As regiões costeiras da Antártida e suas águas geladas
circundantes são o lar da maior espécie de pinguins do mundo, os
pinguins-imperadores (Aptenodytes forsteri). No entanto, se as emissões de
gases de efeito estufa continuarem a crescer no ritmo atual, levando ao aumento
da temperatura global e ao encolhimento progressivo do gelo marinho, o local
corre o risco de se tornar um dos mais inóspitos para essas aves: sua população
diminuiria lentamente até cerca de 2040 e, em 2100, 98% de suas colônias já
estariam extintas.
As estimativas alarmantes foram publicadas no
periódico científico Global Change Biology em 03/08/21. A investigação, que
contou com a participação de uma equipe internacional de ecologistas,
cientistas do clima e especialistas em políticas ambientais, é descrita pelos
autores como a “melhor evidência científica” obtida até o momento para entender
como as mudanças climáticas poderão afetar as populações de
pinguins-imperadores, cuja sobrevivência depende intimamente do gelo marinho.
A pesquisa apresenta projeções a respeito de todas as
colônias conhecidas dessas aves, considerando cenários distintos e plausíveis
de aquecimento global, que vão desde um aumento de 4,3º C em relação aos níveis
pré-industriais até 1,5ºC, como estipula o Acordo de Paris até o final do século.
A partir de registros inéditos de satélites, a análise também incluiu, pela
primeira vez, avaliações sobre os efeitos de eventos climáticos extremos entre
os pinguins-imperadores.
Distribuídos quase exclusivamente entre os 66º e os 77º de latitude Sul na região antártica, esses animais vivem em um delicado equilíbrio com o meio ambiente: se houver muito gelo marinho no local, os filhotes correm o risco de se afogar; o excesso de água congelada, por sua vez, torna as viagens para trazer comida do oceano muito mais longas e árduas, o que pode levar os pequenos à morte enquanto esperam pelo retorno dos pais.
Trio de gráficos ilustra o rápido declínio na cobertura do gelo marinho na região da Antárctica e nas populações de pinguins-imperador entre os anos de 2050, 2080 e 2100.
De acordo com o estudo, se o gelo marinho continuar
diminuindo conforme as tendências atuais de emissões de gases de efeito estufa,
a resiliência, a redundância e a representação (3Rs) dos pinguins-imperadores —
aspectos relacionados à persistência das espécies, como demografia,
distribuição espacial e diversidade — seriam drasticamente reduzidos até o
final do século 21, quando todas as colônias teriam desaparecido. Antes disso,
em 2050, a espécie já se encontraria em perigo de extinção em uma parte
significativa de sua área de distribuição, independentemente do cenário de
emissão.
"Dada a dependência da espécie do gelo marinho
para reprodução, muda e alimentação, a ameaça mais importante para os
pinguins-imperadores é a mudança climática, que levaria à perda de gelo marinho
na Antártida ao longo deste século", avalia Marika Holland, cientista
climática do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, nos Estados Unidos, e uma
das autoras da investigação. "As tendências no aquecimento e consequentes
perdas de gelo marinho até o final do século são claras e unidirecionais em
todas as projeções de todos os modelos climáticos", destaca, em
comunicado.
Ameaçados de extinção
Para os pesquisadores, os novos dados reforçam a necessidade da inclusão dos pinguins-imperadores na Lei de Espécies Ameaçadas nos Estados Unidos (ESA, na sigla em inglês), uma das peças legislativas tidas como mais evoluídas no que diz respeito à proteção de espécies mundo afora.
Modelo climático projeta declínios significativos no gelo marinho da Antárctica, ao qual o ciclo de vida dos pinguins-imperadores está intimamente ligado.
Embora essas aves não se abriguem no território dos
EUA, a equipe acredita que sua listagem poderia garantir que as atividades das
agências federais norte-americanas na região, incluindo aquelas que envolvem
emissões de gases de efeito estufa, não prejudiquem os pinguins ou seu habitat.
“A proteção dos pinguins-imperadores sob a ESA poderia desempenhar um papel
influente em fóruns internacionais de gestão da conservação e nas decisões
políticas”, acrescenta o documento.
Os autores do estudo reforçam ainda que, devido à alta
vulnerabilidade às mudanças climáticas, o pinguim-imperador também deve ser
visto como uma “espécie sentinela”, que alerta para os impactos que o
aquecimento global desenfreado poderá causar em outras espécies na Antártida.
“A ação mais importante para garantir a viabilidade
contínua dos pinguins-imperadores é reduzir rapidamente as emissões de GEE
[gases de efeito estufa] para limitar o aquecimento posterior”, sugere a
pesquisa. “As decisões de política climática de curto prazo durante esta década
que atingirem com sucesso as metas do Acordo de Paris forneceriam um refúgio
para o pinguim-imperador, interrompendo o declínio dramático da população
global. O futuro dos pinguins-imperadores e de toda a biota da Terra depende,
em última análise, das decisões tomadas hoje”, concluem os pesquisadores.
(revistagalileu.globo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário