Futuro da Índia: o país mais populoso
do mundo e sem água potável.
“Precisamos nos preocupar com a
explosão populacional” - Narendra Modi, 15/08/2019.
A população indiana era de
376 milhões de habitantes em 1950, representando 14,8% da população mundial de
2,5 bilhões de habitantes, ficando atrás apenas da população chinesa que era de
554 milhões de habitantes. No ano 2000, a China chegou a 1,29 bilhão de
habitantes, e a Índia chegou a 1,1 bilhão, representando 17,2% da população
mundial de 6,1 bilhões de habitantes. Na segunda metade do século XX, a
população da Índia cresceu em ritmo superior ao ritmo de crescimento da
população da China e da média mundial.
Atualmente, a Índia está
perto de se tornar o país mais populoso do mundo. Segundo as projeções médias
da Divisão de População da ONU, a Índia deve ultrapassar a China em 2027,
quando a primeira deve estar com 1,47 bilhão e a segunda com 1,46 bilhão de
habitantes. A população da Índia representará 17,6% da população mundial de 8,3
bilhões de habitantes em 2027. No restante do século a população indiana
continuará acima da população chinesa, mas deve crescer menos do que a média
mundial. O pico da população indiana ocorrerá no ano de 2059, com 1,65 bilhão
de habitantes. Em 2100, a China terá uma população de 1,06 bilhão e a Índia 1,45
bilhão de habitantes, representando 13,3% da população global de 10,9 bilhões
de habitantes.
Portanto, a Índia será o país
mais populoso do mundo a partir de 2027 e, mesmo apresentando um decrescimento
a partir de 2059, se manterá no topo da lista dos países com maior volume
demográfico, devendo manter um montante populacional mais do que o dobro da
população da América Latina e Caribe (ALC), na segunda metade do século XXI.
A economia da Índia é também
uma das que mais crescem no mundo. Em 1980, o PIB indiano (em poder de paridade
de compra) representava apenas 2,9% do PIB global. Mas em 2019 já representava
8,1% do PIB global. Apesar de ser um país de renda média baixa, a Índia tem
conseguido reduzir a pobreza e a mortalidade infantil e tem aumentado a renda
per capita e a esperança de vida.
Contudo, o crescimento
demoeconômico tem ocorrido às custas do empobrecimento do meio ambiente. A
Índia tem as cidades mais poluídas do mundo e os agricultores indianos sofrem
com a degradação ecológica. A crise ambiental pode comprometer o futuro do
país.
Um dos problemas mais sérios
é a falta d’água e o estresse hídrico. Artigo de Saikat Datta, no site Asia
Times (02/07/2019), mostra que a Índia está caminhando para um “apocalipse da
água” e vislumbra um futuro sombrio. O autor mostra que a combinação de
mudanças climáticas, más políticas e falta de governança está levando a Índia a
uma crise catastrófica da água que ameaça a estabilidade no sul da Ásia.
Estudos recentes documentam
que as geleiras que alimentam os rios do subcontinente indiano recuam
rapidamente, enquanto o rápido esgotamento das águas subterrâneas representa um
desafio existencial para a agricultura. As monções do sudoeste continuam sendo
a maior fonte de água na região. As monções levam a uma combinação de fontes de
água que sustentam a economia, incluindo geleiras, irrigação de superfície e
água subterrânea. Mas a redundância e o excedente tem desaparecido deste
sistema, outrora abundante. Em seu lugar, há escassez galopante.
Estudos científicos indicam
que se a temperatura global subir 2,7º C, metade das geleiras do Himalaia
desaparecerá. E se a atual taxa de aquecimento global continuar e as
temperaturas subirem 6 graus centígrados, dois terços das geleiras derreterão.
Isso tem implicações dramáticas para a Índia, China, Paquistão, Nepal e
Bangladesh.
O artigo também mostra que se
o derretimento das geleiras é uma má notícia, a perspectiva é pior quando se
trata de águas subterrâneas que é a maior fonte de água no Sul da Ásia. No
entanto, a maioria dos governos se recusa a aceitar isso como uma realidade.
Como resultado, há uma sucessão de políticas ruins que pioraram as coisas.
Estudos indicam que 21 grandes cidades indianas ficarão sem água nos próximos
anos.
De fato, o estresse hídrico já
está presente na realidade indiana. A Índia testemunhou inúmeras secas e
dificuldades socioeconômicas nas últimas décadas, mas agora são agravadas pelas
mudanças climáticas.
Matéria de Vinayak Bhat, no
site The Print (06/07/2019) mostra que diversas cidades são vítimas da escassez
de água, especialmente água potável. Os exemplos abaixo são realmente
alarmantes:
Chennai, a capital de Tamil Nadu, a sexta maior
cidade da Índia, vive momentos dramáticos. Imagens de satélite do mesmo dia com
um ano de intervalo – 15 de junho de 2018 e 2019 – são a prova do problema. O
nível da água no lago Puzhal, um reservatório alimentado pela chuva que
contribui para o fornecimento de água potável à cidade, apresenta um forte
contraste entre dois momentos no tempo.
A cidade de Bhopal, no centro
da Índia, situada no cinturão de ondas de calor, tem seus níveis de água se
esgotando extraordinariamente rápido, agravado devido ao gerenciamento
inadequado da água. O lago Bhojtal, conhecido como Upper Lake, é uma das principais
fontes de água da cidade. O lago está espalhado por 2.400 hectares e pode
armazenar mais de 360 bilhões de litros de água a uma profundidade média
aproximada de 15m. Mas as imagens de satélite tiradas em maio de 2017 e junho
de 2019 mostram a diferença alarmante nos níveis de água do lago que, agora,
mal cobre 700 hectares.
A cidade de Latur, que fica
na região de Marathwada, em Maharashtra, está uma das regiões mais secas da
Índia. As imagens do lago Kava (que é alimentado pela chuva), de junho de 2018
e 2019, mostram o quão ruim a situação ficou com a crise hídrica. O lago, com
80 hectares, secou completamente, e a única opção para os cidadãos é a água
fornecida pelos trens.
O maior lago de Bengaluru,
Bellandur, faz parte do sistema de drenagem da cidade. Imagens de satélite a
partir de 2001 indicam como a invasão reduziu o tamanho do lago Bellandur. Ele
costumava cobrir mais de 1.000 hectares, mas agora está reduzido para cerca de
40 hectares.
Os climatologistas preveem um
cenário mais dramático no futuro. No verão de 2019, a Índia foi atingida por
uma onda de calor e as temperaturas ultrapassaram 50ºC no norte do país. Pelo
menos 100 pessoas morreram devido às temperaturas excessivas. Neste ritmo, várias
partes do país podem ficar inabitáveis e sem água, pois está cada vez mais
difícil conciliar o crescimento demoeconômico com a preservação do meio
ambiente.
A Índia já é o terceiro maio
emissor de gases de efeito estufa (GEE), atrás da China e dos Estados Unidos.
Na próxima década emitirá mais do que todos os países juntos da União Europeia
e pode ultrapassar os EUA. Na Cúpula da Ação Climática da ONU, ocorrida entre
21 e 23 de setembro de 2019, o país não se comprometeu com a emissão líquida
zero de GEE até 2050, pois embora esteja investindo muito em energias
renováveis, também continua investindo nas indústrias altamente poluidoras de
carvão.
A Índia já teve uma das
civilizações mais importantes da história. O país tenta voltar a ser
protagonista no cenário internacional e tenta dar um salto no desenvolvimento,
melhorando a qualidade de vida para os seus habitantes. Mas a crise hídrica e a
degradação ambiental já estão impactando as taxas de crescimento econômico e
podem inviabilizar o sonho de uma Índia prospera e sem pobreza no futuro.
(ecodebate)
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