O conceito de desenvolvimento
humano é uma das melhores alternativas de avaliação do desenvolvimento
econômico e ambiental de um país.
Mais importante do que um
alto índice de desenvolvimento econômico, uma nação precisa saber de que forma
seus cidadãos estão interagindo com a natureza, com as pessoas e consigo mesmo.
Deste ponto vista, o desenvolvimento humano é capaz de gerar uma consciência ambiental
que induz cada indivíduo a reconhecer seu importante papel na preservação do
meio ambiente, com vistas a proporcionar qualidade de vida para a atual e
futuras gerações.
Após a Revolução Industrial e
com a consequente e desordenada utilização dos combustíveis fósseis, o mundo
passou a emitir, descontroladamente, grandes quantidades de gases causadores do
efeito estufa na atmosfera. Somente em meados do século passado, tomamos a
consciência de que algo urgente necessitava ser feito para reverter esta situação
e foram buscadas ações que pudessem ensejar a efetiva proteção do meio
ambiente, afetado, principalmente, pelo desenvolvimento econômico acelerado.
A ciência nos mostra que
existe um equilíbrio térmico na terra mantido pelos principais gases que compõem
nossa atmosfera que são Dióxido de Carbono (CO2), Ozônio (O3),
Gás Metano (CH4) e Óxido Nitroso (N2O). Entretanto, o
excesso de tais gases faz com que parte dos raios infravermelhos que entram na
terra fiquem retidos causando o aquecimento global. Este processo é conhecido
como efeito estufa e suas consequências interferem de forma direta no clima da
terra e seus ecossistemas. A grande demanda por energia e a falta de recursos
naturais configuram um cenário de crescente preocupação para alguns países,
pois tendem a aumentar a quantidade de emissão destes gases e os danos causados
pelo aquecimento global.
Os efeitos do aquecimento global podem causar grandes prejuízos para a terra, principalmente, o aumento de temperatura, o aumento do nível dos mares e o derretimento das geleiras. O aquecimento global tornou-se uma verdade para todo o mundo, seus efeitos para o presente e futuro podem comprometer todo o modo de vida e produção da Terra. A economia mundial também não deixa de contabilizar seus prejuízos advindos do aquecimento.
Sabemos hoje, por meio de inúmeros estudos desenvolvidos pela ciência, que combater o aquecimento global e suas implicações climáticas é bem mais compensador do ponto de vista econômico que reagir contra os prejuízos advindos das alterações climáticas. Hoje existe o entendimento global de que o Produto Interno Bruto (PIB) mundial poderá reduzir-se de forma brusca se não houver uma ação conjunta de estado, sociedade e de empresas.
Em resposta ao apelo
ambiental e às condições climáticas adversas em que a terra está inserida, a
Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Cúpula da Terra
ou Rio-92, reconheceu a existência das mudanças climáticas e que os países
devem atuar para sua redução, sendo que os países desenvolvidos deveriam
promover a redução dos Gases de Efeito Estufa (GEE) e financiar a sua redução
nos países mais pobres.
Em 1997, realizou a
conferência de Quioto, no Japão, que teve como resultado a criação de um
Protocolo que levou o nome do lugar de sua criação. O Protocolo de Quioto teve
como principal objetivo o estabelecimento de metas para redução de gases
poluidores emitidos pelos países signatários (192 países). As medidas que foram
encaminhadas a partir deste e de outros encontros sobre o tema, permitiram a
criação de um mercado de reduções de emissões mais conhecido como Mercado de
Créditos de Carbono ou Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Este mecanismo permite que os
países industrializados adquiram créditos de emissão (direitos de emissão),
através de financiamento de medidas de redução das emissões em países em
desenvolvimento que não possuem metas de redução. Tais medidas contribuem,
também, para o desenvolvimento sustentável dos países beneficiários. O
mecanismo possibilita que o país “financiador” emita mais gases, enquanto o
país “beneficiado” implemente as medidas para redução dos efeitos e, em
contrapartida, receba investimento e se beneficie da transferência de
tecnologia.
Este assunto é de extrema relevância para o mercado financeiro, sobretudo pelas consequências decorrentes da negligência das ações necessárias, que podem ocasionar prejuízos muitas vezes irreparáveis tanto para a economia como para a sociedade em geral. Nas mais diversas formas de discussões pode se prever que a questão ambiental será sempre levada em consideração, seja em discussões políticas, econômicas ou sociais.
As expectativas para o mercado de carbono são as mais promissoras possíveis. Este mercado apresentou forte crescimento nas últimas décadas e impulsionou o surgimento de novas e criativas formas de avaliação dos empreendimentos financeiros e econômicos como, por exemplo, o Environmental, Social e Governance (ESG), que permite avaliar o grau de aderência dos diversos projetos aos padrões sociais e ambientais requeridos pelo desenvolvimento sustentável.
O próprio amadurecimento dos
mercados fará com que o nível de exigência da capacidade dos profissionais que
neles atuam, seja mais elevado e as oportunidades geradas não serão poucas.
Contudo, para aproveitá-las, serão necessários um vasto conhecimento sobre os
mecanismos que propicie o desenvolvimento sustentável.
Precisamos lembrar que todos
esses novos instrumentos de flexibilização visam integrar a proteção ambiental
ao desenvolvimento econômico-financeiro da humanidade. Podemos até concluir que
se esta integração for ignorada todas as políticas de proteção ambiental
estarão fadadas ao fracasso no médio e longo prazo.
Podemos entender todo esse
movimento como uma solução emergencial, mas não definitiva. Existe uma
dicotomia a ser mais bem estudada entre o resultado esperado pela sociedade e o
resultado esperado pelo investidor. Para a sociedade a adoção dessas medidas
supera a pura lógica do retorno financeiro, resultando em ganhos sociais e para
o meio ambiente. A motivação dos investidores está diretamente ligada aos
resultados financeiros dos empreendimentos, partindo do pressuposto de que as
melhores práticas de sustentabilidade apresentam, em longo prazo, maiores
retornos financeiros.
Para o Brasil, todo este
movimento significa uma grande oportunidade não só de negócios, mas também de
implementar um plano nacional de preservação de suas florestas, fomentando a
criação de vários projetos de redução de emissões. Recentemente, o próprio
presidente da República fez pronunciamento na cúpula do clima reafirmando o
compromisso brasileiro com as políticas de preservação ambientais. Os demais
líderes das nações, presentes na referida cúpula (cerca de quarenta), também
apresentaram declarações que afirmam o compromisso conjunto de defesa das
políticas ambientais visando o desenvolvimento sustentável.
Com efeito, é fundamental que busquemos uma interação eficiente entre o mercado financeiro e de capitais com as políticas de preservação ambientais, para que possamos atingir o almejado grau sustentável de desenvolvimento social e econômico. Este desafio cabe a nós, cientistas, estudantes, profissionais e agentes do mercado, mediante a criação de critérios objetivos de avaliação propiciando parâmetros aceitáveis de análise de risco e retorno, como forma de atrair os investidores e impulsionar as boas práticas de governança, favorecendo um círculo virtuoso com a criação de valores para as futuras gerações.
Conectando finanças e desenvolvimento sustentável.
César Bergo é Coordenador da
Pós-Graduação em Mercado Financeiro e Capitais da Faculdade Presbiteriana
Mackenzie Brasília (FPMB) e presidente do Conselho Regional de Economia da 11ª
Região. Especialista em governança corporativa, sociólogo e economista, com
atuação no mercado financeiro há mais de 30 anos. (ecodebate)
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