Retornam as alegações do
risco de internacionalização da Amazônia, inclusive servindo de lastro para
acusar os ambientalistas, ONGs e críticos da devastação, como se estivessem a
soldo de interesses escusos. Como pano de fundo, supostos inimigos externos
interessados em ocupar a nossa Amazônia.
Aliás, frequentemente falamos
da nossa Amazônia, das ameaças à nossa Amazônia, dos desafios da nossa Amazônia
e por aí vai, sempre esquecendo que a região não é apenas nossa. O eterno
argumento em defesa da “nossa Amazônia” contra a internacionalização é um
equívoco, porque, composta por 8 países, a Amazônia continental já é
internacionalizada.
Então, com um pouco de
geografia básica, percebe-se que a nossa Amazônia não é só nossa e não corre
risco de ser “internacionalizada”, pois já pertence a mais oito países
vizinhos. Precisamos é agir em parceria em sua defesa, pelo seu desenvolvimento
e pela conservação de seus recursos naturais. Devemos ter a responsabilidade de
compreender que os equívocos de nossas políticas públicas (ou da ausência
delas) na conservação e uso sustentável da “nossa amazônia” afetam diretamente
mais 8 países e, indiretamente, todo continente e, em seguida, todo o planeta.
A omissão das autoridades, a
falta de uma compreensão real e efetiva do que seja desenvolvimento
sustentável, a descontrolada expansão da fronteira agropecuária e a atuação
impune e, agora, incentivada de garimpeiros, grileiros e madeireiros, são
claros componentes da sua devastação. A expansão irresponsavelmente
descontrolada da fronteira agropecuária está devastando o presente e pode
exterminar o futuro, não apenas do cerrado e da Amazônia, como de toda a
agricultura sustentável de nosso país.
Todas as autoridades
públicas, têm a obrigação de saber disto e atuar na defesa dos interesses
nacionais, sem apelar para o fácil argumento de um pretenso inimigo externo,
como justificativa para a ocupação e exploração irresponsável.
Mais uma vez reafirmo que
compreendo o desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo,
economicamente inclusivo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é
sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento.
E continuaremos repetindo à exaustão que este
equivocado modelo de desenvolvimento é apenas um processo exploratório,
irresponsável e ganancioso, que atende a uma minoria poderosa, rica e
politicamente influente.
Por outro lado, o discurso do
risco de internacionalização, com invasão pelos marines e tudo mais, apenas
serve à direita desenvolvimentista, que sempre usa pretensas ameaças externas
como justificativa do que quer que seja. É importante lembrar que a ditadura
militar cansou de usar o pseudo-argumento “Integrar para não entregar”, na
tentativa de justificar a ocupação desordenada da Amazônia, raiz de sua
devastação.
Todos os recursos da
Amazônia, a nossa e dos outros, já estão à disposição do mercado internacional,
tendo em vista a perpetuação de nossa pauta colonial de exportação de produtos
primários, que corresponde a mais de 50% de nossas exportações. Ninguém precisa
nos invadir simplesmente porque já vendemos tudo aos “melhores” preços, sem que
isto tenha realmente contribuído para a melhoria dos indicadores sociais e
econômicos da região.
Não há qualquer recurso
natural que já não esteja à disposição dos interesses econômicos, nacionais e
transnacionais.
Além dos discursos e bravatas
pouco ou nada fazemos de real pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia, da
nossa e dos nossos vizinhos, além de não temos uma verdadeira estratégia de
integração com os demais países amazônicos.
Para que a “nossa” Amazônia
seja realmente nossa, precisamos retoma-la dos grileiros, madeireiros ilegais,
agro gananciosos, garimpeiros ilegais e outros devastadores, incluindo
políticos que ainda agem como donatários das Capitanias Hereditárias. Ela será
nossa na exata medida em que formos efetivamente responsáveis pelo seu destino.
Não creio que corremos o risco real de ter a
“nossa” Amazônia invadida em prol da governança global, mas certamente teremos
problemas nas relações multilaterais, no acesso aos financiamentos
internacionais e no boicote aos nossos produtos e serviços, inclusive
justificando uma renovada onda protecionista. Este é um risco real e imediato.
Não há como negar que seremos
cobrados e muito. Cobrados e com razão. Mas ainda temos tempo e oportunidade de
dizer a nós mesmos, antes de dizer ao mundo e aos nossos vizinhos, que somos
capazes de agir com responsabilidade e seriedade. (ecodebate)
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