Como
previsto em projeções sobre o aquecimento do clima, o número de espécies
diminuiu no equador e aumentou nas regiões subtropicais desde os anos 1950. Os
resultados da pesquisa liderada pela Universidade de Auckland, na Austrália,
mostram que todas as 48.661 espécies estão obedecendo esta tendência, mas que
os animais que vivem em águas abertas (pelágicos), como peixes, moluscos e
crustáceos, estão se movendo mais em direção ao Polo Norte do que os animais
que habitam o fundo do mar (bentônicos). Segundo o estudo, a falta de uma
mudança semelhante no hemisfério sul se deve ao fato de o aquecimento dos
oceanos ser maior no hemisfério norte do que no sul.
Os
trópicos sempre foram considerados estáveis e com uma temperatura ideal para a
vida. O que a nova pesquisa sugere é que os trópicos estão se tornando
instáveis e progressivamente quentes demais para muitas espécies.
Esta
informação é crítica para o Brasil, que hoje desconhece a situação da vida
marinha em sua costa, quase totalmente localizada em águas tropicais. O último
Boletim Estatístico sobre o tema foi publicado há dez anos pelo então
Ministério da Pesca e Aquicultura, hoje transformado em uma Secretaria do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Um levantamento publicado pela ONG Oceana em dezembro de 2020 mostra que não existem informações sobre a situação de 94% dos 118 estoques de espécies-alvo da frota brasileira. A organização também verificou que apenas 3% dos estoques pesqueiros do país possuem limites de captura estabelecidos, e somente 8,5% deles estão incluídos em Planos de Gestão.
Confirmando projeções
Estudo
que mostra o afastamento da vida marinha das águas tropicais tem origem na
pesquisa de doutorado da escritora Chhaya Chaudhary na Universidade de
Auckland. As informações usadas foram obtidas a partir do Ocean Biodiversity
Information System (OBIS), banco de dados mundial de acesso livre liderado pelo
professor Mark Costello, da mesma universidade e coautor da pesquisa. Essa
mesma base de dados foi usada no esforço global para a criação do primeiro
Censo da Vida Marinha, concretizado em 2010.
Costello
é um dos principais autores do atual 6º Relatório de Avaliação do Painel
Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC). No ano passado, o professor foi
coautor de outro artigo mostrando que embora a biodiversidade marinha tenha
atingido o auge no equador durante a última era glacial, há 20 mil anos, ela já
havia se achatado antes do aquecimento global industrial. Naquele estudo, os
cientistas utilizaram registros fósseis de plâncton marinho enterrado em
sedimentos de mar profundo para acompanhar a mudança na biodiversidade ao longo
de milhares de anos.
A nova
pesquisa mostra que este achatamento não apenas continuou no século 20, como o
número de espécies nas zonas equatoriais agora despenca.
“Nosso
trabalho mostra que a mudança climática causada pelo homem já afetou a
biodiversidade marinha em escala global em todos os tipos de espécies. A
mudança climática está conosco agora, e seu ritmo está acelerando”, afirma
Costello. “Podemos prever a mudança geral na diversidade de espécies, mas
devido à complexidade das interações ecológicas, não está claro como a
abundância das espécies e a pesca mudarão com a mudança climática.”
“A
diminuição do número de espécies no equador não significa que a vida marinha
está se extinguindo do planeta. Em vez disso, significa a extirpação, ou perda
local dessas espécies”, explica David Schoeman, coautor da pesquisa e professor
da University of the Sunshine Coast, em Queensland, Austrália.
“As espécies tropicais ‘desaparecidas’ provavelmente estão perseguindo seu habitat térmico em águas subtropicais quentes, exatamente como previmos em um documento publicado em 2016 e como demonstrado em registros fósseis de 140 mil anos atrás, quando as temperaturas globais eram tão quentes quanto são agora”, avalia o pesquisador.
O impacto das alterações climáticas na biodiversidade marinha.
Schoeman
alerta que o planeta suportou nos últimos 50 anos apenas uma fração do
aquecimento esperado até 2050. “O número decrescente de espécies nos trópicos
pode se expandir para um número decrescente de espécies nos subtrópicos”.
(ecodebate)
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