, poluição, produção de
alimentos e diminuição de recursos naturais continuarem imutáveis, os limites
de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem
anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto
da população quanto da capacidade industrial” (p. 20).
No espectro oposto, o maior
representante do antineomalthusianismo verde é o economista neoliberal e cético
das mudanças climáticas, Julian Simon (1932-1998), que no livro “The Ultimate Resource II: People, Materials,
and Environment”, defende, logo na introdução, a ideia de que os
recursos naturais não estão ficando escassos (“natural resources have been
becoming less scarce over the long run, right up to the present”) e o mundo
está menos poluído (“But we now live in a more healthy and less dirty
environment than in earlier centuries”). No capítulo 6 ele defende a ideia –
muito repetida por pessoas ingênuas – de que não há limite para a produção de
alimentos (“What Are The Limits on Food Production?”) e no capítulo 11 ele
reforça a concepção de que a oferta de petróleo é infinita (“When will we run
out of oil? Never!”). E por aí vai.
Para tornar suas posições
anti-ambientalistas e reacionárias mais palatáveis, o positivista Simon investiu
contra um suposto inimigo neomalthusiano, afirmando o seguinte: “As pessoas são
os recursos mais valiosos do mundo; o cérebro humano é o recurso fundamental
para solucionar qualquer problema econômico, social e ambiental; quanto maior a
população melhor”. Para ele, cada novo bebê é como um bem de consumo durável ou
uma galinha poedeira que vai trazer benefícios no futuro. Com este discurso
antineomalthusiano, Julian Simon conseguiu o apoio de setores da opinião
pública e de formadores de opinião do fundamentalismo religioso, do
fundamentalismo de mercado e do conservadorismo moral nas questões
reprodutivas. Simon serviu de inspiração para as políticas neoliberais do
governo de Ronald Reagan (1981-1988) e para os defensores das políticas
pronatalistas de todo tipo. Para ele, quanto mais gente no mundo melhor.
Seguindo uma linha menos
radical do que o pronatalismo desregrado de Julian Simon, há duas linhas de
pensamento antineomalthusianas que consideram que não existe um “problema
populacional no mundo”. A primeira linha é, dentre outros demógrafos e
economistas, representada por David Lam (2011), que considera que a Transição
Demográfica vai desarmar a bomba populacional e que os cerca de 4 bilhões de
novos habitantes do século XXI terão um padrão de vida superior aos 4 bilhões
de novos habitantes do século XX. O otimismo de Lam se deve ao fato do avanço
tecnológico possibilitar o avanço da produtividade e o atendimento das
necessidades básicas da população mundial. Contudo, o autor não leva muito em
consideração os problemas ambientais do século XXI.
Uma corrente antineomalthusiana
verde de esquerda (ecossocialismo) e que incorpora a análise dos problemas
ambientais argumenta que a população não é o principal vetor da degradação
ambiental, mas sim o consumo dos ricos. Ou seja, não é o volume da população
que importa, mas sim a desigualdade social e o volume dos recursos consumidos e
descartados pela parte abastada da população global. No livro “Too Many
People?: Population, Immigration, and the Environmental Crisis”, os autores Ian
Angus e Simon Butler argumentam que “não há correspondência entre emissões e
densidade populacional” e que “As emissões de CO2 são um problema
dos países ricos e não dos pobres”.
Eles não consideram que exista
uma superpopulação no mundo e argumentam que se os 3 bilhões de pessoas mais
pobres do planeta desaparecessem de uma hora para outra não haveria redução
alguma na contínua destruição ambiental. Mas este tipo de argumento era comum
quando a emissão per capita da China era muito baixa, porém, hoje em dia, mesmo
as emissões per capita da China ainda serem menores do que a dos EUA, as
emissões totais do “gigante asiático” superam em muito qualquer outro país no
mundo. A Índia está indo pelo mesmo caminho, ou seja, emissões per capita de
GEE mais baixas do que os países ricos ocidentais, mas emissões totais
recordes, devido ao tamanho da população.
Evidentemente, não dá para
colocar toda a culpa dos problemas ambientais na responsabilidade do
crescimento populacional. O principal vetor de degradação ecológica é a máquina
insana e insone de acumulação de capital e riqueza. Mas existe uma relação
complexa entre o crescimento populacional e econômico, não sendo possível
considerar apenas um lado da equação.
Como mostra o gráfico abaixo,
nos últimos 250 anos, a população mundial cresceu 9,2 vezes, a economia cresceu
134 vezes e a renda per capita cresceu 14,6 vezes. Embora a desigualdade social
seja um fenômeno presente em todo o período, o aumento do padrão de vida da
população mundial é uma realidade incontestável. Entre 1820 e 2015, a parcela
da população mundial vivendo abaixo da linha da extrema pobreza caiu de 94%
para 10%. Nos últimos 250 anos a esperança de vida ao nascer global passou de
cerca de 24 anos para cerca de 72 anos (o tempo de vida médio foi multiplicado
por 3 vezes). A percentagem de pessoas passando fome foi reduzida drasticamente
e hoje em dia se morre mais de obesidade do que de desnutrição. A grande
maioria da população mundial tem acesso à energia elétrica, geladeira, fogão,
celular e outros itens de consumo que eram inacessíveis para gerações passadas
(Alves, 03/10/2018).
Portanto, a máquina de geração
de lucros capitalista também incluiu um número crescente de pessoas no mercado
de trabalho e no mercado de consumo. O crescimento populacional funcional como
fermento para fortalecer e ampliar a acumulação capitalista e a incorporação de
parcelas crescentes da população no mercado capitalista legitima o modelo de
exploração e dominação do capital. Pelos cálculos do World Data Lab, a partir
de setembro de 2018, pouco mais de 50% da população mundial, ou cerca de 3,8
bilhões de pessoas, vivem em domicílios com gastos discricionários suficientes
para serem considerados “classe média” ou “ricos”, sendo que a classe média foi
definida como aquelas famílias com renda pessoal entre US$ 11 e US$ 110 ao dia.
Os ricos são aqueles com renda acima de US$ 110.
O “capital antrópico” (que
inclui capitalistas e trabalhadores) entrou em contradição com o “capital
natural” (Alves, 2015). Por exemplo, os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), de maneira justa e em conformidade com os direitos humanos,
buscam reduzir a pobreza e aumentar o bem-estar da população mundial Desta
forma, quanto mais gente no mundo, mas será a pressão para aumentar o IDH
global. Mas ao mesmo tempo maior será o impacto ambiental, pois todo o
enriquecimento humano tem se dado às custas do empobrecimento da natureza.
O fato é que o crescimento
demoeconômico já ultrapassou os limites da resiliência do Planeta. Desde o
início da década de 1970 o mundo convive com o déficit ambiental. Antes dos 4
bilhões de habitantes existia superávit ambiental e a Pegada Ecológica global
estava abaixo da Biocapacidade global do Planeta (havia sustentabilidade ecológica).
Mas depois dos 4 bilhões de habitantes, a Pegada Ecológica global superou a
Biocapacidade global do Planeta e o déficit ambiental cresce a cada ano. Em
2015, segundo dados da Global Footprint Network, a humanidade estava consumindo
1,7 planeta. Portanto, estamos em uma rota insustentável. Mesmo se,
hipoteticamente, eliminarmos da contabilidade a população dos países ricos (de
cerca de 1,3 bilhão de pessoas), os restantes mais de 6 bilhões de habitantes
continuariam tendo um déficit ambiental. Nos anos 2000, as emissões de gases de
efeito estufa (GEE) dos países ricos diminuiu, enquanto as emissões de GEE do
resto do mundo cresceu em ritmo acelerado. Os muito pobres emitem pouco GEE,
enquanto estão na extrema pobreza, mas na medida em que avançam na qualidade de
vida (e no IDH) passam a ter uma emissão total significativa.
Por conta de tudo isto, a
população importa, pois o crescimento demográfico tem contribuído para a
degradação ambiental e para a insustentabilidade da vida humana na Terra. Um
dos ambientalistas mais famosos e mais compromissados com a discussão sobre dinâmica
demográfica e meio ambiente é Sir David Attenborough. Em 2011, ele falou na
Royal Society (10/03/2011) e mostrou que há 50 anos já se sabia que a Terra
estava em perigo de perder um número significativo de seus habitantes – tanto
animais como plantas. Ele disse:
“Há cinquenta anos, quando o
WWF foi fundada, havia cerca de três bilhões de pessoas na Terra. Agora são
sete bilhões. Mais do dobro e cada um deles precisando espaço. Espaço para suas
casas, espaço para cultivar sua comida (ou fazer com que os outros cultivem
isso para eles), espaço para construir escolas, estradas, etc. … Mas o impacto
desses milhões extras de pessoas se espalhou além do espaço por eles
fisicamente reivindicado. A disseminação da industrialização mudou a composição
química da atmosfera. Os oceanos que cobrem a maior parte da superfície do
planeta foram poluídos e estão cada vez mais acidificados. E a terra está se
aquecendo. Agora percebemos que os desastres que continuar cada vez mais a
afligir o mundo natural tem um elemento que conecta todos eles – o aumento sem
precedentes do número de seres humanos no planeta”.
Contudo, a preocupação com o
volume populacional global e com o permanente crescimento demográfico é
questionado até por ambientalistas que reconhecem a gravidade do problema
ecológico atual. O jornalista e ambientalista George Monbiot, publicou no jornal
The Guardian (07/11/2018) um artigo criticando o posicionamento demográfico de
David Attenborough e dizendo que ele dá mais ênfase ao planejamento familiar do
que na denúncia dos efeitos nocivos das empresas de combustíveis fósseis.
Porém, Jonathon Porritt
(13/12/2018) – presidente da ONG Population Matters – discorda de George
Monbiot, pois considera que a denúncia dos interesses corporativos que destroem
o meio ambiente não pode obnubilar as questões demográficas. Além de concordar
quando David Attenborough diz – “Cada um dos problemas globais, sociais e
ambientais, torna-se mais difícil e, mesmo impossível, para se resolver com um
número crescente de pessoas” – Porritt critica o último relatório Planeta Vivo
da WWF pela ausência da análise da dinâmica demográfica. Ele diz que embora o
relatório Planeta Vivo tenha mostrado que 60% da população de todas as espécies
de vertebrados (mamíferos, aves, répteis, peixes, etc.) foi extinta desde 1970,
nada foi dito sobre o impacto da superpopulação neste processo:
“Em outras palavras, toda a análise é sobre consumo excessivo –
como se o consumo de alguma forma não tivesse nada a ver com o número de
pessoas consumindo! Como se o número de consumidores de classe média não
aumentasse ano após ano, uma vez que muitos dos países em desenvolvimento e
emergentes do mundo melhoram os padrões de vida materiais de mais e mais
cidadãos”.
Indubitavelmente, o tabu
religioso ou ideológico que impossibilita uma análise demográfica mais completa
tem prejudicado o enfrentamento dos grandes problemas ambientais do mundo. Não
dá para separar o consumo global da população global. População e consumo são
os dois lados da mesma moeda. Como explica Herman Daly, em entrevista recente
(2018):
“O impacto ambiental é o produto do número de pessoas vezes que o
uso de recursos per capita. Em outras palavras, você tem dois números
multiplicados um pelo outro – qual é o mais importante? Se você mantiver uma
constante e deixar a outra variar, você ainda está multiplicando. Não faz
sentido para mim dizer que apenas um número é importante. No entanto, ainda é
muito comumente dito. Suponho que faria algum sentido se pudéssemos nos
diferenciar histórica e geograficamente – para determinar em que ponto da
história, ou em que país, qual fator merecia maior atenção. Nesse sentido, eu
diria que, certamente, para os Estados Unidos, o consumo per capita é o fator
crucial – mas ainda estamos multiplicando pela população, então não podemos
esquecer a população. No nordeste do Brasil, por outro lado, a população estava
– pelo menos na época em que morei lá – crescendo extremamente rápido, então
talvez seja na demografia que a ênfase deveria ser colocada”.
Portanto, para evitar um
colapso ambiental decorrente do superconsumo e da superpopulação, a única
solução holística é o decrescimento demoeconômico. Neste momento em que a
humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra, somente a redução do
consumo global e da população global pode evitar um “Armageddon ecológico” e o
“Holocausto biológico”. Como diz, certa vez, Jacques Cousteau: “O superconsumo
e a superpopulação estão por trás de todos os problemas ambientais que
enfrentamos hoje”.
O desafio global mais candente
e que requer senso de urgência é a reversão do rumo insustentável do modelo de
produção e consumo mundial. É preciso abandonar a “crescimentomania” (doença do
crescimento a qualquer custo) e considerar que “menos” é “mais”. Não vale a
pena ficar brigando para saber se os maiores efeitos negativos sobre o meio
ambiente surgem da superpopulação ou do superconsumo. Isto varia de país a
país. Qualquer solução deve reconhecer que a natureza exige menos gente, menos
produção de bens e serviços e menos degradação ambiental. (ecodebate)
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