O
gelo marinho ao redor da Antártida apresenta um comportamento complexo.
Essa
camada que congela sobre o Oceano Antártico diminuiu na primeira metade do
século passado, mas depois aumentou nas últimas décadas do século XX. Enquanto
o gelo no resto do mundo diminuía devido às mudanças climáticas o bloco de gelo
ao redor do continente meridional aumentava.
Em
pesquisa recente publicada na revista Nature Climate Change por uma equipe de
pesquisadores da Universidade de Ohio comprovaram que a quantidade de gelo
marinho aumentou até 2015. A despeito das variações anuais, a reta de tendência
dos dados mensais estava sempre direcionada para cima e a inclinação era
positiva.
O
gráfico abaixo mostra os dados relativos ao mês de janeiro. Nota-se que entre
1979 e 2017 a inclinação da reta era de 3,5 + ou – 4,2% por década, mesmo
considerando que em 2016 e 2017 a anomalia ficou abaixo da média do período.
Mas considerando o período 1979 e 2022 a inclinação da reta ficou negativa,
marcando -0,3 + ou – 3,4%. Ou seja, pela primeira vez nas últimas décadas a
Antártida apresenta uma variação negativa no mês de janeiro/22.
O
gráfico abaixo, da National Snow & Ice Data Center (NSIDC), mostra que a
extensão de gelo marinho na Antártida para diversos anos e a média do período
1981-2010. Nota-se que 2017 foi o ano com o recorde de mínimo de gelo ao redor
do continente. Janeiro/22 também apresenta um mínimo parecido com 2017.
Artigo
de Shepherd et. al. , E. et al., publicado na Revista Nature (24/04/2018)
mostra que o balanço de massa de superfície indica uma perda de 2.720 ± 1.390
bilhões de toneladas de gelo entre 1992 e 2017, o que corresponde a um aumento
no nível médio do mar de 7,6 ± 3,9 milímetros. Durante esse período, o
derretimento causado pelo oceano fez com que as taxas de perda de gelo da
Antártida Ocidental aumentassem de 53 ± 29 bilhões para 159 ± 26 bilhões de
toneladas por ano; o colapso das prateleiras de gelo aumentou a taxa de perda
de gelo da Península Antártica de 7 ± 13 bilhões para 33 ± 16 bilhões de
toneladas por ano.
Vinte
anos atrás, uma área de gelo de quase 500 bilhões de toneladas separou-se
dramaticamente do continente antártico e se despedaçou em milhares de icebergs
no Mar de Weddell. A plataforma de gelo Larsen B de 3.250 quilômetros quadrados
era conhecida por derreter rapidamente, mas ninguém havia previsto que levaria
apenas um mês para o comportamento de 200 metros de espessura se desintegrar
completamente.
Agora
em 2022, glaciologistas alertaram que algo ainda mais alarmante estava
acontecendo na camada de gelo da Antártida Ocidental – grandes rachaduras e
fissuras se abriram tanto no topo quanto embaixo da geleira Thwaites, uma das
maiores do mundo. A plataforma Thwaites faz a Larsen B parecer um pingente de
gelo, pois é cerca de 100 vezes maior e contém água suficiente para elevar o
nível do mar em todo o mundo em mais de meio metro.
Neste
quadro, o nível do mar deve subir vários metros até o século XXII, dependendo
dos níveis das emissões futuras e da aceleração do aquecimento global. As
gerações que ainda nascerão vão herdar um mundo mais complicado e mais
inóspito, podendo haver uma mobilidade social descendente em um mundo com
muitas injustiças ambientais, apartheid climático e conflitos de diversas ordens.
O
fato é que o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares já começou e
tende a se acelerar nas próximas décadas. Muitas áreas litorâneas vão ficar
debaixo d’água e os danos sociais e econômicos serão incalculáveis. (ecodebate)
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