terça-feira, 5 de outubro de 2021

Mudança climática aumentará a mortalidade por calor na Europa

Se o aquecimento global não for restringido, o aumento das mortes relacionadas ao calor superará o declínio da mortalidade relacionada ao frio, especialmente na Bacia do Mediterrâneo.

Vários estudos sugerem que o aquecimento global levará a uma diminuição da mortalidade atribuível ao frio e ao aumento das mortes causadas pelo calor. Agora, um novo estudo do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), um centro apoiado pela Fundação “la Caixa”, concluiu que, se medidas de mitigação fortes não forem implementadas imediatamente, a mortalidade global relacionada à temperatura na Europa aumentará nas próximas décadas.

De acordo com o novo estudo, publicado no The Lancet Planetry Health, o declínio das mortes atribuíveis ao frio não compensará o aumento rápido esperado da mortalidade relacionada ao calor.

Após analisar dados de mortalidade e temperatura registrados em 16 países europeus entre 1998 e 2012, os pesquisadores concluíram que mais de 7% de todos os óbitos registrados nesse período eram atribuíveis à temperatura. Temperaturas frias tiveram maior impacto na mortalidade do que temperaturas quentes por um fator de 10.

No entanto, projeções baseadas na modelagem epidemiológica indicaram que, se medidas efetivas de mitigação não forem introduzidas imediatamente, essa tendência poderá ser revertida em meados do século, levando a um aumento acentuado da mortalidade atribuível ao calor.

Usando os dados de 1998-2012 como base, a equipe combinou quatro modelos climáticos para fazer projeções até o final deste século sob três diferentes cenários de emissão de gases de efeito estufa.

Aquecimento global aumenta a frequência e mortalidade das ondas de calor.

“Todos os modelos apresentam um aumento progressivo das temperaturas e, consequentemente, uma diminuição da mortalidade atribuível ao frio e um aumento das mortes atribuíveis ao calor”, explicou a pesquisadora do ISGlobal Èrica Martínez,principal autora do estudo. “A diferença entre os cenários está na taxa em que as mortes relacionadas ao calor aumentam. Os dados sugerem que o número total de mortes atribuíveis à temperatura se estabilizará e até diminuirá nos próximos anos, mas que isso será seguido por um aumento muito acentuado, o que pode ocorrer em algum momento entre o meio e o final do século, dependendo das emissões de gases de efeito estufa.”

O pesquisador Marcos Quijal, coautor do estudo, comentou: “Nas últimas décadas, o aquecimento ocorreu em uma taxa mais rápida na Europa do que em qualquer outro continente. A incidência desse fenômeno é desigual, com os países do Mediterrâneo sendo mais vulneráveis do que os demais. Nossos modelos também projetam um aumento desproporcional da mortalidade atribuível ao calor nos países do Mediterrâneo, devido a um aumento significativo das temperaturas de verão e a essa maior vulnerabilidade ao calor”.

As projeções indicam um aumento muito grande das mortes devido ao calor extremo. De fato, sob o cenário de maior emissão e não assumindo nenhuma adaptação, as mortes atribuíveis ao calor extremo superariam a mortalidade atribuível ao frio.

“Nossas descobertas ressaltam a urgência de adotar medidas globais de mitigação, uma vez que não serão eficazes se forem adotadas apenas em países ou regiões específicas”, comentou a pesquisadora do ISGlobal Joan Ballester, última autora do estudo. “Além disso, um fator decisivo não incluído em nossos modelos é a nossa capacidade de adaptação a novos cenários, o que já está ajudando a reduzir nossa vulnerabilidade às temperaturas.”

O estudo foi realizado no âmbito do EARLY-ADAPT, projeto financiado pelo European Research Council (ERC) que analisa os fatores ambientais, socioeconômicos e demográficos envolvidos na adaptação às mudanças climáticas. O EARLY-ADAPT tem como objetivo melhorar suas projeções analisando os fatores sociais e as desigualdades na adaptação às mudanças climáticas e incorporando esses fatores em seus modelos climáticos e epidemiológicos.

Este é o primeiro estudo neste campo de pesquisa que se baseia em dados e modelos epidemiológicos em toda a população, em vez de ficar restrito às populações urbanas. Os países analisados foram Áustria, Bélgica, Croácia, República Checa, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Holanda, Polônia, Portugal, Eslovênia, Espanha, Suíça e Reino Unido. (ecodebate)

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