A
Revolução Industrial e Energética que teve início no final do século XVIII
possibilitou um grande crescimento demoeconômico, viabilizando a melhoria das
condições de vida da maioria da população mundial. As taxas de mortalidade
infantil caíram significativamente enquanto aumentava a esperança de vida ao
nascer. Houve um grande avanço da educação e uma ampliação e diversificação do
consumo. Nada disto seria alcançado sem uma ampla disponibilidade de energia,
pois foram os combustíveis fósseis que possibilitaram os avanços
civilizacionais dos últimos 250 anos.
Mas
a queima de carvão, petróleo e gás, junto com o desmatamento, amplificou a
emissão de gases de efeito estufa, fazendo acelerar o aquecimento global. A
elevação da temperatura média da terra vai provocar diversos fenômenos que
ameaçam a existência da vida na Terra. Temperatura mais alta vai acelerar o
degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares, elevando o nível dos oceanos
e ameaçando a vida de mais de 2 bilhões de pessoas que vivem nas regiões
costeiras. Vai também provocar a acidificação dos solos e das águas destruindo
a vida marinha e dificultando a produção de alimentos. As ondas letais de calor
vão deixar diversas partes do Planeta inabitáveis.
Por
conta de tudo isto, o Acordo de Paris se comprometeu em manter o aumento da
temperatura a 1,5ºC em relação ao período pré-industrial. Porém, conforme
mostra o gráfico abaixo, a trajetória das emissões de CO2 indica que
o aquecimento pode ultrapassar 4ºC ou chegar a 5,4ºC até 2100, o que seria uma
catástrofe de grandes proporções.
Evidentemente,
é preciso reverter urgentemente a trajetória ascendente das emissões de CO2.
Para se atingir as metas do Acordo de Paris as emissões líquidas precisam ser
zeradas até meados do século. Mas, mesmo com emissão zero, a alta concentração
do carbono já emitido pode ser suficiente para atingir temperaturas muito
elevadas.
Portanto,
além de reduzir as emissões é preciso sequestrar o carbono da atmosfera.
Existem várias tentativas de fazer isto por meio da geoengenharia. Mas até
agora as soluções são caras e ineficientes.
Todavia,
de acordo com um novo estudo publicado na Revista Science (Bastin et. al.
05/07/2019), restaurar as florestas do mundo em uma escala sem precedentes é a
melhor solução mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Os pesquisadores
afirmam que a cobertura de 900 milhões de hectares de terra – aproximadamente o
tamanho dos EUA – com árvores, poderia armazenar até 205 bilhões de toneladas
de carbono, cerca de dois terços do carbono que os seres humanos já colocaram
na atmosfera. Ou seja, uma catástrofe climática poderia ser evitada se em vez
de desmatar houvesse reflorestamento global.
Havia
6 trilhões de árvores no mundo no passado. Mas a humanidade destruiu a metade
das florestas desde o crescimento exponencial da população e da economia. O
número de árvores no mundo hoje em dia está em torno de três trilhões de
unidades, segundo o mesmo estudo citado (Bastin et. al. 05/07/2019). Mas o pior
é que os seres humanos estão destruindo 15 bilhões de árvores por ano, enquanto
o aparecimento de novas árvores e o reflorestamento é de somente 5 bilhões de
unidades. Ou seja, o Planeta está perdendo 10 bilhões de árvores por ano e pode
eliminar todo o estoque de 3 trilhões de árvores em 300 anos.
Desta
forma, é preciso estancar imediatamente a sangria do desmatamento e reverter
este processo plantando árvores que funcionam com sorvedouros de carbono. A
humanidade tem o dever moral (e o instinto de sobrevivência) de repor aquilo
que ela destruiu. Em vez de continuar a marcha insensata de aumento indefinido
do consumo de bens conspícuos, os seres humanos precisam cortar as taxas de
fecundidade e elevar as taxas de reflorestamento e refaunação da vida selvagem.
A
economia mundial precisa perder sua obsessão pelo crescimento e perceber que a
humanidade já ultrapassou os limites da resiliência do Planeta. As atividades
antrópicas já ultrapassaram 4 das 9 fronteiras planetárias, sendo que duas
delas, a Mudança climática e a Integridade da biosfera, são o que os cientistas
chamam de “limites fundamentais” e tem o potencial para conduzir o Sistema
Terra a um novo estado que pode ser substancialmente e persistentemente
transgredido. O agravamento destas duas fronteiras fundamentais pode levar a
civilização ao colapso.
Artigo
de Mark Kinver (BBC News, 12/09/2019) mostra que um acordo global histórico
destinado a interromper o desmatamento falhou. Uma avaliação da Declaração de
Nova York sobre Florestas (NYDF) diz que ela não cumpriu as promessas-chave.
Lançado na cúpula climática da ONU em 2014, visava reduzir à metade o
desmatamento até 2020 e atingir o desmatamento zero até 2030. No entanto, o
desmatamento continua a um ritmo alarmante e ameaça agravar as mudanças
climáticas perigosas. Desde que o NYDF foi lançado há cinco anos, o
desmatamento não apenas continuou, como também acelerou. A quantidade anual de
emissões de gases de efeito estufa, resultantes do desmatamento em todo o mundo
é equivalente, aos gases de efeito estufa produzidos pela União Europeia. Em
média, uma área de cobertura de árvores do tamanho do Reino Unido foi perdida
todos os anos entre 2014 e 2018. A perda de florestas tropicais representa mais
de 90% do desmatamento global, com o hotspot localizado nas nações da Bacia
Amazônica da Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru.
O
relatório “Protecting and Restoring Forests: A Story of Large Commitments”
(Five-Year Assessment Report, September 2019) mostra que o desmatamento está
piorando, cinco anos depois que países e empresas prometeram impedi-lo. Se
existiam dúvidas sobre os números do desmatamento (como mostrou Fred Pearce,
Yale 360, 09/10/2018), os dados atuais são claros em mostrar o grau de
degradação da cobertura vegetal global.
Portanto,
cinco anos após ingressar em um compromisso histórico para parar de cortar as
florestas do mundo, governos e empresas não estão reduzindo a velocidade do
desmatamento, assim como estão rapidamente levando ao desaparecimento de mais
árvores. As florestas continuam sendo desmatadas a um ritmo alarmante (ver
gráfico abaixo), impulsionado principalmente pela expansão agrícola e pela
demanda por carne bovina, óleo de palma e soja. “Estamos perdendo a batalha para
impedir o desmatamento”, disse Craig Hanson, vice-presidente do Instituto de
Recursos Mundiais.
Plantar
árvores e restaurar a vida selvagem é não só um dever ético, mas também uma
tábua de salvação para a própria humanidade. Mas de nada adianta plantar
árvores se o ser humano continuar na sua marcha louca e insensata para colocar
mais gente no mundo e gente que vai aumentar o consumo de água, alimentos,
moradia, transporte, lazer e que vai pressionar a Pegada Ecológica bem acima
dos limites da Biocapacidade do Planeta. Como disse Kenneth Boulding: “um
crescimento infinito é incompatível com um mundo finito”.
O
fato é que o crescimento das atividades antrópicas tem se dado às custas da
biodiversidade e do empobrecimento dos ecossistemas. Depois de 250 anos de
expansão da sociedade urbana-industrial, o mundo está esbarrando nos limites do
crescimento econômico. Como mostrou Herman Daly (05/09/2014), as atividades humanas já
ultrapassaram os seus limites econômicos planetários e entraram em uma fase de
“crescimento deseconômico”. Para estabelecer o equilíbrio é preciso haver
decrescimento até o ponto de intercessão entre as curvas de utilidade marginal
e desutilidade marginal. Depois de restaurado o equilíbrio, a adoção de uma economia de estado estacionário permitiria evitar se ultrapassar novamente o limite econômico sustentável. O Estado
Estacionário, em um ponto anterior ao crescimento deseconômico, é
um seguro contra o risco de uma catástrofe ecológica.
Mas se houver decrescimento econômico com crescimento da
população haverá redução da renda per capita e um agravamento da crise social,
pois as elites econômicas não aceitarão perdas neste processo de salvar o meio
ambiente (ou podem boicotar decisivamente o processo de recuperação dos ecossistemas).
Portanto, o decrescimento econômico deve ser acompanhado pelo decrescimento da
população.
A redução da população mundial não é nenhuma tarefa
impossível. Pelo contrário, basta que a taxa de fecundidade total (TFT) fique
meio filho (0,5) abaixo da projeção média para que a população mundial
apresente grande redução. A projeção média da ONU estima uma população global
de 10,9 bilhões de habitantes em 2100, com a TFT caindo dos atuais 2,5 filhos
por mulher para 2 filhos por mulher no final do século. Contudo, se a taxa
ficar meio filho menor, a população mundial atingiria cerca de 7,5 bilhões de
habitantes em 2100, conforme mostra o gráfico abaixo. E poderia apresentar um
declínio muito maior no século XXII.
Para Herman Daly, as atividades humanas já ultrapassaram
os limites econômicos do Planeta e entraram em uma fase de “crescimento
deseconômico”. Para estabelecer o equilíbrio é preciso haver decrescimento até
o ponto de intercessão entre as curvas de utilidade marginal e desutilidade marginal.
Depois de restaurado o equilíbrio, que a restauração das 6 trilhões de árvores
e a recuperação da vida selvagem, a adoção de uma economia de estado estacionário permitiria evitar se ultrapassar novamente o limite econômico sustentável. O Estado Estacionário,
em um ponto anterior ao crescimento deseconômico, é uma “apólise
de seguro” contra o risco de uma catástrofe ecológica. (ecodebate)
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