Colocado diante de manifestação
realizada no seu último livro, o senhor lança o desafio de reduzir as emissões
de dióxido de carbono em 80% até 2020.
Na sua opinião, quais são os
principais desafios para construir uma economia de baixa emissão de carbono,
então aduz, “o mercado faz várias coisas bem, mas uma das coisas que não faz é
incorporar impactos indiretos da queima de combustíveis fósseis. Por exemplo,
ele não inclui o custo da mudança climática no preço da energia gerada pelo
petróleo ou no preço da gasolina. Assim, os preços seriam muito mais altos do
que são e, portanto, mais honestos e verdadeiros. Quando compramos um galão de
gasolina nos EUA, pagamos pela extração do petróleo, o transporte do produto
para uma refinaria, a produção da gasolina e então, o transporte da gasolina
para uma estação servil. Não se contabiliza o custo da mudança climática. Se
reestruturarmos os tributos, reduzindo o imposto de renda e aumentando a
taxação de atividades ambientalmente destrutivas, podemos levar o mercado a
contar a verdade ambiental. Ao fazermos isso, a economia energética começará,
muito rapidamente, a se reestruturar e a responder aos sinais de preço do
mercado. Essa é a medida mais importante para nos mover em direção a uma
economia de baixa emissão de carbono. Enquanto isso, precisamos subsidiar o
desenvolvimento das fontes renováveis de energia – eólica, solar e geotérmica –
com impostos atraentes”.
Sobre como fica o Protocolo
de Kyoto nessa perspectiva, argumenta “há mais de uma década, houve a negociação do Protocolo de Kyoto”.
Agora estamos próximos de negociar um sucessor para o acordo que expira em
2012. Minha conclusão é que acordos climáticos, negociados internacionalmente,
não dão certo. A razão para isso é simples. Nenhum governo concorda em fazer
mais do que os outros países se dispõem a fazer. O resultado é um acordo com
padrões mínimos. O próprio Protocolo de Kyoto constitui um bom exemplo disso.
Deveríamos ter nos afastado dele com algumas metas de cortes de emissões
dramáticas, mas não o fizemos.
Concordamos
que os países industrializados cortassem as emissões em torno de 7%. O fato é
que a maioria deles não está nem perto de atingir essa meta de percentual.
Acredito que não temos tempo para continuar negociando novos acordos climáticos
para reduzir as emissões de carbono. Por isso, temos que pensar em uma maneira
de diminuir drasticamente as emissões. Se quisermos ter uma chance decente de
salvar a civilização, teremos que cortar as emissões de carbono algo em torno
de 80% até 2020. “Isso soa ousado, mas está começando a gerar uma mobilização
semelhante a dos tempos de guerra para reestruturar a economia energética dos
EUA e mudar a matriz”.
Questionado sobre quais os
caminhos alternativos aos acordos internacionais, referiu “acredito em ações locais.
Muitos governos começarão a cortar rapidamente as emissões de seus países. Na
Nova Zelândia, por exemplo, a primeira ministra Helen Clark tomou decisões
importantes, independentemente de qualquer negociação internacional. Seu país
se comprometeu a aumentar o uso de fontes renováveis para geração de energia
elétrica dos atuais 70% para 90% até 2020. Também assumiu o compromisso de
reduzir pela metade o uso de combustível para carros por habitante até 2040.
Vai plantar cerca de 200 mil hectares de árvores, algo em torno de 31 árvores
por habitante, número significativo para o sequestro de carbono. Nos EUA,
observa-se um extraordinário movimento político, especialmente nos últimos 18
meses, de oposição às novas usinas termoelétricas alimentadas com carvão. E
esse movimento tem influenciado Wall Street. Alguns dos maiores bancos, como o
JP Morgan, o CitiBank e o Morgan Stanley, entre outros, criaram os “Carbon
Principles”. Com base neles, afirmaram que não financiarão mais empresas de
energia para a construção de novas usinas termoelétricas a carvão, a não ser
que esses projetos possam demonstrar a viabilidade econômica das plantas,
depois que o governo americano impor restrições às emissões de carbono. Mas
como ninguém sabe quais seriam essas restrições e os custos para atendê-las,
não há como mostrar a viabilidade econômica dos projetos”.
Por fim, sobre quais deveriam
ser os principais desafios para um estilo de vida mais sustentável nas cidades,
Lester Brown assevera, “pela primeira vez na história da humanidade existem mais pessoas
vivendo nas cidades do que fora delas. Em decorrência disso, estamos
vivenciando crises em questões fundamentais como a mobilidade. As tecnologias
de transporte funcionam em comunidades-modelo. Cresci em uma comunidade de
fazendeiros onde sem os carros teríamos enorme dificuldade de locomoção. Mas à
medida que os carros se multiplicam nas cidades, descobrimos que eles promovem,
na verdade, a imobilidade. Em Londres, por exemplo, a velocidade média de um
carro é menor do que a de uma carruagem do século 20. Ainda sim, investimos
grandes quantias de dinheiro em carros que podem andar mais rápido. Por isso,
as grandes cidades de países ricos e em desenvolvimento estão repensando os
transportes. A melhor alternativa é o transporte público rápido. A experiência
do sistema de ônibus de Curitiba é um modelo inspirador para prefeitos de
vários lugares do mundo. Observo com interesse o que as cidades estão fazendo
para abrir espaço ás bicicletas. Na China, por exemplo, houve um movimento na
direção de substituir as bicicletas pelos carros. Mas, diante das evidências de
que isso não daria certo, já se planeja seriamente como restaurar o equilíbrio
entre os dois tipos de veículo”.
(ecodebate)
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