As
emissões brasileiras de gases-estufa ficaram praticamente estáveis em 2018 em
relação ao ano anterior. Ocorreu um pequeno aumento de 0,3%. O país, contudo, é
o sétimo maior poluidor do planeta e ainda não tem uma trajetória consistente
de redução de emissões. A avaliação faz parte da sétima coleção do Sistema de
Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Os dados foram
divulgados dia 05/11/19, em São Paulo.
De
fato, pelos dados do sistema de alerta de desmatamento Deter, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a tendência é de alta na derrubada da
floresta.
Tasso
Azevedo, coordenador do SEEG, lembra que entre agosto de 2017 a julho de 2018,
o Deter registrou 4.500 km² de desmatamento. Já o Prodes – o dado oficial do
desmatamento no Brasil – fechou o valor em 7.500 km².
O
dado deste ano do Deter (até julho) soma 6.833 km² de desmatamento.
“Historicamente, os dados do Prodes costumam ser 30% maiores”, diz Azevedo. Em
agosto, setembro e metade de outubro de 2019, o Deter já apontou para 3.500 km²
de desmatamento.
Em
2018, o Brasil registrou emissões brutas de 1,94 bilhão de toneladas de CO2
equivalente. Ocorreu aumento nas emissões causadas pelo desmatamento na
Amazônia (8,5%), mas redução na destruição do Cerrado (10%). No balanço, as
emissões por mudança do uso da terra, que representaram 44% das emissões
brasileiras em 2018, cresceram 3,6%.
As
emissões do setor de energia caíram 5%. A explicação é o forte aumento no uso
de biocombustíveis transporte de passageiros causado tanto pelo aumento no
consumi de etanol quando pela obrigação de se adicionar biodiesel ao diesel. E
ainda pelo aumento de energias renováveis na geração elétrica, explicou Felipe
Barcellos e Silva, analista de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente
(IEMA).
Choveu
muito, as hidrelétricas foram muito acionadas em detrimento das termelétricas
fósseis. Por isso, foi a primeira vez que as fontes não hídricas ultrapassaram
as fósseis na matriz elétrica”, diz ele, citando principalmente energia eólica,
biomassa e solar. Este grupo foi a segunda maior fonte de eletricidade no
Brasil em 2018.
O
setor da agropecuária ficou em segundo lugar nas emissões brasileiras (25% do
total). Registrou pequena queda de 0,7%, puxada pela diminuição do rebanho
nacional. A alta no preço internacional fez com que o gado passasse a ser
abatido mais cedo, explicou Ciniro Costa Júnior, do Imaflora. Desta forma, a
emissão de metano do gado (gás-estufa muito mais nocivo que o CO2)
foi reduzida.
“Existe
grande diferença entre a natureza das emissões do Brasil e a dos outros grandes
emissores, à exceção da Indonésia”, indicou Ricardo Abramovay, professor da
Faculdade de Economia e Administração da USP. Enquanto a redução das emissões
dos países desenvolvidos, da China e da Índia dependem de grandes investimentos
em ciência e tecnologia (porque a maior fonte de emissões é a energia), o
esforço brasileiro tem que ser no combate ao desmatamento.
“Para
interromper o desmatamento não precisamos fazer grandes esforços em ciência e
tecnologia”, disse Abramovay. “Mas estamos avançando em direção ao aumento das
emissões pelos piores métodos. É vergonhoso”, lamentou.
O
Brasil não irá cumprir a meta para 2020 de reduzir em 80% a taxa de
desmatamento na Amazônia, prevista pela lei nacional de mudança do clima. “Já
tínhamos uma situação delicada antes do desmonte da governança ambiental
promovido pelo atual governo”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do
Observatório do Clima, rede de 47 ONGs e movimentos que lidam com a agenda
climática.
O
desmatamento provoca distorções no perfil brasileiro de emissões, diz material
do SEEG distribuído à imprensa. É pela mudança no uso da terra que a emissão
per capita do brasileiro (9,3 toneladas brutas) é maior que a média mundial
(7,2 toneladas em 2018). Um paraense, do Estado campeão de emissões, emite
quatro vezes mais do que um americano.
“A
emissão média mundial per capita em 2050 deverá ser de menos de 1 tonelada de
CO2 equivalente”, diz Azevedo, se o que se quer é cumprir o que foi
acertado no Acordo de Paris. (biodieselbr)
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