Diversos setores precisam
encaminhar ações que implantem sistemas de logística reversa dos produtos e
embalagens pós-consumo, priorizando o retorno para um novo ciclo de
aproveitamento. As informações deste artigo abordam a evolução dos sistemas de
logística reversa já implantados e com resultados expressivos e públicos
disponíveis.
Embalagens de defensivos
agrícolas
O Sistema Campo Limpo do
Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias – inpEV destinou
corretamente 31.266 toneladas em 2010 e evoluiu para 45.563 toneladas em 2019,
das quais 94% foram enviadas para reciclagem e 6% para incineração. Este volume
representa 94% do total das embalagens primárias comercializadas. O sistema
possui 411 unidades fixas divididas entre 304 postos e 107 centrais de
recebimento. Também realiza coletas itinerantes nos municípios que não possuem
capacidade mínima para instalação de unidades fixas ou distantes das
existentes. Além destas embalagens primárias, 131 toneladas de sobras
pós-consumo também foram incineradas.
Embalagens de óleos
lubrificantes
O programa de logística
reversa do Instituto Jogue Limpo está presente em 18 estados e no Distrito
Federal, abrange 4.310 municípios, com 47.452 geradores cadastrados e 28.147
geradores ativos. Entre os anos de 2010 e 2019, a destinação adequada das
embalagens plásticas de óleo lubrificante aumentou em quase quatro vezes e
passou de 1.149 toneladas de embalagens recebidas e 1.118 toneladas recicladas
em 2010, para 5.036 toneladas recebidas e 4.718 toneladas recicladas em 2019
equivalentes a 100.720.866 embalagens.
Isto corresponde a 97,3% em
2010 e 98,5% em 2019 de reciclagem do total recebido. O sistema tem 177 Pontos
de Entrega Voluntária, 65 deles inaugurados em 2019 e estão localizados em 13
das 19 unidades da federação onde o sistema atua. Também, realiza coletas
itinerantes nos municípios com população inferior a 15.000 habitantes.
Pneus usados
Desde o início do programa da
Reciclanip em 1999 até 2019 cerca de 5,23 milhões de toneladas de pneus
inservíveis foram coletados e destinados de forma correta, volume equivalente a
1,04 bilhões de pneus de carros de passeio. Os pontos de coleta dos pneus
inservíveis nos municípios brasileiros passaram de 576 em 2010 para 1.053
estabelecimentos em 2019, no entanto desde 2017 não são ampliados.
Além do aumento da capacidade
logística, neste período ampliou-se em 50,96% a quantidade de pneus recuperados
que passou de 312.000 toneladas em 2010, para 471.000 toneladas em 2019.
Lâmpadas fluorescentes de
vapor de sódio e mercúrio
A Associação Brasileira para
Gestão da Logística Reversa de Produtos de Iluminação – RECICLUS criada em 2016
é responsável pela logística reversa das lâmpadas fluorescentes no Brasil. No
último Relatório Anual de 2018, o sistema está presente em 254 cidades em 26
estados mais o Distrito Federal. Tem 80 empresas associadas com 1.390 pontos de
coleta7 instalados que atendem cerca de 45% da população de acordo com os
critérios estabelecidos no Acordo Setorial firmado com o Ministério do Meio
Ambiente.
Em 2018, aproximadamente
2.464.527 lâmpadas foram destinadas de forma ambientalmente correta, das quais
1.103.018 referem-se às lâmpadas compactas e 1.361.509 às lâmpadas tubulares,
equivalente a 161.040,6 e 198.780,4 Kg, respectivamente. Somando-se o total
destinado pela RECICLUS até 2018 cumpriu-se 4,6% da meta de recolhimento
firmada no Acordo Setorial que estabelece a destinação final adequada para 20%
das lâmpadas colocadas no mercado nacional em 2012 até 2021 – equivalente a 60
milhões de lâmpadas.
Com isso, observa-se um aumento expressivo em comparação ao ano anterior devido à maior disponibilidade de PEVs – Pontos de Entregas Voluntárias, parcerias firmadas e consolidação do programa. Considerando que as lâmpadas compactas são compostas por aproximadamente 5 mg de mercúrio por unidade e as lâmpadas tubulares por 9 mg por unidade, foram recuperados 17.768,68 gramas – cerca de 17,8 kg – de mercúrio para destinação adequada no ano de 2018.
Embalagens em geral
O Acordo Setorial para
Implantação do Sistema de Logística Reversa de Embalagens em Geral está em
vigor desde 2015 com 20 associações que representam 3.786 empresas dos setores
de papel, plástico e alumínio. A Coalizão Embalagens é a entidade gestora da
elaboração do sistema que foi dividida em duas fases: A primeira ocorreu entre
2015 e 2017 e seus resultados foram divulgados pelo Sistema Nacional de
Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos – SINIR¹, a segunda fase
prevista para início 90 dias após o término da Fase 1 com a formalização do
Plano de Implementação pela Coalizão, mas estes resultados não estão disponíveis.
Vários Termos de Compromisso
estaduais foram firmados. O Estado de São Paulo na Fase 2 assinou mais três
Termos de Compromisso para logística reversa de embalagens em geral além dos
três já existentes. No âmbito Federal, o Ministério do Meio Ambiente – MMA
lançou a consulta pública da proposta do “Termo de compromisso para
implementação de ações voltadas à economia circular e logística reversa de
embalagens em geral”, que estabelece metas para o uso de materiais recicláveis
e compostáveis na produção de embalagens, a incorporação de matérias primas
recicladas pós-consumo e modelos alternativos de embalagens retornáveis
plásticas ou refis.
Disponível aqui: http://www.sinir.gov.br/documents/10180/23979/
Relatorio+Final+Fase+1/348c0aad-efc0-457a-9c6a-ee46d623dcf8.
Medicamentos
Os medicamentos vencidos ou
em desuso são classificados como resíduos perigosos – Classe 1 e possuem
potencial de contaminação do meio ambiente e da saúde pública se descartados
incorretamente. O Brasil é o sétimo país que mais consome medicamentos no mundo
e até 2023 pode chegar à quinta posição. Mas a logística reversa destes
resíduos no país não avançou desde a promulgação da Política Nacional de
Resíduos Sólidos em 2010, mesmo com esforços do governo federal e dos governos
estaduais. Em 2013, os Ministérios da Saúde e Meio Ambiente publicaram um
Edital de Chamamento para elaboração de um Acordo Setorial para a estruturação
e implantação de um sistema de logística reversa nacional. Contudo, mesmo com a
prorrogação do prazo em 2014 nenhuma proposta foi assinada.
O Governo Federal promulgou o Decreto nº 10.388 de 05/-6/2020 que regulamenta o fluxo para descarte e destinação adequados de medicamentos domiciliares vencidos ou em desuso. Em duas fases, o sistema prevê que todas as capitais do Brasil e os municípios com população superior a 500 mil habitantes sejam contemplados com os pontos de coleta no prazo de dois anos. Nos municípios com população superior a 100 mil habitantes, o prazo é 5 anos.
Eletroeletrônicos e componentes
O Brasil é o quinto maior
gerador de resíduos eletroeletrônicos do mundo e o segundo maior no continente
americano após os Estados Unidos (The Global E-waste monitor, 2020). Em 2019
foram geradas 2,1 milhões de toneladas no país, o equivalente a 10,2 kg por
habitante.
Mas apesar do volume
expressivo, a logística reversa destes resíduos não corresponde aos desafios.
Em outubro de 2019 foi assinado um Acordo Setorial para implantação da
logística reversa de produtos eletroeletrônicos de uso doméstico e seus
componentes para estruturar, implantar e operacionalizar este sistema em todo o
país. Em fevereiro de 2020, o Decreto Federal nº 10.240/2020 estabeleceu normas
para a logística reversa obrigatória, com previsão de alcançar todo o mercado
nacional, especialmente empresas e associações que não foram signatárias do
Acordo Setorial de 2019.
Em 2019 a Green Eletron
coletou e destinou corretamente mais de 514 toneladas de resíduos
eletroeletrônicos, das quais 342,9 toneladas correspondem aos resíduos
eletrônicos – em sua maioria, acessórios de computadores como teclados, mouses,
carregadores, cabos – e 171,2 correspondem a pilhas e baterias. Além da
destinação correta dos resíduos, o sistema reaproveitou cerca de 100 toneladas
de metais ferrosos e não ferrosos e reciclou 47,5 toneladas de plástico,
evitando a emissão de 69 toneladas de CO2. Quanto aos Pontos de
Entrega Voluntária – PEVs, o sistema conta com 104 para os eletroeletrônicos e
2.245 para pilhas e baterias.
Baterias de chumbo-ácido
As baterias de chumbo-ácido
utilizadas em automóveis são compostas por placas de chumbo e uma solução de
ácido sulfúrico, componentes com alto potencial de contaminação se descartados
incorretamente. Estão previstas na logística reversa e já possuíam resolução
prevendo seu gerenciamento adequado anterior à promulgação da Lei 12.305/2010 –
Política Nacional de Resíduos Sólidos, através da Resolução Conama nº 401/2008.
Em 2019, o Acordo Setorial assinado pelos fabricantes e seus representantes, recicladores, distribuidores, comerciantes e a entidade gestora Instituto Brasileiro de Energia Reciclável – IBER prevê a implantação de postos e serviços de coleta, transporte, armazenamento e destinação final ambientalmente adequada, a recuperação do chumbo-ácido com sua reinserção na cadeia produtiva, a reciclagem dos outros insumos como os plásticos e a recuperação e/ou reutilização da solução eletrolítica. Segundo dados do SINIR, 275.250 das 372.986 toneladas de baterias colocadas no mercado foram recolhidas em 2019, o que representa 74% do total.
Embalagens de aço
As embalagens de aço
previstas para a logística reversa são as originadas em alimentos de consumo
humano, pratos prontos, bebidas, conservas e óleos comestíveis, rações para
cães e gatos, cosméticos, tintas imobiliárias, rolhas e tampas, entre outras. A
entidade gestora do sistema é a PROLATA Reciclagem, criada em 2012 pela
ABEAÇO/Associação Brasileira de Embalagens de Aço e a ABRAFATI/Associação
Brasileira dos Fabricantes de Tintas.
A logística reversa destas embalagens foi organizada através de um Termo de Compromisso Federal em dezembro de 2018. O Programa realizou a destinação final ambientalmente adequada de mais de 31 mil toneladas de embalagens nos últimos cinco anos e deixou de emitir cerca de 118 mil toneladas de CO2 na fabricação de aço novo. Está presente em 36 municípios de 12 estados em todas as regiões do país e no Distrito Federal. Além dos 9 PEVs próprios da PROLATA instalados na Baixada Santista, o Programa atua em parceria com 50 cooperativas de catadores e já soma 28 PEVs denominados Retorna Machines, que troca as embalagens por pontos que podem ser revertidos de diversas formas.
Este é o sexto artigo de uma série sobre o panorama dos resíduos sólidos no Brasil no período 2010-2019. (ecodebate)
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